domingo, 27 de novembro de 2016

UNIÃO EQUIVOCADA - Por André Rodrigues


É preciso entender que igreja é igreja e estado é estado. Cada um possui responsabilidades distintas. Uma junção, além de desnecessária e descabida de referência bíblica é um risco a saúde espiritual da instituição, sobretudo, por princípios de corrupção entranhados na esfera pública. Isso sim é um julgo desigual. Jesus afirmou categoricamente que as portas do inferno não prevaleceriam sobre sua igreja, portanto, qualquer comunhão em prol de defesa é um escárnio a declaração supracitada e uma afronta ao próprio Deus.

DEUS NÃO TOLERA CORRUPÇÃO - Por André Rodrigues

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Deus não tolera corrupção. Ela fere a cláusula pétrea do amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Nela, qualquer que seja o seu grau, geralmente haverá dois agentes, primeiro o que se beneficia e por último o que se prejudica. Na esfera divina, com base na escritura sagrada, isso é inaceitável. Assim, conclui-se que a corrupção dentre inúmeros sinônimos, maltrata; escraviza; faz-se ensoberbecer, se opor, mentir até a última instância. A corrupção desmoraliza! Mata! Procuremos, portanto, não compactuarmos com ela. Deus não tolera corrupção.

sábado, 29 de outubro de 2016

A REFORMA



A reforma começou como um protesto religioso contra algumas práticas e ensinamentos da igreja católica romana no século dezesseis. Essa reforma resultou em vários grupos de protestantes (aqueles que protestavam contra a igreja católica) através da Europa que se desvencilharam da igreja mãe, por estarem fartos da a sua corrupção e controle e por descordarem em pontos chave da teologia. 


SEMENTES DE MUDANÇA 


Idéias de reforma estavam flutuando pela Europa por alguns séculos. John Wycliffe na Inglaterra, Jan Huss em Bohemia, Savonarola na Itália e outros que ousaram falar contra as regras da igreja. No entanto, Martin Lutero começou verdadeiramente o conflito quando em outubro de 1517, martelou as suas noventa e cinco teses (discordâncias de regras da igreja) na porta de todas as igrejas católicas em Wittenberg, Alemanha. A porta da igreja era uma espécie de quadro de avisos, então isso não foi vandalismo - mas poderia ter sido considerado como tal por causa do grande estrago que as críticas de Lutero causaram. 

Qual eram os temas? A igreja estava vendendo indulgências. Grandes doadores podiam comprar perdão para eles próprios ou para aqueles amados que já haviam partido. O dinheiro arrecadado pagaria as dívidas que o novo bispo tinha acumulado quando comprou a sua nova posição. A igreja estava encobertando o esquema pois parte deste dinheiro foi para construir uma nova basílica em Roma. Para Lutero isso só somava a um padrão de corrupção e a uma liderança nada espiritual. Além de achar isso corrupção, Lutero também discutia dizendo que esse era um sistema de obras contrario a mensagem da bíblia de redenção e graça. Naquele tempo, ele não tinha a intenção de deixar a igreja católica ou começar uma nova religião, mas a resposta nada produtiva da igreja o forçou a fazer exatamente isso.

OS PRINCíPIOS DA REFORMA 

Alguns anos antes de começar essa aventura, Lutero estava estudando o livro de Romanos. Foi nessa época que ele finalmente enfrentou a graça de Deus pessoalmente. A igreja não estava ensinando muito sobre graça naquela época: a salvação era merecida por boas obras e observância religiosa, e aparentemente podia-se obter o perdão através de troca. Quando Lutero descobriu o ensinamento bíblico que dizia que "o justo viverá pela fé", a sua vida mudou e consequentemente o mundo também.

Esse princípio - justificação pela fé - formou a base do pensamento reformista. Como era a fé individual de cada pessoas que o ligava com Deus, não havia necessidade de ter um sacerdote ou um papa para mediar o relacionamento. Daí que surgiu o conceito do "sacerdócio do que crê". 

E se cada um que cresse pudesse ficar diante de Deus pessoalmente, então todos poderiam escutar a palavra de Deus e interpretá-la. Nesse caso a bíblia se tornava a autoridade e não as autoridades da igreja. O ato de traduzir o latim empoeirado da igreja para uma linguagem mais atual, se tornou algo muito importante para os reformistas. 

E, como o pão e o vinho não podiam salvar uma pessoa, o conceito da ceia do Senhor mudou para os reformistas. Apesar de diferentes grupos de protestantes terem visões diferentes nesse ponto, todos concordaram que tomar a comunhão não tinha o efeito salvador; era a fé em Cristo que deu o seu corpo e o seu sangue por nós que poderia salvar. 

O IMPACTO DA REFORMA

A reforma protestante mudou completamente a paisagem religiosa do mundo ocidental. A hegemonia católica romana foi quebrada. Os protestantes desafiaram com sucesso um regime opressivo repleto de corrupção. Por outro lado , eles abriram as portas para todos tipos de novas heresias e grupos de vanguarda. Não é de se estranhar que o numero de denominações protestantes continua crescendo ao mesmo tempo em que as novas igrejas se desvinculam das velhas igrejas. A ênfase num relacionamento individual com Deus e a capacidade de interpretação das escrituras criaram um ambiente de vitalidade e criatividade, mas também tinha o potencial para um caos e divisão. 

A reforma também instigou revoluções políticas, acadêmicas, cientifica e filosóficas. Não é por acaso que a reforma veio logo depois da renascença. Em muitos aspectos elas eram o mesmo movimento - uma nova liberdade para as pessoas interagirem com a sua própria verdade. O Humanismo, o individualismo, o nacionalismo e muitos outros "ismos" têm ligações reformistas.

O mundo não contestou muita coisa entre os anos de 480 e 1480, porém, por volta do ano de 1580 estava irreconhecível.


Artigo extraido da ILÚMINA.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

A ENIGMÁTICA ORDEM DE MELQUISEDEQUE - por André Rodrigues


Fica claro que “no Antigo Testamento não havia apenas uma única ordem de sacerdotes, mas duas” (LETHAM, 2007, p. 107): a procedente de Arão e outra, um tanto quanto misteriosa, tendo Melquisedeque[1] como principal personagem[2]. As questões relacionadas a esse “Rei-Sacerdote” dão espaço principalmente às especulações tradicionais da história do povo judeu. Por exemplo: “Uma tradição hebraica diz que se trata de Sem, filho de Noé[3] e sobrevivente do dilúvio – que ainda vivia como o homem mais velho da época no mundo. “Na era patriarcal, ele seria sacerdote de toda a espécie humana” (HALLEY, 2001, p. 92). Somando-se a essa citação, Soares diz que “Muitos rabinos da antiguidade afirmam ser ele Sem, o mais velho sobrevivente do dilúvio, pois se recusam a admitir a idéia de Abraão ter dado os dízimos a um estrangeiro” (2008, p. 116). Toda essa problemática deve-se ao fato de que a menção escriturística acerca de Melquisedeque é restrita, ocorrendo apenas em Gn 14.18ss e Sl 110.4. Portanto, ninguém conhece de modo preciso toda a história desse homem. O que se pode afirmar, com respaldo bíblico resumido, é que Melquisedeque de fato era “o honorável sacerdote-rei de Salém (Jerusalém) [...] que pronunciou uma bênção a Abrão” (LIVINGSTON, Et All, vol. 1, 2009, p. 61, grifo do autor). Um breve relato é ressaltado acerca dele pelo historiador: O rei de Sodoma veio até ele no lugar a que chamam Campo Real, onde o rei de Salém, que agora é Jerusalém, o recebeu com grandes demonstrações de estima e de amizade. Esse príncipe chamava-se Melquisedeque, isto é, “rei justo”. E ele era verdadeiramente justo, pois a sua virtude era tal que, por consentimento unânime, havia sido feito sacerdote do Deus Todo-poderoso. Ele não se contentou em receber apenas a Abraão, mas também a todos os seus. Deu-lhes, no meio dos banquetes que realizou, os louvores devidos à sua coragem e virtude e prestou a Deus públicas ações de graças por tão gloriosa vitória. Abraão, por sua vez, ofereceu a Melquisedeque a décima parte dos despojos que tomara dos inimigos, e este aceitou (JOSEFO, Antiguidades Judaicas, Livro 1º, Cap. 10, p. 92, 93). Dá para se perceber quão complexa é a figura de Melquisedeque. Entretanto, para facilitar a compreensão acerca deste misterioso personagem, outro ponto a considerar é que Melquisedeque é tipo de Cristo, ou seja, exercia um sacerdócio semelhante ao que seria exercido por Jesus no Novo Concerto sacerdotal, ou seja, uma nova dispensação. “Jesus não poderia ser um sacerdote em Israel. Ele não era um membro da tribo de Levi, e menos ainda da família de Arão. Portanto, ele simplesmente não era qualificado” (LETHAM, 2007, p.105). Contudo: Os profetas prediziam que Jesus viria como sacerdote eterno (cf. Sl 110.4). Quando Ele veio, foi identificado como o sumo sacerdote prometido (cf. Hb 2.17; 3.1; 4.14, 15; 5.6,10; 8.1; 10.21). [...] Jesus, como sacerdote conforme a ordem de Melquisedeque, evidencia que o seu sacerdócio não era da Lei, mas sim de uma nova dispensação. Conforme aquela dispensação, Jesus jamais poderia ser sacerdote, porque estes eram todos da tribo de Levi (cf. Nm 18.27; 1Cr 23.13), enquanto Jesus era da tribo de Judá (cf. Hb 7.13,14). Assim, ele foi sacerdote chamado por Deus. “Jurou o Senhor: “Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 7.21). Jesus, sacerdote conforme a ordem de Melquisedeque, chama a atenção para o fato de que Ele, assim como Melquisedeque, era tanto rei como sacerdote. Assim como Melquisedeque foi chamado “rei de justiça” (Hb 7.2), Jesus também o foi (cf. At 22.14; Jr 23.6; 1Jo 2.1). Assim como Melquisedeque foi chamado “rei de paz” (cf. hb 7.2), Jesus também o foi (cf Is 9.6). Nenhum dos sacerdotes levíticos foi sacerdote e rei. Mas Jesus era tanto sacerdote como Rei (cf. Zc 6.13) (BERGSTÉN, 1999, p. 61, 62).  Talvez isso explique o fato de que informações precisas acerca de Melquisedeque tenham sido encobertas, por ser ele exatamente um sacerdote tipo de Jesus, ou seja, um mistério que estaria por revelar-se. Letham afirma que sua pessoa “estimulou desde a antiguidade a imaginação dos judeus” (2008, p. 114). Como tipo do que deveria vir, pensa-se: “Assim como o misterioso rei da época cananeia era também sacerdote, Aquele que se esperava devia também assumir uma função sacerdotal que se elevasse muito acima do sacerdócio ordinário, que não perecesse, mas que fosse eterno” (IBIDEM). Nessa nova dispensação sacerdotal, é possível sim observar sua superioridade em relação à outra. Acerca da antecipação dessa nova ordem sacerdotal à ordem arônica, o autor a seguir faz uma importante declaração: O escritor aos Hebreus chama a atenção, ainda, para alguns detalhes do curto relato do encontro de Abraão com Melquisedeque, como a menção dos dízimos e o fato de Abraão ser abençoado por ele (Gn 14.19, 20; Hb 7.6), revestindo de significado espiritual extraordinário. No sistema arônico, o dízimo era estabelecido pela lei e era tomado do povo (Nm 18.21; Hb 7.5), mas Abraão o fez espontaneamente. Nesse caso até Levi, bisneto de Abraão, pagou dízimo “por que ainda ele estava nos lombos de seu pai, quando Melquisedeque lhe saiu ao encontro” (Hb 7.9). Assim, o patriarca, fundador da nação de Israel, foi abençoado, isso revela sua estatura espiritual visto que “o menor é abençoado pelo maior” (Hb 7.7), mostrando a superioridade da ordem de Melquisedeque (SOARES, 2008, p. 116, 117, grifo meu). É notória uma elevada perfeição na ordem de Melquisedeque, principalmente na pessoa de Jesus como seu antítipo. A explicação dessa superioridade encontra-se na explicação exegética do Salmo 110.4, que nos revela detalhes dessa ordem. O comentarista abaixo, fazendo um paralelo com a carta aos Hebreus, diz: As funções de rei e sacerdote estão combinadas em Senhor. Este versículo é citado seis vezes em Hebreus (5.6, 10; 6.20; 7.11, 15, 21), onde o autor ressalta que o sacerdócio de Cristo é de uma ordem diferente e superior à de Arão, a saber, um sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque. Como tal, ele não depende de linhagem humana (Hb 7.3). Ele era anterior e melhor do que o sacerdócio dos filhos de Levi (7.4-10). Esse sacerdócio indica uma mudança na lei (7.11-12). Ele explica como Jesus, sendo da tribo de Judá e não da de Levi, podia ser sacerdote (7.13-14). Esse sacerdócio era assegurado e fundamentado pelo juramento do Senhor (7. 20-22). E, visto que é eterno, não sujeito a uma sucessão humana de sumos sacerdotes, ele é a base da nossa salvação completa e eterna (7.23-28). Mesmo o nome Melquisedeque é significativo, um aspecto que tornava a terminologia do salmista especialmente importante. Melquisedeque significa “rei da justiça”. Ele foi identificado em Gênesis 14.18-20 como “rei de Salém”, que significa “rei de paz”. Ele era reconhecido como “o sacerdote do Deus Altíssimo” setecentos anos antes de ser instituído o sacerdócio levítico. No sacerdote régio de justiça e paz temos um tipo de Cristo, que unifica nele mesmo as funções de profeta, sacerdote e rei do AT (CHAPMAN, Et All, vol. 3, 2009, p. 283, grifos do autor). Concluímos que, mediante o sacerdócio deste enigmático Melquisedeque, abre-se um precedente tipológico que serviria como exemplo para o ministério sacerdotal de Cristo, o qual transcenderia qualquer ordem anterior ou posterior (caso houvesse). Assim, nessa ordem segundo Melquisedeque, Jesus se destaca como sendo “um grande Sumo Sacerdote, que está de pé e pronto para vir em auxílio dos que passam por provações (Hb 2.18) e ansioso para dar graça para ajudar nos momentos de necessidade (Hb 4.16) (RYRIE, 2004, p. 296).  



[1] Este nome vem de duas palavras hebraicas (melek), “rei” e (tsedeq), “justiça, retidão” (SOARES, 2008, p. 116). Neste caso a palavra significa literalmente Rei de Justiça (BOYER, 2006, p. 429).

[2] Letham (2007, p.107) destaca que o sumo sacerdote Melquisedeque não teve que estabelecer sua legitimidade pelo apelo à antiguidade. Na verdade, todas as referências à antiguidade de Melquisedeque e ao seu período de vida são omitidas em Gênesis, um ponto que é desenvolvido em Hebreus.

[3] Esta possibilidade disposta na tradição judaica entra em contradição com o testemunho neotestamentário, observado pelo escritor aos Hebreus, quando enfatiza: “sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas, sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre” (Hb 7.3, ARC).

Artigo extraído de nosso Livro O Tríplice Ofício de Cristo: Profeta, Sacerdote e Rei  (RODRIGUES, 2011, p. 84 - 89).

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

CÂNON DO NOVO TESTAMENTO


Como no Antigo Testamento, homens inspirados por Deus escreveram aos poucos os livros que compõem o cânon do Novo Testamento. Sua formação levou apenas duas gerações: quase 100 anos. Em 100 d.C. todos os livros do Novo Testamento estavam escritos. O que demorou foi o reconhecimento canônico, isto motivado pelo cuidado e escrúpulo das igrejas de então, que exigiam provas concludentes da inspiração divina de cada um desses livros. Outra coisa que motivou a demora na canonização foi o surgimento de escritos heréticos e espúrios com pretensão de autoridade apostólica. Trata-se dos livros apócrifos do Novo Testamento, fato idêntico ao acontecido nos tempos do encerramento do cânon do Antigo Testamento.

A ordem dos 27 livros do Novo Testamento, como temos atualmente em nossas Bíblias, vem da Vulgata, e não leva em conta a sequência cronológica. 58 Livros desaparecidos, citados no Novo Testamento. Há também livros mencionados no Novo Testamento até agora desaparecidos (1 Co 5.9; Cl 4.16).

a. Ás Epístolas de Paulo. Foram os primeiros escritos do Novo Testamento. São 13: de Romanos a Filemom. Foram escritas entre 52 e 67 d.C. Pela ordem cronológica, o primeiro livro do Novo Testamento é 1 Tessalonicenses, escrito em 52 d.C. 2 Timóteo foi escrita em 67 d.C, pouco antes do martírio do apóstolo Paulo em Roma. Esses livros foram também os primeiros aceitos como canônicos. Pedro chama os escritos de Paulo de "Escrituras" - título aplicado somente à Palavra inspirada de Deus! (2 Pe 3.15,16).

b. Os Atos dos Apóstolos. Escrito em 63 d.C, no fim dos dois anos da primeira prisão de Paulo em Roma (At 28.30).

c. Os Evangelhos. Estes, a princípio, foram propagados oralmente. Não havia perigo de enganos e esquecimento porque era o Espírito Santo quem lembrava tudo e Ele é infalível (Jo 14.26). Os Sinóticos foram escritos entre 60 a 65 d.C. Marcos, em 65. Em 1 Timóteo 5.18, Paulo, escrevendo em 65 d.C, cita Mateus 10.10. João foi escrito em 85. Entre Lucas e João foram escritas quase todas as epístolas. Note-se que Paulo chama Mateus e Lucas de "Escrituras" ao citá-los em 1 Timóteo 5.18; o original dessa citação está em Mateus 10.10 e Lucas 10.7.

d. As Epístolas, de Hebreus a Judas, foram escritas entre 68 e 90 d.C. Quanto à autoria de Hebreus, só Deus sabe de fato. Agostinho (354-430 d.C), bispo de Hipona, África do Norte, afirma que seu autor é Paulo. As igrejas orientais atribuíram-na a Paulo, mas as ocidentais, até o IV século recusaram-se a admitir isto. A opinião ainda hoje é a favor de Paulo. Orígenes (185-254) - o homem mais ilustre da igreja antiga, e, anterior a Agostinho - afirma: "Quem a escreveu só Deus sabe com certeza".

e. O Apocalipse. Escrito em 96 d.C, durante o reinado do imperador Domiciano.
Muitos livros antes de serem finalmente reconhecidos como canônicos foram duramente debatidos. Houve muita relutância quanto às epístolas de Pedro, João e Judas bem como quanto ao Apocalipse. Tudo isto tão-somente revela o cuidado da Igreja e também a responsabilidade que envolvia a canonização. Antes do ano 400 d.C, todos os livros estavam aceitos. Em 367, Atanásio, patriarca de Alexandria, publicou uma lista dos 27 livros canônicos, os mesmos que hoje possuímos; essa lista foi aceita pelo Concilio de Hipona (África) em 393.

Data do reconhecimento e fixação do cânon do Novo Testamento 

Isso ocorreu no III Concilio de Cartago, em 397 d.C. Nessa ocasião, foi definitivamente reconhecido e fixado o cânon do Novo Testamento. Como se vê, houve um amadurecimento de 400 anos.

A necessidade da mensagem escrita do Novo Testamento

A mensagem da Nova Aliança precisava ter forma escrita como a da Antiga. Após a ascensão do Senhor Jesus, os apóstolos pregaram por toda parte sem haver nada escrito. Sua Bíblia era o Antigo Testamento. Com o correr do tempo, o grupo de apóstolos diminuiu. O Evangelho espalhou-se. Surgiu a necessidade de reduzi-lo à forma escrita, para ser transmitido às gerações futuras. Era o plano de Deus em marcha. Muitas igrejas e indivíduos pediam explicações acerca de casos difíceis surgidos por perturbações, falsas doutrinas, problemas internos, etc. (Ver 1 Coríntios 1.11; 5.1; 7.1.)
Os judeus cumpriram sua missão de transmitir ao mundo os oráculos divinos (Rm 3.2). A Igreja também cumpriu sua parte, transmitindo as palavras e ensinos do Senhor Jesus, bem como as que Ele, pelo Espírito Santo inspirou aos escritores sacros. Ele mesmo disse: "Tenho muito que vos dizer... mas o Espírito de verdade... dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir" (Jo 16.12,13).
Dão testemunho da existência de livros do Novo Testamento, em seu tempo, os seguintes cristãos primitivos, cujas vidas coincidiram com a dos apóstolos ou com os discípulos destes:
Clemente de Roma, na sua carta aos Coríntios, em 95 d.C. cita vários livros do Novo Testamento.
Policarpo, na sua carta aos Filipenses, cerca de 110 d.C, cita diversas epístolas de Paulo.
Inácio, por volta de 110, cita grande número de livros em seus escritos.
Justino Mártir, nascido no ano da morte de João, escrevendo em 140 d.C, cita diversos livros do Novo Testamento.
Irineu (130-200 d.C), cita a maioria dos livros do Novo Testamento, chamando-os "Escrituras".
Orígenes (185-254 d.C), homem erudito, piedoso e viajado, dedicou sua vida ao estudo das Escrituras. Em seu tempo, os 27 livros já estavam completos; ele os aceitou, embora com dúvida sobre alguns (Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João).

DATAS E PERÍODOS SOBRE O CÂNON EM GERAL

O Antigo Testamento foi escrito no espaço de mais ou menos 1.046 anos; de 1491 a 445 a.C, isto é, de Moisés a Esdras. A data 445 é apenas um ponto geral de referência cronológica quanto ao encerramento do cânon do Antigo Testamento. Se entrarmos em detalhes sobre o último livro do Antigo Testamento em ordem cronológica - Malaquias, teremos uma variação de espaço de tempo como veremos a seguir. O Pentateuco, como já vimos, foi iniciado cerca de 1491 a.C. Malaquias, o último livro do Antigo Testamento por ordem cronológica, foi escrito após 445, no final do governo de Neemias e do sacerdócio de Esdras. Ora, isto foi a partir de 432, quando Neemias regressou a Jerusalém, procedente da Pérsia, para onde tinha ido em 434, a fim de renovar sua licença (Ne 13.6). É a partir desse ano que Malaquias entra em cena. Quando ele escreveu, talvez Neemias não estivesse mais na Palestina, porque não o menciona em seu livro, como fazem Ageu e Zacarias, profetas seus antecessores, os quais mencionam Zorobabel e Josué, respectivamente, governador e sacerdote dos repatriados. (Ver Zacarias capítulos 3 e 4 e Ageu 1.1.)
Malaquias não menciona nominalmente Neemias, apenas menciona o "Governador" (Ml 1.9). O próprio livro de Malaquias apresenta outras evidências internas que o colocam de 432 em diante, como passamos a mostrar:

a. Em Malaquias 2.10-16, vê-se que os casamentos ilícitos que Esdras corrigira antes de Neemias, em 516 (Ed 9 e 10), estavam ocorrendo outra vez. Isto coincide com o estado descrito em Neemias 13, acontecido em 432.

b. Em Malaquias 3.6-12, havia pobreza no tesouro do templo. Situação idêntica à de Neemias 13, reinante em 432.

c. As referências de Malaquias 1.13; 2.17; 3.14, indicam que o culto levítico já havia sido restaurado há bastante tempo. Essa restauração temo-la ampliada em Neemias 12.44 ss.

Portanto, Malaquias deve ter sido escrito cerca de 432 a.C. Repetimos o que dissemos há pouco: a data 445 é apenas um ponto geral de referência quanto ao encerramento do cânon do Antigo Testamento. Foi esse o ano em que Esdras iniciou seu grande ministério entre os repatriados de Israel. Se descermos a detalhes quanto ao livro de Malaquias, partiremos de 432. Malaquias é o último livro do Antigo Testamento, quanto à ordem cronológica. Quanto à disposição dos livros no corpo do cânon hebraico, o último livro é 2 Crônicas, como já mostramos.
O Novo Testamento foi completado em menos de 100 anos, pois seu último livro, o Apocalipse, foi escrito cerca de 96 d.C. Isto é, dá um total de 1.142 anos para a formação de ambos os Testamentos (1.046 + 96). (Leve-se em conta que a cronologia bíblica é sempre aproximada, pois os povos orientais não tinham um sistema fixo de computação de datas.)
Quando se fala do espaço total de tempo, que vai da escrita do Pentateuco ao Apocalipse, é preciso intercalar os 400 anos do Período Interbíblico ocorrido entre os Testamentos, o que dará um total de 1.542 anos (1.046 + 96 + 400). Por isso se diz que a Bíblia foi escrita no espaço de 16 séculos. Este é o período no qual o cânon foi completado. Noutras palavras: o cânon abrange na História um total de 1542 anos, porém foi escrito em 1.142 anos, aproximadamente.

 A BÍBLIA ATRAVÉS DOS SÉCULOS - ANTÔNIO GILBERTO - 15ª EDIÇÃO 2004 - CPAD

sexta-feira, 22 de julho de 2016

O QUE É O TALMUDE?


A palavra Talmud significa "estudar", "aprender". O Talmud é uma literatura em hebraico e aramaico, que cobre os significados e as interpretações das porções legais do Velho Testamento, assim como dizeres sábios de fontes rabínicas. Ele se estende sobre um período de tempo de um pouco depois de Esdras, por volta de 400 A.C. até aproximadamente 500 a.C.


A ORIGEM E O DESENVOLVIMENTO DA LEI ORAL 

Os judeus tradicionais acreditam que uma Segunda lei foi dada a Moisés adicionando a primeira; essa segunda foi dada oralmente e passada de geração em geração de forma oral. O Talmud em si fala a uma origem primitiva, e Pirke Aboth 1:1 relata que é atribuída a Moisés. 

Outros estudiosos não concordam com essa origem da lei oral e insistem que teve o seu começo e desenvolvimento depois de Esdras. Por exemplo, antes do exílio dos israelitas a Babilônia, não há menção feita pelos profetas sobre um lapso da lei oral. No entanto, as mensagens dos profetas estão cheias de avisos para que eles não abandonassem a revelação escrita dada a Moisés. Nesse período depois de Esdras ("um escriba hábil na lei de Moisés" Esdras 7:6), mestre sucedia a mestre nas sinagogas e escolas, e o seu entendimento do Velho Testamento era apreciado e memorizado. 


Através dos séculos, muitas estratégias de memorização foram aplicadas para aprender e lembrar da crescente massa de opiniões e interpretações. Mas, eventualmente, nem mesmo a melhor memória poderia reter todo o material disponível. Finalmente, foi necessário compilar um resumo de todos os ensinamentos essenciais de gerações precedentes e também fazer de uma maneira para que gerações futuras tivessem acesso ao tesouro imenso de pensamento, sentimento religioso e sabedoria de orientação e inspiração. Essa compilação é conhecida como Talmud, uma reposição da lei oral. O povo judeu o considera em segundo lugar depois das escrituras.


O Talmud é um pedaço de literatura reorganizado como o máximo da criação nacional e religiosa, e continua ter uma influência profunda sobre o desenvolvimento da visão mundial judaica. 


RAZÕES PARA UMA LEI ORAL

Com o fim dos profetas depois do retorno do exílio na babilônia e com o crescimento contínuo da complexidade da vida em Israel e seus relacionamentos com o mundo de fora, apareceu uma necessidade de explicar melhor as leis do Pentateuco (os primeiros cinco livros no Velho Testamento). A primeira intenção, era que a lei oral ajudasse as pessoas a obedecerem a Palavra de Deus. A lei oral contida no Talmud tinha duas funções. Primeiro, provia uma interpretação da Lei escrita - explicando o que ela significava. De acordo com os rabinos, isso era necessário já que a lei oral possibilitava que as pessoas realmente vivessem a lei escrita. O segundo aspecto da lei oral é que ela modifica e procura adaptar a lei escrita para caber em novas circunstâncias e condições.
A lei oral deve fazer a lei escrita um documento usável e atual de geração a geração. Sem a lei oral a lei escrita se tornaria desatualizada. No entanto, a lei oral é necessária para saber o que não fazer e também para enfatizar o que é a boa devoção e lealdade judaica. É verdade que toda geração tem que encarar novas condições sociais, políticas e econômicas, que faz ser necessária uma aplicação diferente da Palavra de Deus. Mas a Palavra de Deus em si não pode ser mudada para acomodar um desejo pessoal ou para interpretar novos problemas em épocas diferentes.

Fonte: Ilúmina

quinta-feira, 14 de julho de 2016

INSPIRAÇÃO, O QUE É?

a) O significado da inspiração 


A palavra inspiração, não sendo bíblica, significa, normalmente, uma influência sobrenatural do Espírito de Deus sobre os autores bíblicos, garantindo que, aquilo que escreveram era precisamente o que Deus pretendia que eles escrevessem para a transmissão da verdade divina, podendo, por isso, dizer-se realmente "inspirados" ou theopneustos, literalmente, "soprados por Deus" (2Tm 3.16). Como já não é novo para nós este assunto, limitar-nos-emos agora a corrigir alguns equívocos.

A "inspiração" que garante a comunicação infalível da verdade revelada é bem distinta da "inspiração" do artista criador. Nada de confusões. A inspiração não só não implica estado anormal do espírito do escritor, por exemplo, visões ou audição de vozes estranhas, como não supõe, também, a aniquilação da sua personalidade. Deus providencialmente preparou os meios humanos de inspiração para que os escritores pudessem cumprir a sua tarefa; e, na maior parte dos casos, apenas através das faculdades normais. Muitos estados de espírito são na realidade compatíveis com a inspiração. Não é necessário supor-se que os autores tinham sempre a consciência de que estavam a ser inspirados, quer dizer, que sabiam estar a escrever as Escrituras Canônicas. Nem há razão para afirmar-se que um documento inspirado não possa, na providência divina, ter sido compilado ou extraído de fontes por um processo vulgar de composição histórica, passando por várias edições até atingir a sua forma definitiva. O que deve admitir-se é que no fim de contas a obra foi theopneustos, e que através dela Deus quis comunicar aos homens a Sua graça salvadora. Sendo assim, só podemos admitir a inspiração verbal. E se as palavras da Escritura são inspiradas por Deus, é quase uma blasfêmia não admitir a infalibilidade da sua doutrina, e a ausência de erro nessas palavras. São prerrogativas que não podemos aprovar, ou desaprovar, através da argumentação vulgar; porque as consideramos artigos de fé, baseadas que são na doutrina de Cristo e no testemunho do Espírito a confirmarem que as Escrituras Canônicas foram inspiradas por um Deus que não pode mentir. Quem as nega rejeita o testemunho de Cristo, dos apóstolos e da própria Igreja Cristã relativo à natureza da "Palavra de Deus" escrita, e com certeza não possui nem compreende o testemunho interno do Espírito Santo.

b) O problema da inspiração

Nenhuma doutrina cristã está isenta de problemas, e isto porque Deus quis que a Sua verdade fosse um objeto de fé. Ora, o fundamento da fé é o testemunho e a autoridade do próprio Deus; donde se segue que são coisas distintas o acreditar numa autoridade e o acreditar em face duma demonstração racional. O pecado original do homem foi um desejo de evidenciar a sua sabedoria auto-suficiente, uma vontade de não admitir qualquer autoridade externa, capaz de agir por si própria (cfr. Gn 3.5,6); e Deus deliberadamente apresenta a verdade salvadora aos pecadores e de tal forma que, ao aceitá-la, supõe-se um ato de arrependimento intelectual de sujeição à doutrina de Deus. Daí a renúncia à própria sabedoria (cfr. Rm 1.22; 1Co 1.19-25) a fim de que só possa sobressair aquela outra sabedoria, que é apanágio dos que ouvem a Palavra do Senhor. Para ser mais completa essa renúncia, Deus determinou, ou melhor, garantiu, que nem um só artigo de fé pudesse ser demonstrado, tal como qualquer teorema geométrico. O homem deve contentar-se com o conhecimento que adquire pela fé, conhecimento esse que, no fim de contas, jamais poderá atingir a perfeição neste mundo. Não conseguiremos, pois, eximir de dificuldades a doutrina da Inspiração Bíblica, tal como sucede com a doutrina da Trindade ou da Encarnação. Nem esperemos neste mundo resolver todos os problemas. Não é de admirar, portanto, que muitos cristãos caiam na heresia, a respeito desta ou doutras doutrinas. Convém, no entanto, indicar qual a atitude a tomar perante os erros que se nos apresentem.

Em primeiro lugar, esta doutrina não raro é amesquinhada por aqueles que dizem professá-la, e afirmam que a Bíblia é produto da inspiração em certo sentido, mas nunca inspiração verbal. Deus inspirou ou revelou a verdade aos escritores, que sendo criaturas falíveis e pecaminosas, poderiam falsificá-la. Por isso, é possível admitirmos erros nas Escrituras. Mas não foi assim, como vimos, o pensar de Cristo e dos apóstolos. É errado o pensamento de que nem todos os livros da Bíblia estão ao mesmo nível de profundidade espiritual e finalidade de doutrina; mas, na Sua providência soberana, podia Deus preparar e dirigir os instrumentos humanos apenas para escreverem precisamente aquilo que entendesse, nem mais nem menos. Por outras palavras, segundo esta teoria, a Bíblia não é aquilo que Deus pretendia, nem aquilo que Cristo pensava e ensinava. É evidente que tal teoria é inadmissível.

Em segundo lugar, rejeita-se por vezes a nossa doutrina, recorrendo-se a pretensos argumentos internos da Bíblia. Tais objeções, todavia, supõem fundamentalmente uma ideia humana a priori daquilo que provavelmente será a Bíblia inspirada. E, só o fato de as apresentar como argumentos válidos para duvidar do que Deus afirma desse livro, é já um sinal de impenitência intelectual, inconsciente talvez, mas não menos real por isso. O melhor é, na realidade, começar por aceitar o testemunho de Deus sobre a inspiração verbal, e só depois examinar os argumentos internos da Escritura para se chegar à conclusão da probabilidade da inspiração verbal. Por mais rigoroso e profundo que seja o exame, verificar-se-á que a inspiração se adapta perfeitamente a todas as formas do pensamento, a todos os métodos literários, a todas as figuras estilísticas e a todas as características vocabulares dos escritores. Estes são os canais condutores da verdade inspirada. Desconhecê-los, pode ser um perigo, pois é possível não se conhecer a intenção de Deus, e nesse caso descobrir erros onde na realidade não existem. Ao estudar-se a Bíblia, deve seguir-se o princípio, baseado na fé, de que a Escritura, em parte alguma é capaz de adulterar a verdade, sendo inspirada para no-la transmitir, e de que todos os acontecimentos bíblicos têm um significado que só a Igreja pode conhecer perfeitamente. Neste caso, é conveniente apreciar o texto a analisar à luz do contexto bíblico da Escritura, considerada no seu todo. Trata-se dum princípio de importância fundamental para a interpretação bíblica, que nunca se deve perder de vista, mesmo no meio das dificuldades que possam surgir a este respeito. Vamos citar aqui um exemplo apenas.

Várias vezes se diz que certas atitudes, ações e reflexões teológicas são uma refutação da doutrina duma Escritura inspirada. É uma objeção que só revela incompreensão da natureza da Bíblia. Já frisamos que a Bíblia é mais do que um simples amontoado de textos separados; é um organismo, um conjunto homogêneo, cujas partes não se podem explicar isoladamente. Ora, Deus recolheu diferentes materiais para a Sua obra; por isso não admira, que muitos dos exemplos apontados sejam maus. É que tudo serve para nossa instrução, embora tais exemplos possam ser interpretados de diferentes modos. Fala-se em erros teológicos e práticos, supondo-se que pelo fato de aparecerem na Bíblia têm a aprovação de Deus. Os princípios da teologia bíblica devem interpretar os fatos da história e da biografia bíblicas, uma vez que estes também explicam aquela. A Escritura interpreta-se com o auxílio da mesma Escritura. Já se disse que a Bíblia constitui uma unidade orgânica, que a Palavra de Deus é um todo, e que cada texto deve ser compreendido à luz da verdade que se encontra em Jesus.

Impossível aqui apresentar mais argumentos a favor da nossa tese. Limitar-nos-emos a afirmar, em conclusão, que a atitude da fé para com a doutrina da inspiração bíblica, bem como para com outras doutrinas, é a de aceitar única e simplesmente o testemunho de Deus. Nada, por isso, poderá abalar a nossa fé, já que nada pode abalar o testemunho em que se apóia. Quando tiver de enfrentar as dificuldades e as objeções, que implicam com a sua fé, o crente deve lembrar-se mais da sua possibilidade de falhar do que da infalibilidade do testemunho de Deus, ao apresentar-nos a verdade. Recorra-se, nesse caso, a uma cuidadosa retrospecção à luz dum estudo mais profundo e mais eficaz da evidência bíblica. Foi assim que se fizeram progressos doutrinários através da história da Igreja. Será assim que também nos nossos dias se conseguirá uma compreensão mais fiel e mais perfeita da doutrina da inspiração da Bíblia, aceitando-a como a Palavra de Deus, isenta de erro e infalível.

J. I. PACKER/ O NOVO COMENTÁRIO DA BÍBLIA - Ed. Vida - SP

segunda-feira, 9 de maio de 2016

O QUE É UM TIPO



Esta palavra não é usada frequentemente na Escritura; mas o que ela significa admite-se ser muito frequentemente deduzido. Usualmente consideramos um tipo como um modelo, um padrão, ou uma semelhança geral de uma pessoa, um evento, ou uma coisa que está para surgir: e nisto ela difere de uma representação, um memorial, ou uma comemoração de um evento, etc., que já aconteceu. O Espírito de Deus adotou uma variedade de meios para indicar seu perfeito pré-conhecimento de todos os eventos, e seu poder para controlá-los. Isto é algumas vezes declarado por profecia verbal expressa; algumas por ações específicas desempenhadas por comando divino; e algumas por aqueles eventos peculiares, nas vidas de indivíduos, e a história ou as observâncias religiosas dos israelitas, que foram originadas para possuir uma referência intentada a algumas partes da história do Evangelho. O ponto principal, diz Chevallier, em uma pesquisa nestes tipos históricos, é estabelecer o fato de uma ligação planejada previamente entre as duas séries de eventos. Nenhuma similaridade, em si, é suficiente para provar tal correspondência. Até mesmo aqueles registrados na Escrituras são registrados sob circunstâncias muito diferentes. Se o primeiro evento for declarado ser típico, na hora quando ele ocorre, e o segundo corresponde com a predição dessa forma proferida, não pode haver dúvida de que a correspondência foi intentada. Se, antes da ocorrência do segundo evento, for proferida uma profecia diferente, que irá acontecer, e que corresponderá com algum evento prévio; o cumprimento da profecia fornece uma prova intrínseca, que a pessoa que a deu falou por inspiração divina. Não pode, deste fato, seguir, que os dois eventos foram ligados por um plano formado antes de cada um deles ocorrer; mas certamente segue, que o segundo evento, em alguma medida, tinha referência com o primeiro; e que qualquer grau de ligação, por tal profeta, suposta existir, realmente existiu. Se, novamente, nenhuma declaração específica for feita, com respeito ao caráter típico de qualquer evento ou pessoa, até depois do segundo evento ter ocorrido, que é então declarado ter sido prefigurado; o fato da ligação planejada previamente se apoiará unicamente sob a autoridade da pessoa que sugere a afirmação. Mas, se sabemos, de outras fontes, que suas palavras são palavras de verdade, nossa única pesquisa será, se ele inconfundivelmente afirma, ou claramente infere, a existência de uma correspondência intentada. O fato, então, de uma ligação planejada previamente entre duas séries de eventos, é capaz de ser estabelecida de três maneiras: e os tipos históricos podem ser consequentemente ordenados em três divisões principais. Alguns deles fornecem evidência intrínseca, que as Escrituras, que os registra, são dadas por inspiração de Deus; os outros podem ser provados existir somente assumindo esse fato: mas todos, quando uma vez estabelecidos, revelam o poder e a sabedoria extraordinários de Deus; e a importância desse plano de redenção, que foi anunciado ao mundo com tais elaborações magníficas. Contemplando este sistema maravilhoso percebemos uma grande intenção entrelaçada, não somente nas profecias verbais e nos eventos extraordinários da história dos israelitas, mas nas negociações ordinárias das vidas de indivíduos escolhidos, até mesmo desde a criação do mundo. Adão era “a figura daquele que havia de vir,” Rm 5.14. Melquisedeque foi “feito semelhante ao Filho de Deus,” Hb 7.3. Abraão, no curso de eventos em que ele estava empenhado pelo comando especial do Céu, foi permitido ver o dia de Cristo, Jo 8.56; e Isaque foi recebido dos mortos “em figura,” Hb 11.19. Num período posterior, o cordeiro pascal foi ordenado ser sacrificado, não somente como um memorial da libertação imediata, que foi instituído para realizar e comemorar, mas também como um memorial contínuo daquilo que estava para ser “cumprido no reino de Deus,” Lc 22.16. Moisés foi levantado para libertar o povo de Israel; para ser-lhes um legislador, um profeta, um sacerdote; e possuir a autoridade real, se não o título de rei. Mas, durante o período inicial de sua vida, ele próprio foi ensinado, que um grande profeta devia ser levantado como ele; diante de sua morte ele proferiu a mesma profecia ao povo; e, depois desse acontecimento, os israelitas continuamente esperavam por esse fiel profeta, que devia responder as suas indagações, 1Macabeus 4.46; 14.41. Todos os seus profetas apontavam para algum legislador maior, que devia introduzir uma nova lei em seus corações, e gravá-las em suas mentes, Jr 31.33. Todo o povo de Israel foi também feito, em alguns casos, intencionalmente representante de Cristo: e os eventos, que ocorreram em sua história nacional, distintamente faziam referência a ele. Durante suas viagens no deserto, Deus não se deixou sem testemunho, que devia possuir referência ao grande plano do Evangelho. Eles comeram comida espiritual. Era um símbolo do verdadeiro pão da vida, que desceu do céu, Jo 6.38. “Bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo,” 1Co 10.4. Eles foram assolados de serpentes; e uma serpente de bronze foi levantada sobre uma vara, para que todo aquele que olhasse pudesse viver. Era uma figura perceptível do Filho do homem, que devia de maneira semelhante ser levantado; “para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna,” Jo 3.15. Além disso, suas ordenanças religiosas eram somente “uma alegoria para o tempo presente,” Hb 9.9. Seu tabernáculo foi feito segundo o modelo das coisas celestiais, Hb 8.5; Êx 25.9, 40; e foi intentado prefigurar o “maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos,” Hb 9.11. O sumo sacerdote era um representante vivo do grande “sumo sacerdote da nossa confissão,” Hb 3.1: e os sacrifícios levíticos claramente faziam referência àquele grande sacrifício pelos pecados. Josué filho de Num tipificou Jesus no nome: e por suas conquistas terrenas em alguma medida prefiguravam os triunfos celestiais de seu Senhor. Num período subsequente, Davi não foi nenhum tipo indistinto do “Messias, o Príncipe,” Dn 9.25, por um longo período humilhado, e finalmente triunfante sobre seus inimigos. E o governo tranquilo de Salomão prefigurava o descanso e paz eternos, que resta ao povo de Deus. Em uma época ainda mais avançada, a preservação miraculosa do profeta Jonas exibia um sinal, que foi cumprido na ressurreição de Cristo. E quando o templo foi reconstruído, Josué, filho de Jozadaque, o sumo sacerdote, e seus companheiros, foram anunciados como “homens portentosos,” representantes do Renovo, que devia, na plenitude dos tempos, ser levantado do tronco de Jessé, Zc 3.8; Is 11.1. A ilustração, então, a ser derivada dos tipos históricos do Velho Testamento, é encontrada espalhada por todo o período, que estende desde a criação do mundo, até o tempo quando a visão e a profecia foram encerradas. E toda a luz, que emana de pontos tão diversos, está concentrada na pessoa de Cristo.

Artigo extraído do Blog Arminianismo.com (http://www.arminianismo.com

sexta-feira, 11 de março de 2016

BREVE RESUMO CONCERNENTE AO JUÍZO FINAL - Por André Rodrigues


Na definição de Andrade é o julgamento a que serão submetidos os vivos e os mortos ressuscitados, na consumação de todas as coisas. Tendo a Deus como Juíz Supremo, terá o Juízo final como objetivo retribuir a cada um segundo as suas obras (Ap 20.11-15 - ANDRADE 2007, p. 242). Depois da condenação definitiva do Diabo e suas hostes, ocorrerá o último de todos os julgamentos, o do Trono Branco. A palavra ‘grande’ denota poder e glória e ‘branco’ fala de santidade e justiça (ZIBORDI 2009, p. 546). Ainda neste mesmo pensamento, Zibordi discorda da definição de Andrade que afirma ser Deus o Juiz naquela ocasião, Zibordi diz: “De acordo com a Palavra de Deus, o Senhor Jesus será o Juiz em todos os julgamentos escatológicos: [...] No Trono Branco, depois da última revolta de Satanás e sua derrocada, Jesus condenará, segundo as obras de cada um, os pecadores impenitentes (Ap 20.13; 21.8; 22.15)". Numa opinião de divisão, Bergstén diz: “Deus é Juíz (Rm 2.16). Mas entregou ao Filho todo o juízo (Jo 5.22,27; At 10.42; 17.31; 2 Tm 4.1)”. O mais importante será que este é o último dos julgamentos e demonstrará com justa sentença todas as obras dos homens descritos nos livros de Deus. Nada se fará ao acaso (p. 365).
Neste julgamento participará todos os ímpios que morreram, do princípio da criação até o final do milênio, ressuscitarão naquele dia, e todos comparecerão diante do trono branco. Também aqueles que durante a Grande Tribulação tomaram sobre si o sinal da besta, e ainda os que acompanharam Satanás na última revolta, no final do Milênio. "[...] Toda aquela grande multidão estará muda, por causa da seriedade do momento. Eles ouvirão a sentença da boca do Juiz. Aqueles cujos nomes não estiverem escritos no livro da vida serão condenados a perder o céu" (BERGSTÉN 1999, p. 364, 367). Ainda que de maneira bem resumida, fica claro que é de suma importância o estudo acurado da escatologia por que reflete as promessas proferidas pelos santos homens de Deus, que ainda terão seu cumprimento. Na medida em que os acontecimentos passo a passo são esclarecidos, sobrevêm ao pesquisador cristão pelo menos dois sentimentos distintos: o de gozo e o de tristeza. Gozo, por ter a certeza de não passar pelos sofrimentos vindouros preparados para os desobedientes, e pela convicção de estar por ocasião do arrebatamento para sempre com o Senhor. E tristeza por saber que milhares de milhares não querem reconhecer esta realidade, sendo iludidas por este mundo e pelas astúcias do deus deste século. Contudo, é de uma importância sem igual o esclarecimento destes fatos para uma aplicação mais santa à nossa vida e uma esperança cada vez mais fincada, de que, a cada momento que se passa abrevia-se ainda mais o retorno de nosso senhor para buscar sua Igreja. Ora vem Senhor Jesus, Maranata! 




BIBLIOGRAFIA


ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. 16º edição, revista e ampliada. 2007. CPAD – RJ
BERGSTÉN, Eurico. Teologia Sistemática. 1999. CPAD – RJ.
GILBERTO, Antônio. ANDRADE, Claudionor de. ZIBORDI, Ciro Sanches. CABRAL, Elienai. RENOVATO, Elinaldo. SOARES, Esequias. COUTO, Geremias do. SILVA, Severino Pedro da. GABY, Wagner. Teologia Sistemática Pentecostal. 3º edição, 2009. CPAD – RJ.

O QUE SIGNIFICA INSPIRAÇÃO


A palavra inspiração, não sendo bíblica, significa, normalmente, uma influência sobrenatural do Espírito de Deus sobre os autores bíblicos, garantindo que, aquilo que escreveram era precisamente o que Deus pretendia que eles escrevessem para a transmissão da verdade divina, podendo, por isso, dizer-se realmente "inspirados" ou theopneustos, literalmente, "soprados por Deus" (2Tm 3.16). Como já não é novo para nós este assunto, limitar-nos-emos agora a corrigir alguns equívocos.

A "inspiração" que garante a comunicação infalível da verdade revelada é bem distinta da "inspiração" do artista criador. Nada de confusões. A inspiração não só não implica estado anormal do espírito do escritor, -por exemplo, visões ou audição de vozes estranhas, -como não supõe, também, a aniquilação da sua personalidade. Deus providencialmente preparou os meios humanos de inspiração para que os escritores pudessem cumprir a sua tarefa; e, na maior parte dos casos, apenas através das faculdades normais. Muitos estados de espírito são na realidade compatíveis com a inspiração. Não é necessário supor-se que os autores tinham sempre a consciência de que estavam a ser inspirados, quer dizer, que sabiam estar a escrever as Escrituras Canônicas. Nem há razão para afirmar-se que um documento inspirado não possa, na providência divina, ter sido compilado ou extraído de fontes por um processo vulgar de composição histórica, passando por várias edições até atingir a sua forma definitiva. O que deve admitir-se é que no fim de contas a obra foi theopneustos, e que através dela Deus quis comunicar aos homens a Sua graça salvadora. Sendo assim, só podemos admitir a inspiração verbal. E se as palavras da Escritura são inspiradas por Deus, é quase uma blasfêmia não admitir a infalibilidade da sua doutrina, e a ausência de erro nessas palavras. São prerrogativas que não podemos aprovar, ou desaprovar, através da argumentação vulgar; porque as consideramos artigos de fé, baseadas que são na doutrina de Cristo e no testemunho do Espírito a confirmarem que as Escrituras Canônicas foram inspiradas por um Deus que não pode mentir. Quem as nega rejeita o testemunho de Cristo, dos apóstolos e da própria Igreja Cristã relativo à natureza da "Palavra de Deus" escrita, e com certeza não possui nem compreende o testemunho interno do Espírito Santo.

O problema da inspiração

Nenhuma doutrina cristã está isenta de problemas, e isto porque Deus quis que a Sua verdade fosse um objeto de fé. Ora, o fundamento da fé é o testemunho e a autoridade do próprio Deus; donde se segue que são coisas distintas o acreditar numa autoridade e o acreditar em face duma demonstração racional. O pecado original do homem foi um desejo de evidenciar a sua sabedoria auto-suficiente, uma vontade de não admitir qualquer autoridade externa, capaz de agir por si própria (cfr. Gn 3.5,6); e Deus deliberadamente apresenta a verdade salvadora aos pecadores e de tal forma que, ao aceitá-la, supõe-se um ato de arrependimento intelectual de sujeição à doutrina de Deus. Daí a renúncia à própria sabedoria (cfr. Rm 1.22; 1Co 1.19-25) a fim de que só possa sobressair aquela outra sabedoria, que é apanágio dos que ouvem a Palavra do Senhor. Para ser mais completa essa renúncia, Deus determinou, ou melhor, garantiu, que nem um só artigo de fé pudesse ser demonstrado, tal como qualquer teorema geométrico. O homem deve contentar-se com o conhecimento que adquire pela fé, conhecimento esse que, no fim de contas, jamais poderá atingir a perfeição neste mundo. Não conseguiremos, pois, eximir de dificuldades a doutrina da Inspiração Bíblica, tal como sucede com a doutrina da Trindade ou da Encarnação. Nem esperemos neste mundo resolver todos os problemas. Não é de admirar, portanto, que muitos cristãos caiam na heresia, a respeito desta ou doutras doutrinas. Convém, no entanto, indicar qual a atitude a tomar perante os erros que se nos apresentem.

Em primeiro lugar, esta doutrina não raro é amesquinhada por aqueles que dizem professá-la, e afirmam que a Bíblia é produto da inspiração em certo sentido, mas nunca inspiração verbal. Deus inspirou ou revelou a verdade aos escritores, que sendo criaturas falíveis e pecaminosas, poderiam falsificá-la. Por isso, é possível admitirmos erros nas Escrituras. Mas não foi assim, como vimos, o pensar de Cristo e dos apóstolos. É errado o pensamento de que nem todos os livros da Bíblia estão ao mesmo nível de profundidade espiritual e finalidade de doutrina; mas, na Sua providência soberana, podia Deus preparar e dirigir os instrumentos humanos apenas para escreverem precisamente aquilo que entendesse, nem mais nem menos. Por outras palavras, segundo esta teoria, a Bíblia não é aquilo que Deus pretendia, nem aquilo que Cristo pensava e ensinava. É evidente que tal teoria é inadmissível.

Em segundo lugar, rejeita-se por vezes a nossa doutrina, recorrendo-se a pretensos argumentos internos da Bíblia. Tais objeções, todavia, supõem fundamentalmente uma ideia humana a priori daquilo que provavelmente será a Bíblia inspirada. E, só o fato de as apresentar como argumentos válidos para duvidar do que Deus afirma desse livro, é já um sinal de impenitência intelectual, inconsciente talvez, mas não menos real por isso. O melhor é, na realidade, começar por aceitar o testemunho de Deus sobre a inspiração verbal, e só depois examinar os argumentos internos da Escritura para se chegar à conclusão da probabilidade da inspiração verbal. Por mais rigoroso e profundo que seja o exame, verificar-se-á que a inspiração se adapta perfeitamente a todas as formas do pensamento, a todos os métodos literários, a todas as figuras estilísticas e a todas as características vocabulares dos escritores. Estes são os canais condutores da verdade inspirada. Desconhecê-los, pode ser um perigo, pois é possível não se conhecer a intenção de Deus, e nesse caso descobrir erros onde na realidade não existem. Ao estudar-se a Bíblia, deve seguir-se o princípio, baseado na fé, de que a Escritura, em parte alguma é capaz de adulterar a verdade, sendo inspirada para no-la transmitir, e de que todos os acontecimentos bíblicos têm um significado que só a Igreja pode conhecer perfeitamente. Neste caso, é conveniente apreciar o texto a analisar à luz do contexto bíblico da Escritura, considerada no seu todo. Trata-se dum princípio de importância fundamental para a interpretação bíblica, que nunca se deve perder de vista, mesmo no meio das dificuldades que possam surgir a este respeito. Vamos citar aqui um exemplo apenas.

Várias vezes se diz que certas atitudes, ações e reflexões teológicas são uma refutação da doutrina duma Escritura inspirada. É uma objeção que só revela incompreensão da natureza da Bíblia. Já frisamos que a Bíblia é mais do que um simples amontoado de textos separados; é um organismo, um conjunto homogêneo, cujas partes não se podem explicar isoladamente. Ora, Deus recolheu diferentes materiais para a Sua obra; por isso não admira, que muitos dos exemplos apontados sejam maus. É que tudo serve para nossa instrução, embora tais exemplos possam ser interpretados de diferentes modos. Fala-se em erros teológicos e práticos, supondo-se que pelo fato de aparecerem na Bíblia têm a aprovação de Deus. Os princípios da teologia bíblica devem interpretar os fatos da história e da biografia bíblicas, uma vez que estes também explicam aquela. A Escritura interpreta-se com o auxílio da mesma Escritura. Já se disse que a Bíblia constitui uma unidade orgânica, que a Palavra de Deus é um todo, e que cada texto deve ser compreendido à luz da verdade que se encontra em Jesus.

Impossível aqui apresentar mais argumentos a favor da nossa tese. Limitar-nos-emos a afirmar, em conclusão, que a atitude da fé para com a doutrina da inspiração bíblica, bem como para com outras doutrinas, é a de aceitar única e simplesmente o testemunho de Deus. Nada, por isso, poderá abalar a nossa fé, já que nada pode abalar o testemunho em que se apoia. Quando tiver de enfrentar as dificuldades e as objeções, que implicam com a sua fé, o crente deve lembrar-se mais da sua possibilidade de falhar do que da infalibilidade do testemunho de Deus, ao apresentar-nos a verdade. Recorra-se, nesse caso, a uma cuidadosa retrospecção à luz dum estudo mais profundo e mais eficaz da evidência bíblica. Foi assim que se fizeram progressos doutrinários através da história da Igreja. Será assim que também nos nossos dias se conseguirá uma compreensão mais fiel e mais perfeita da doutrina da inspiração da Bíblia, aceitando-a como a Palavra de Deus, isenta de erro e infalível.

J. I. PACKER (O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA - F. DAVIDSON)

quarta-feira, 9 de março de 2016

QUEM MATOU JESUS? (Hb. 5.7-9) - por André Rodrigues


"O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia. Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem;"  (Hb. 5.7-9 ARCF)


Partindo do princípio do texto em apreço declarado pelo escritor aos Hebreus, é possível observar que Jesus Cristo cumpriu sua missão de maneira cabal, com obediência ilibada. Veio para esta missão e a executou integral e perfeitamente.

É de comum acordo que a conclusão ápice do cumprimento de sua obra, dar-se na culminância de sua morte vicária, substitutiva, ou seja, em nosso lugar. Nós quem deveríamos sofrer os agravos recaídos sobre o Mestre, entretanto, houve a disponibilidade do próprio Filho de Deus para esta ação, numa profunda demonstração de amor, morrendo em favor da humanidade perdida.

Mas, será possível contextualizar, realizando uma análise bíblica, e dizer dentre outros aspectos, sem a intenção de esgotar as possibilidades: quem matou Jesus? 

Sim é possível! E nesta perspectiva, num raciocínio pessoal, poderíamos dizer pelo menos quatros atitudes que culminaram na morte de Jesus. É óbvio que este feito estava previsto desde a fundação do mundo como ressalta João, na Ilha de Patmos, quando recebera do Espírito Santo, revelações concernentes aos últimos acontecimentos da humanidade (Ap. 13.8b). Porém, para fins de reflexão destacaremos as situações a seguir: 1- A inveja dos representantes espirituais da nação judaica; 2- A ganância de Judas; 3- A covardia de Pilatos; e por fim, 4- O pecado de todos nós.


 1- A INVEJA DOS REPRESENTANTES ESPIRITUAIS DA NAÇÃO JUDAICA - 


De maneira geral os judeus possuem um histórico que denigre sua imagem. A insubordinação e consequente desobediência está presente em boa parte de vossa história. No caso de inveja propriamente dito, não é diferente.

Há diferenças expressivas que coadunam com a realidade de que a vinda, a vida, o ministério e a atuação diferenciada em processos, na pessoa de Jesus, naturalmente viesse a ser causa de inveja nos representantes da nação. Destacaremos, dentre muitas, três destas. São elas: 

1.1 - JESUS ENSINAVA COM AUTORIDADE - Mt 7.28-29

Diferentemente dos escribas, fariseus, saduceus, sacerdotes de maneira geral que compunham a classe de representantes espirituais da nação, Jesus demonstra em seus ensinamentos de forma simples, porém contundente, que havia autoridade naquilo em que falava. 

De acordo com Mateus, percebemos a indagação dos primeiros ouvintes, logo em sequência de sua tentação, após a preparação e jejum de quarenta dias, quando o próprio dá início a uma série de mensagens, que ficariam conhecidas como o sermão da montanha. Estas mensagens vão desde o capítulo 5.1 até o capítulo 7.29. 
Logo em seguida da extensa explanação de Jesus, fica claro no entendimento e na menção escriturística de que as multidões se maravilharam de seus ensinos, conforme segue: 

"E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina; Porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas".

Esta foi a causa primária, inaugural. Depois da exposição do sentimento das massas em reconhecer uma diferente e nova autoridade, caíra como ponto de partida para que seus corações viessem a produzir expressivamente o ardente desejo de inveja. 


Outro ponto, dentro desta expectativa a ser explorado é que:


1.2 - JESUS REALIZAVA PRODÍGIOS E MARAVILHAS - Jo 11.46-48

João, o evangelista, inicia o distinto livro, destinado à toda igreja, mostrando Jesus como o Verbo Encarnado (Jo 1.1-14). Após sua defesa prévia, exibe como embasamento, o testemunho de João Batista (Jo 1.15-34) e nos próximos versículos, destaca a chamada dos discípulos (potenciais testemunhas oculares) para um fortalecimento ainda maior do que se desejava alcançar com a escrita do referido evangelho (Jo 1.35-51).

No capítulo dois, João enfatiza o primeiro milagre realizado por Jesus: "Este sinal miraculoso, em Caná da Galiléia, foi o primeiro que Jesus realizou. Revelou assim a sua glória, e os seus discípulos creram nele" (Jo 2.11 - NVI). No decorrer de sua escrita, destaca diversas instruções dadas por Jesus e assegura inúmeros feitos miraculosos que coloca Jesus em posição de sui generi, diferenciada. Para tanto, ao término do evangelho que leva seu nome, afirma: "E ainda muitas outras coisas há que Jesus fez; as quais, se fossem escritas uma por uma, creio que nem ainda no mundo inteiro caberiam os livros que se escrevessem" (Jo 21.25 - ARIB). 


Todas estas manifestações incomodavam e muito aos representantes da nação judaica, que além de não aceitarem (mesmo vendo), procuravam ocasiões para pôr fim àquele problema que havia surgido inesperadamente. Por isso, deixando, por vezes as diferenças teológicas que os dividiam, uniram forças para acabar com a atuação do Mestre. Eles no íntimo sabiam que havia algo de diferente que pairava sobre Jesus, no entanto, movidos avidamente pelo sentimento de inveja e por medo da perca de poder e território, havia-lhes cegueira e não podiam perceber tamanho erro, mesmo sendo testemunhas dos feitos, dos acontecimentos e da fama que repousava sobre o Filho de Deus. 



Vejamos o texto supracitado: 



"Depois os principais dos sacerdotes e os fariseus formaram conselho, e diziam: Que faremos? porquanto este homem faz muitos sinais. Se o deixamos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação" (Jo 11.46,47 - ARCF).


Eles estavam tão cegos e desapercebidos que mesmo após uma breve, contudo, relevantes revelações não puderam perceber tamanha insanidade. Foram alertados pelo sumo sacerdote e mesmo assim continuaram com seus desígnios para matá-lo:


"E Caifás, um deles que era sumo sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós nada sabeis,

nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação. Ora ele não disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação. E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos.
Desde aquele dia, pois, consultavam-se para o matarem" (Jo 11.49-53 - ARCF - nosso grifo).

E, ainda, no mesmo contexto, assevera João: 

"Buscavam, pois, a Jesus, e diziam uns aos outros, estando no templo: Que vos parece? Não virá à festa? Ora, os principais dos sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem para que, se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse, para o prenderem" (Jo 11.56-57 - ARCF).

As multidões acompanhavam a Jesus e seus discípulos. Muitos, por interesse. Mas, a continuidade daquela nova fase vivida por Israel logo atrairia conversos de todas as partes e eles, por sua vez, ficariam totalmente descredibilizados. 
Estavam tão possuídos de inveja que não conseguiam alegrar-se com os acontecimentos que chamavam atenção em escalas superiores. Todo este contexto, ocorrera por ocasião da ressuscitação de Lázaro, o amigo de Jesus.
Na ocasião em que o próprio Jesus volta à Betânia para visitar a Lázaro e consequentemente participar de uma ceia, diz-nos a Escritura que "[...] muita gente dos judeus soube que estava ali; e foram, não só por causa de Jesus, mas também para ver a Lázaro, a quem ressuscitara dos mortos. E os principais dos sacerdotes tomaram deliberação para matar também a Lázaro, por que muitos dos judeus, por causa dele, iam e criam em Jesus" (Jo 12.9-11 - ARC). Observem tamanha intenção dos representantes espirituais da nação, movidos unicamente pela inveja em detrimento dos bens que eram realizados desejavam não apenas acabar com a atuação de Jesus, mas se possível fora destruir definitivamente as provas que vinculavam tal atuação: "[...] tomaram deliberação para matar também a Lázaro" (Jo 12.10a). Sem perceber, agiam com assassinos. Eis o perigo da inveja.

1.3 - A INVEJA FEZ COM ELES O ENTREGASSE - Mt 27.11-18


Conscientes de seus malefícios e convictos de que Jesus deveria morrer, realizaram tudo o que foi necessário até conseguirem o vosso intento. Em Mateus, lê-se que mesmo sabendo da repercussão que desencadearia tomaram rumo em prosseguimento para a realização:

"Naquela ocasião os chefes dos sacerdotes e os líderes religioso do povo se reuniram no palácio do sumo sacerdote, cujo nome era Caifás, e juntos planejaram prender Jesus à traição e matá-loMas diziam: "Não durante a festa, para que não haja tumulto entre o povo"" (Mt 26.3,4 - NVI - nosso grifo). Nada poderiam detê-los. Estavam dispostos a passar por cima de qualquer prerrogativa que fosse para concluir com vossa maldade, senão, leiamos a narrativa bíblica:


"E foi Jesus apresentado ao presidente, e o presidente o interrogou, dizendo: És tu o Rei dos Judeus? E disse-lhe Jesus: Tu o dizes. E, sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. Disse-lhe então Pilatos: Não ouves quanto testificam contra ti? E nem uma palavra lhe respondeu, de sorte que o presidente estava muito maravilhado. Ora, por ocasião da festa, costumava o presidente soltar um preso, escolhendo o povo aquele que quisesse. E tinham então um preso bem conhecido, chamado Barrabás. Portanto, estando eles reunidos, disse-lhes Pilatos: Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus, chamado Cristo? Porque sabia que por inveja o haviam entregado" (Mt 27.11-18 - ARCF - nosso grifo).



Não havia crime cometido por Jesus. Não havia indícios que o caracterizasse como malfeitor, mas mesmo assim, unicamente por inveja, preferiram Barrabás em detrimento de Jesus. Escolheram a soltura de um desordeiro e assassino confesso, ante ao Jesus que realizava o bem por onde passara. E, como se não bastasse, de igual modo, sendo por eles induzidos, todo o povo que acompanhava de perto a atuação de Jesus entrara na ideia de morte e como loucos pediam que ele fosse crucificado e como agravante, ensoberbecidos pelo movimento de inveja, clamavam sem perceber tamanha gravidade "[...] todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos. Então, soltou-lhes Barrabás e, tendo mandado açoitar a Jesus, entregou para ser crucificado" (Mt 27.25,26 - ARC).



A inveja dos representantes da nação judaica, foi um dos principais motivos para a prisão, o julgamento e consequente morte de crucificação de Nosso Senhor Jesus Cristo.



Outro ponto em consideração que se segue a esta realidade é: 



2- A GANÂNCIA DE JUDAS - 


Há um agravante em si tratando de Judas Iscariotes. Ele era um dos doze! Natural de Queriote, localidade de Moabe (cf. Jr 48.24). Distava a 20 Km ao sul de Hebrom. Foi, portanto, o único dos apóstolos que não fazia parte da região da Galiléia, visto que Queriote fazia parte da região da Judá. Mas, como todos os outros fora escolhido pelo próprio Jesus para compor o colégio apostólico. Durante quase todo o ministério de Jesus, desempenhou o papel de responsável pelas finanças, entretanto, possuía uma inclinação tendenciosa para o roubo.

É fácil afirmar que Judas:

2.1 - POSSUÍA UM CORAÇÃO AVARENTO - Mt 26.14-16


É interessante que sabendo o intento maligno dos representantes da nação em prender a Jesus, o apóstolo antecipa-se, tomando a iniciativa de procurar os principais para oferecer-lhes uma negociação quanto a entrega do Mestre, vejamos:



"Então, um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, dirigiu-se aos chefes dos sacerdotes e lhes perguntou: "O que me darão se eu o entregar a vocês?" E eles lhe fixaram o preço: trinta moedas de prata. Desse momento em diante Judas passou a procurar uma oportunidade para entregá-lo" (Mt. 26.14-16 - NVI - nosso grifo).



Judas possuía um ardente desejo pela finança. Amava o dinheiro incondicionalmente. Foi capaz de ultrapassar todas as prerrogativas que repousava sobre os apóstolos para o trair, e sua traição consequentemente culminaria na morte. Mesmo que no primeiro instante não houvesse por parte de Judas a percepção de que os principais desejavam matá-lo, não havia motivos para o entregar. Ele o traiu desde o momento da intenção e conclusiva procura para a negociação. Vendeu-se por míseras trinta moedas. No ato da entrega, recebeu-as à vista o valor desprezível, que equivalia a um mês de trabalho de um simples empregado. Este é o duro preço da ganância, da avareza. Não se mede consequências em detrimento de ganho, seja qual porcentagem ou vantagem for.



Com esta ação infundada, desnecessária e sem pensar fez com que algo de muito pior acontecesse:


2.2 - PERMITIU QUE SATANÁS O CONDUZISSE - Lc 22.1-6


Jesus proferia suas últimas instruções as multidões antes da formulação do pacto da traição propriamente dita (cf. Lc 21.34-36). Aproximava-se a festa dos Pães Asmos, ou seja, a Páscoa. Todos que tinham a intenção de parar a Jesus, estavam atônitos e apreensivos para realizar de uma vez por toda vossa maledicência, mas repudiavam a ideia de possível alvoroço. Entendiam não ser interessante uma ação as claras, temendo retaliações. Nesta expectativa, as escondidas, Judas procura-os para acertarem com detalhes como seria a entrega. Neste instante, Lucas indaga na narrativa que: "Entrou, porém, Satanás em Judas" (v. 3a). Leiamos o texto:



"Estava, pois, perto a festa dos pães ázimos, chamada a páscoa.


E os principais dos sacerdotes, e os escribas, andavam procurando como o matariam; porque temiam o povo. Entrou, porém, Satanás em Judas, que tinha por sobrenome Iscariotes, o qual era do número dos doze. E foi, e falou com os principais dos sacerdotes, e com os capitães, de como lho entregaria;
Os quais se alegraram, e convieram em lhe dar dinheiro.
E ele concordou; e buscava oportunidade para lho entregar sem alvoroço" (Lc 22.1-6 - ARCF).


A avareza caracteriza-se como o pecado que permite com que a pessoa passe a não enxergar o mal que é capaz de executar e abre precedentes para uma forte e permanente atuação do maligno. O pecado da avareza destrói qualquer caráter formado, levando a pessoa de conduta coerente agir de maneira corrompida. 

Infelizmente, existem pessoas tendenciosas para este intento do mau. João, destaca no evangelho escrito por ele que Judas era ladrão. Ou seja, já dantes possuía uma conduta duvidosa, sem credibilidade.

Vejamos.

2.3 - JUDAS ERA LADRÃO - Jo 12.6

Como já falamos acima, ele era responsável pelas finanças. Pode-se afirmar, claramente que Judas era o tesoureiro do grupo de Jesus. Era ele quem organizava as finanças. Ele sabia quanto havia na bolsa. Tinha conhecimento da movimentação financeira que o cercavam. Porém, a conduta duvidosa de Judas foi observada especificamente em João (não nos sinópticos) na ocasião em que se encontravam na casa da família de Lázaro em Betânia, e Maria sua irmã "[...] tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus, e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do bálsamo. Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de trair disse: Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres?" (Jo 12.3-5 - ARIB). Daí, percebeu-se, com evidência que Judas tinha uma conduta torpe, duvidosa. Vejamos: 

"Ele não falou isso por se interessar pelos pobres, mas porque era ladrão; sendo responsável pela bolsa de dinheiro, costumava tirar o que nela era colocado" (Jo 12.6 - NVI).


Notadamente percebe-se que a preocupação era não especificamente com os pobres, mas com o desperdício. Assim, aqui é revelado que ele possuía conduta corrupta, avarenta. Agindo, portanto, como ladrão: "[...] costumava tirar o que nela era colocado".



Como se observa, desde o início uma conduta duvidosa, personalidade distorcida, condução corrupta, Judas consegue concluir sua maldade entregando finalmente Jesus. Ele, portanto:



2.4 - REALIZA SEU INTENTO MALIGNO -  Mt 26.48,49



Todo o mau estava planejado, articulado. Havia inclusive um sinal específico para que os soldados e algozes percebessem após a execução quem era Jesus. Na ocasião da busca, o Mestre, juntamente com seus discípulos estavam no Getsêmani para as últimas orações e consequentes instruções aos seus discípulos, antes de sua iminente prisão.



Vejamos: 



"E, estando ele ainda a falar, eis que chegou Judas, um dos doze, e com ele grande multidão com espadas e varapaus, enviada pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos do povo. E o que o traía tinha-lhes dado um sinal, dizendo: O que eu beijar é esse; prendei-oE logo, aproximando-se de Jesus, disse: Eu te saúdo, Rabi; e beijou-o. Jesus, porém, lhe disse: Amigo, a que vieste? Então, aproximando-se eles, lançaram mão de Jesus, e o prenderam" (Mt 26.47-50 - ARCF - nosso grifo).


Judas teve por avareza, ganância, amor incondicional ao dinheiro a audácia, a inconsequência de entregar a Jesus que tanto bem fizera e que o mesmo as testificou de perto. Realizou seu intento maligno, porém obteve um final amargo de que é de conhecimento de todos: "Quando Judas, que o havia traído, viu que Jesus fora condenado, foi tomado de remorso e devolveu aos chefes dos sacerdotes e aos líderes religiosos as trinta moedas de prata. E disse: "Pequei, pois traí sangue inocente". E eles retrucaram: "Que nos importa? A responsabilidade é sua". Então Judas jogou o dinheiro dentro do templo, saindo, foi e enforcou-se" (Mt 27.3-5 - NVI). Judas, com seu pecado, atraiu para si próprio a condenação eterna.


Outro relevante ponto e conclusivo para a condenação e consequente morte de Jesus foi a covardia do que detinha o poder de libertar Jesus se assim o desejasse.

Neste ponto, encontraremos: 


3 - A COVARDIA DE PILATOS - 

Pilatos era uma autoridade. Na verdade, Pilatos era Governador romano da Judéia. Exerceu seu governo entre 26-36 d.C., o significado de seu nome, advindo do latin era: armado com um dardo. Pilatos governou durante o reinado de Tibério César (Cf. Mt 27.2 / Lc 3.1), era subordinado de César e fazia-lhe tudo o que agradara. Teve importante papel na condenação e principalmente na morte de Jesus, por que deixou de fazer uso de usa responsabilidade de maneira apartidária. Por alguns momentos de indagações direcionadas a Jesus (a sós) e pela pressão outorgada pelos representantes da nação e agora também da multidão, temeu. Por pouco não permitia que Jesus fosse entregue para crucificação, por entender não haver indícios suficientes para a crucificação. Bastava-lhe apenas açoites e já estaria de bom tamanho (pensava). No entanto, ao perceber a multidão juntamente com os representantes espirituais se voltarem a clamar veementemente pela crucificação de Jesus, e por medo de um agravio em seu governo (caso viesse a se desencadear a notícia de alvoroço e então chegasse até ao conhecimento de César), acabou por ceder as pressões e entregou-o a multidão para ser crucificado:

"Depois levaram Jesus da casa de Caifás para a audiência. E era pela manhã cedo. E não entraram na audiência, para não se contaminarem, mas poderem comer a páscoa. Então Pilatos saiu fora e disse-lhes: Que acusação trazeis contra este homem? Responderam, e disseram-lhe: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos. Disse-lhes, pois, Pilatos: Levai-o vós, e julgai-o segundo a vossa lei. Disseram-lhe então os judeus: A nós não nos é lícito matar pessoa alguma. (Para que se cumprisse a palavra que Jesus tinha dito, significando de que morte havia de morrer). Tornou, pois, a entrar Pilatos na audiência, e chamou a Jesus, e disse-lhe: Tu és o Rei dos Judeus? Respondeu-lhe Jesus: Tu dizes isso de ti mesmo, ou disseram-to outros de mim? Pilatos respondeu: Porventura sou eu judeu? A tua nação e os principais dos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste? Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui. Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum. Mas vós tendes por costume que eu vos solte alguém pela páscoa. Quereis, pois, que vos solte o Rei dos Judeus? Então todos tornaram a clamar, dizendo: Este não, mas Barrabás. E Barrabás era um salteador" (Jo 18.28-40 - ARCF - nossos grifos).

Sequencialmente:


"Pilatos, pois, tomou então a Jesus, e o açoitou. E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram sobre a cabeça, e lhe vestiram roupa de púrpura.


E diziam: Salve, Rei dos Judeus. E davam-lhe bofetadas. Então Pilatos saiu outra vez fora, e disse-lhes: Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele crime algum. Saiu, pois, Jesus fora, levando a coroa de espinhos e roupa de púrpura. E disse-lhes Pilatos: Eis aqui o homemVendo-o, pois, os principais dos sacerdotes e os servos, clamaram, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e crucificai-o; porque eu nenhum crime acho nele. Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.
E Pilatos, quando ouviu esta palavra, mais atemorizado ficou. E entrou outra vez na audiência, e disse a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta. Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar? Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem. Desde então Pilatos procurava soltá-lo; mas os judeus clamavam, dizendo: Se soltas este, não és amigo de César; qualquer que se faz rei é contra César. Ouvindo, pois, Pilatos este dito, levou Jesus para fora, e assentou-se no tribunal, no lugar chamado Litóstrotos, e em hebraico Gabatá. E era a preparação da páscoa, e quase à hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso ReiMas eles bradaram: Tira, tira, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso Rei? Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão César. Então, consequentemente entregou-lho, para que fosse crucificado. E tomaram a Jesus, e o levaram" (Jo 19.1-16 - ARCF - nosso grifo).

Dois outros fatores que pesaram negativamente em sua decisão foram:

3.1 - RECEBER AVISO DE SUA MULHER - Mt 27.19

Pilatos contribui decisivamente para a crucificação de Jesus mesmo sendo avisado por sua esposa sobre o testemunho dado-lhe em revelação que se tratava de um homem justo:


"E, estando ele assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele" (Mt. 27.19 - ARCF).



3.2 - OMITIR SUA AUTORIDADE - Mt 27.23,24



Nisto, consequentemente, por medo de retaliações em seu mandato e que as notícias de alvoroço chegassem até a Tibério César, acabou por omitir sua autoridade, dando ouvido e permitindo a conclusão do pedido da turba:



"Pilatos, porém, disse: Pois que mal fez ele? Mas eles clamavam ainda mais: Seja crucificado. Ao ver Pilatos que nada conseguia, mas pelo contrário que o tumulto aumentava, mandando trazer água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Sou inocente do sangue deste homem; seja isso lá convosco" (Mt. 27.23,24 - ARCF).



Mesmo pesando sobre si assassinatos (Cf. Lc 13.1), por certo este pesaria com maior intensidade. Pilatos, mesmo com atitude de lavar as mãos diante da multidão e afirmar ser inocente do sangue de Jesus, foi o principal desencadeador de sua morte.

Por último, na expectativa dos responsáveis pela morte de Jesus, encontra-se:

4 - O PECADO DE TODA A HUMANIDADE - 

Como explicitado no início desta reflexão é sabido que Jesus haveria de morrer. Esta verdade, portanto, é conhecida na revelação dada a João (Cf. Ap 13.8b) e noutros contextos, sobretudo nas profecias concernentes a vinda do Messias para trazer novamente o acesso do homem livremente à Deus, outrora perdido com a entrada do pecado cometido por àquele que possuía a representatividade perpétua para o restante da humanidade (Cf. Gn 3.15). Assim, como propósito inadiável, porém, na "plenitude dos tempos" (Cf. Gl 4.4), Jesus vem ao mundo para estabelecer por morte esta proeza. Mas, entendemos que para cumprimento inevitável desta morte, houveram estágios, nos quais (dentre outros) registramos os que foram citados acima. Agora, por fim, poderíamos afirmar que nós (toda humanidade) somos os maiores responsáveis pela morte de nosso Mestre.


A morte de Jesus foi:


4.1 - VATICINADA POR ISAÍAS - Is 53.1-6


No texto em apreço, escrito cerca de 700 anos antes da vinda de Cristo a este mundo, parece que o autor estava ao pé da cruz no momento da crucificação. O relato, vaticinado por Isaías e sem dúvidas, revelado pelo Espírito Santo, mostra com detalhe o propósito pelo qual Jesus se dispôs a vim ao mundo e ressalta expressamente nossa culpabilidade, claramente percebidas principalmente nos versículos 4 e 5 da narrativa, senão vejamos:



"Quem deu crédito à nossa pregação? e a quem se manifestou o braço do Senhor?
Pois foi crescendo como renovo perante ele, e como raiz que sai duma terra seca; não tinha formosura nem beleza; e quando olhávamos para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos. Era desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores, e experimentado nos sofrimentos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós" (Is 53.1-6 - ARIB - nosso grifo).



Negar que unicamente por nós e para nós foi trazido Jesus ao mundo para morrer e morte de cruz, seria blasfemar contra o propósito de restauração calculado pelo conselho divino na eternidade. No entanto, "o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós" (v. 6). Somos, os maiores responsáveis pela morte de Jesus.


4.2 - NÓS O CONDUZIMOS AO LOCAL DE PRENSA DE ÓLEO - Mt 26.36-46 


Por nós, foi preciso que Jesus fosse conduzido ao Getsêmani, do gr..lagar de azeite. Local para onde Jesus costumava se retirar (Cf. Lc 22.39 / Jo 18.2). Era, portanto, um jardim situado à nascente de Jerusalém, logo após a travessia do Cedrom, aos pés do Monte das Oliveiras. Foi ali, no Getsêmani onde ocorrera a cena de sua agonia (Cf. Mt 26.36ss).



"Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar. E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito.


Então lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até a morte; ficai aqui, e velai comigo. E, indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres. E, voltando para os seus discípulos, achou-os adormecidos; e disse a Pedro: Então nem uma hora pudeste velar comigo?
Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca. E, indo segunda vez, orou, dizendo: Pai meu, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade. E, voltando, achou-os outra vez adormecidos; porque os seus olhos estavam pesados. E, deixando-os de novo, foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. Então chegou junto dos seus discípulos, e disse-lhes: Dormi agora, e repousai; eis que é chegada a hora, e o Filho do homem será entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, partamos; eis que é chegado o que me trai" (Mt 26.36-46 - ARCF - nosso grifo).



Jesus suplica ao Pai por três vezes veementemente quanto ao cálice que deveria passar. Estas palavras são registradas também em Marcos e Lucas, João, porém, trata de maneira geral (Cf. Mc 14.32-42 / Lc 22.39-46 / Jo 18.1-11). Lucas, como médico que era, registra magistralmente o tamanho da agonia sofrida pelo Senhor "[...] E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o suor tornou-se em grandes gotas de sangue que corriam até o chão" (v.44 - ARC - nosso grifo). Aqui, obviamente não se trata do momento em que se aproximava, em que o mesmo deveria morrer. Para tanto, este foi o propósito para que veio. Mesmo sendo palco de inúmeras discussões é de comum acordo entre a maioria dos estudiosos que tratava absolutamente do momento de separação que seria inevitável nos momentos finais pré-morte, propriamente dita. Desta forma, conclui-se que por nós, Jesus passa por tamanha agonia e sofrimento e por instantes encontra resistência e ligeiro abandono por parte do Pai, uma vez que carregava todo o pecado da humanidade:



Diz-nos a narrativa:



"E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mt 27.46 - ARCF - nosso grifo).



Este momentâneo abandono deu-se como colocado acima. Tratava-se exclusivamente da carga depositada em Jesus no momento da crucificação. Ele carregava em si todas as enfermidades; todas as intempéries desta vida; toda a carga de pecado, de todos os homens, de todas as épocas, passadas e vindouras. E, sendo Deus Santo, não comunga com pecado e era, portanto, necessário que assim o fizesse. E assim o fez.



Então, em conclusão, fica claro que o propósito de sua vinda era inevitável. Mas, é importante salientar que esta proposta para ser cumprida haveria de ter alguns personagens que corroborariam nos moldes que fora previsto, para que se cumprisse de maneira cabal e absoluta. Fato é que Jesus morreu por toda a humanidade, para que tivéssemos novamente acesso ao Pai como no início, dentro dos parâmetros originais na presciência de Deus em relação ao homem.







BIBLIOGRAFIA - 



BOYER, Orlando. Pequena Enciclopédia Bíblica. Edição revisada e atualizada. 2ª impressão, 2006. Editora Vida - SP.



HALLEY, Henry Hampton. Manual Bíblico de Halley: Nova Versão Internacional (NVI) / (Tradução: Chown, Gordon), 2001. Editora Vida - SP.



McDONALD, William. Comentário Bíblico Popular. Editado com introduções de ArtFarstad, 2008. Editora Mundo Cristão - SP.



Bíblias nas versões: 

(www.bibliaonline.com.br)


Almeida Corrigida e Revisada Fiel - ACRF

Almeida Revisada Imprensa Bíblica - ARIB
Almeida Revista e Corrigida - ARC
Nova Versão Internacional - NVI  



















                      
 








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