segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O CRISTO NA PLENITUDE DOS TEMPOS - Por André Rodrigues




Ao longo desta pesquisa, é possível observar que Jesus foi o Messias esperado. Ele é O Ungido de Deus. Contudo, é necessário ressaltarmos que essa revelação não se dá de modo irresponsável ou relapso. Vimos que, desde a queda do homem, Deus estabelecera uma saída, um escape, uma solução! Isso foi sendo desenvolvido no desenrolar da história do povo de Israel através dos tipos, das profecias, das manifestações teofânicas etc. O que se pode destacar neste contexto é a singularidade dessas revelações cuidadosas de Deus para o povo. Principalmente nos ofícios que foram estabelecidos para a o seu bem-estar espiritual (profetas e sacerdotes) e social (reis), dos quais trataremos mais especificamente no segundo capítulo desta pesquisa.
Quanto à expectativa divina no tocante ao momento peculiar do envio de Seu Filho a este mundo, Cairnes entende que, não somente os judeus, mas também os gregos e os romanos, “contribuíram para a preparação religiosa para a aparição de Cristo” (1995, p. 29). Ainda que o autor considere essas duas últimas influências como negativas, não há como ignorá-las. Ele ressalta literalmente que: A contribuição grega e romana foi, na realidade, negativa, mas em muito contribuiu para levar o desenvolvimento histórico até o ponto em que Cristo pudesse exercer o impacto máximo sobre a história de uma forma até então impossível (IBIDEM). Essas contribuições reúnem diferentes identidades: a romana está relacionada à política; enquanto a grega contribui no aspecto intelectual. Porém, aquela de maior efeito está associada à contribuição religiosa dos judeus: As contribuições religiosas para a “plenitude do tempo”[1] incluem tanto a dos gregos e romanos como a dos judeus. Todavia, por mais importantes que as contribuições de Atenas e Roma, como pano-de-fundo histórico, tenha sido para o cristianismo, as contribuições dos judeus formaram a Herança do Cristianismo. O cristianismo pode ter se desenvolvido no sistema político de Roma e pode ter encontrado o ambiente intelectual criado pela mente grega, mas seu relacionamento com o judaísmo foi muito mais íntimo. O judaísmo pode ser considerado como o botão do qual a rosa do cristianismo abriu-se em flor (CAIRNES, 1995, p. 34).

O judaísmo, explica o autor, trouxe pelo menos seis elementos para o desenrolar desse acontecimento: o monoteísmo, a esperança messiânica, o sistema ético, o Antigo Testamento, a Filosofia da História e a sinagoga. E conclui: Negativamente, através da contribuição do mundo grego e romano, e positivamente através do judaísmo, o mundo foi preparado para a “plenitude dos tempos” quando Deus enviou seu Filho para levar a redenção a uma humanidade partida pelas guerras e fatigada pelo pecado. É significativo que, de todas as religiões praticadas no Império Romano ao tempo do nascimento de Cristo, apenas o judaísmo e o cristianismo tenha conseguido sobreviver ao curso dinâmico da história humana (CAIRNES, 1995, p. 34-36).

Diante dessas informações, cabe-nos, a partir de agora, a apresentação bíblica de como se deu a vinda de Jesus a este mundo para cumprir todas as profecias referentes a Ele no Pacto Passado. A Escritura relata: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe, desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mt 1.18 ARA). Em outro lugar está escrito: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho” (Mt 1.23a ARC), fazendo menção à profecia de Isaías 7.14. Dessa forma, obtemos um relance inicial de conhecimento sobre o nascimento de Jesus.

Escrevendo aos Gálatas, o apóstolo Paulo deixa relevante detalhe para explicar o exato momento do envio do Filho de Deus a este mundo. Ele diz: “[...] vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4 ARA, grifo nosso). A expressão em destaque dá a entender que foi necessário um momento certo para a manifestação desta graça[2]. Um conceituado escritor afirma que plerõma, termo grego traduzido por ‘plenitude’, “[...] é reputado, por alguns comentadores, como vocábulo que se aplica tanto à Igreja[3] como a Cristo; [...] com o pensamento que o plano pré-ordenado por Deus está atualmente prestes a ser consumado” (DOUGLAS, Et All, 2006, p. 1294, 1295). Outro escritor destaca da seguinte forma: As palavras “a plenitude do tempo”, não indicam o período de cumprimento de todas as demais eras, conforme se vê em Efé. 1:10, como se uma era tivesse de completar uma série de eras. Mas antes está aqui em pauta o momento azado em que todo o período pré-messiânico se completou, como que trazendo à luz a manifestação primeira do Messias. A era messiânica, pois, foi o “pleno complemento” da era precedente, bem como aquela que “completou” a expansão de tempo que Deus havia determinado que transpirasse, antes da era da graça vir tomar o seu lugar. O sentido dessas palavras, por conseguinte, é “o momento exato”. Quando chegou o “momento exato” para ser inaugurada a grande dispensação[4] e a revelação da graça, Deus enviou seu filho. Foi o tempo determinado pelo Pai (CHAMPLIN, vol. 4, p. 482).

Tanto Douglas quanto Champlin entendem que Deus manifesta a sua vontade para dar início à dispensação da graça. O primeiro retrata como sendo um “plano pré-ordenado prestes a ser consumado”, o outro, chama de “momento exato”. A explicação é que havia chegado o período certo para tamanha revelação outrora vaticinada. No cumprimento dessa promessa referente ao envio, vem à terra aquele que mudaria o curso deste mundo e se revelaria como o Caminho, e a Verdade, e a Vida - Jesus! (Jo 14.6).

Portanto, conclui-se que essa manifestação trouxe para a realidade dos seres humanos o Messias, Salvador da humanidade, o qual agrega em si os ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei a partir do início de Seu Ministério, como veremos no próximo capítulo.

Artigo extraído de: RODRIGUES, André. O Tríplice Ofício de Cristo: Profeta, Sacerdote e Rei. 2011, Editora Nossa Livraria - PE




[1] Existem duas expressões bastante parecidas que são: “Plenitude do Tempo” e “Plenitude dos Tempos”.  A primeira na colocação de Andrade diz respeito ao “Período de domínio gentílico sobre Israel e, mais particularmente, sobre Jerusalém. Foi exatamente no auge desta era que Jesus Cristo nasceu, desenvolveu o seu ministério, foi crucificado e ressurgiu dentre os mortos (Gl 4. 1-5). Este período começou em 586 a.C., quando os babilônios destruíram Jerusalém, e há de ser encerrado com a implantação do Milênio por Cristo Jesus. Segundo profetizou Nosso Senhor, a cidade de Jerusalém há de ser pisada até que se completem o tempo dos gentios (Lc 21.24)” (2007, p. 299). Já a segunda expressão, no plural, destacada em (Ef. 1.10), “o apóstolo faz alusão à implantação do Reino de Deus, quando todas as coisas hão de ser congregadas em Cristo. Paulo alude tanto ao Milênio quanto ao Estado Eterno. No primeiro caso, Paulo usa o vocábulo crono: o tempo na dimensão humana; no segundo, kairos: o tempo na dimensão divina. O primeiro está ligado à história; o segundo, à eternidade” (ANDRADE, 2007, p. 299, 300).

[2] [Do hb. Hessed; do gr. charis; do lat. gratia] Favor imerecido concedido por Deus à raça humana (ANDRADE, 2007, p. 203).

[3] O contexto de ligação de plerõma, ou seja, ‘plenitude’, inserido na citação, referindo-se à Igreja, encontra-se em Mt 5:17; Mc 1:15, de acordo com o autor da mesma citação.

[4] Concessão; o encargo de uma administração – É o período de tempo durante o qual os homens são provados a respeito da obediência a certa revelação da vontade de Deus (BOYER, 2006, p. 215).




  

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O FENÔMENO DA TIPOLOGIA - Por André Rodrigues




 
Temos o fenômeno da tipologia quando “[...] fatos e pessoas que, no Antigo Testamento, antecipavam o que ocorreria durante o ministério, paixão, morte e ressurreição de Cristo Jesus” (ANDRADE, 2007, p.346). O tipo constitui-se literalmente em estudar “fato ou personagem do AT considerado como símbolo dos fatos ou personagens do NT” (BOYER, 2006, p. 645). Na definição de Bento:


O termo grego typos, da qual se deriva a palavra “tipo”, aparece com diversos significados nos vários textos do Novo Testamento: sinal (Jo 20.25), modelo (Hb 8.5; At 7.44; Rm 5.14; I Pe 5.3)[...], exemplo [modelo] (I Co 10.6; I Ts 1.7; I Pe 5.3), padrão (I Tm 4.12; Tt 2.7). Literalmente o termo significa uma marca visível deixada por algum objeto. Daí a marca deixada na história ou natureza do antítipo (2005, p. 226).
 


Em hermenêutica[1], tipo faz parte do estudo dos métodos literários especiais no qual se destacam também profecia e literatura apocalíptica (VIRKLER, 2007, p. 141). Entretanto, em concordância com Bento na explicação do termo, Virkler diz que “a palavra grega tupos, da qual se deriva a palavra tipo, tem uma variedade de denotações no Novo Testamento” (IBIDEM), mostrando, com isso, que esta palavra é usada com diversos significados no decorrer do Novo Testamento. Virkle aponta que:


[...] tipo é uma relação representativa preordenada que certas pessoas, eventos e instituições têm com pessoas, eventos e instituições correspondentes, que ocorrem numa época posterior na história da salvação. [...] A tipologia baseia-se na suposição de que há um padrão na obra de Deus através da história da salvação. Deus prefigurou sua obra redentora no Antigo Testamento, e cumpriu-a no Novo; o Antigo Testamento contém sombras de coisas que seriam reveladas de modo mais pleno no Novo. As leis cerimoniais do Antigo Testamento, por exemplo, demonstravam aos crentes daquela época a necessidade de expiação por seus pecados: essas cerimônias apontavam para o futuro, para a expiação perfeita a realizar-se em Cristo. A prefiguração é chamada tipo; o cumprimento chama-se antítipo (2007, p. 141, 142).

 

Coenen e Brown ressaltam que, no AT “na LXX typos ocorre somente em 4 lugares”. Enquanto no NT “[...] é achado 14 vezes, mas sem deixar qualquer ênfase especial discernível nos escritos individuais” (2000, p. 2517). Entendemos, portanto, que a representatividade do termo tipo é singular, porque, além de sistematizar e apontar os futuros eventos, tem a capacidade de abrangência nas aplicações sinônimas, objetivando variados usos, de acordo com a necessidade do emprego.
 Neste trabalho, cabe a tipologia cristocêntrica através dos personagens, ou seja, aquela que se relaciona diretamente com pessoas que tipificaram o Cristo. Para uma compreensão mais ampla dessa tipologia, há necessidade de uma breve análise geral.  



Artigo extraído de: RODRIGUES, André. O Tríplice Ofício de Cristo: Profeta, Sacerdote e Rei. 2011, Editora Nossa Livraria - PE



A póxima postagem será sobre A Tipologia do Cristo.

[1] Andrade define como sendo derivado do gr. hermeneutikós, que significa intérprete, e diz ainda que se trata da ciência que tem por objetivo descobrir o verdadeiro significado de um texto (2007, p. 210).

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A MANIFESTAÇÃO DA UNÇÃO - Por André Rodrigues


 

 
 Uma vez definida a diferença das aplicações dos termos Cristo e Messias, e estando cientes de que ambas as palavras significam Ungido nos diferentes idiomas, convém apenas mostrar a importância atribuída à unção nos principais ofícios veterotestamentários, bem como nos objetos sagrados usados no serviço cultual para Deus. Sabemos que o Antigo Testamento apenas apontava para um futuro no qual os fatos seriam perfeitamente concretizados. Sendo assim, vamos analisar os variados aspectos da unção relacionados à pessoa de Jesus, principalmente o referente ao Seu ministério messiânico.
 O derramamento ou simplesmente a aspersão do azeite sobre uma pessoa ou objeto era um costume muito antigo nas práticas de diversas culturas. Fora de Israel, por exemplo, diz Champlim que: “[...] o azeite, uma substância empregada na cozinha, na iluminação, nas lavagens [...], na medicina ou na cosmetologia, também era e continua sendo empregado nos ritos religiosos” (1995, vol. 4, p. 241). É curioso notar que há uma diversidade de usos importantes do azeite e uma estreita relação com a religiosidade neles. Champlin destaca ainda a importância do azeite:


[...] Talvez a sua associação às curas tem sido o grande motivo que levou o azeite a ser usado nas unções dos enfermos. O Dicionário Clássico de Oxford informa-nos que o uso cúltico do azeite é uma das mais antigas práticas de que os homens têm notícia.
 Sabe-se que as estátuas dos deuses eram ungidas no Egito, na Babilônia, em Roma e em outros países da antiguidade. O azeite era usado nas purificações rituais. [...] Talvez a unção fosse praticada no caso dos reis por que esse ofício era mesclado com o do sacerdócio, perfazendo assim uma espécie de sinal divino das funções reais, tendo em vista interesses tanto políticos quanto religiosos. O uso da unção, quando da consagração dos sacerdotes, era uma prática comum em muitas das culturas antigas (IBIDEM).

quarta-feira, 4 de julho de 2012

QUAL A DIFERENÇA ENTRE AS PALAVRAS CRISTO E MESSIAS - Por André Rodrigues





Entendemos que, a partir deste momento, faz-se necessário tratarmos acerca da etimologia das palavras Cristo e Messias de forma mais profunda. É notória a aparente diferença entre esses termos. Não é comum para nós o uso do segundo, em relação ao primeiro. Porém ambos os termos possuem o mesmo significado, só que em idiomas diferentes. Cristo é a forma grega de Messias, que provém do aramaico e hebraico. Na prática, a real diferença está ligada a sua aplicação. A expressão Christos, traduzida na LXX no Antigo Testamento, é entendida como “aquele que fora ungido”. A mesma palavra no Novo Testamento aplica-se a Jesus, o Filho de Deus, como um adjetivo, qualificando-o como O Ungido por excelência.  Já a palavra Messias, usada no Antigo Testamento, é assim definida pelo escritor:


[...] palavra, usada como o título oficial da figura central da esperança judaica, é um produto do judaísmo posterior. Seu uso, naturalmente é validado pelo NT, mas o termo se encontra apenas por duas vezes no AT (Dn 9.25,26) (DOUGLAS, Et all, 2006, p. 860, 861).
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