sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O ESTABELECIMENTO DO SUSTENTO PASTORAL NO ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS - Por André Rodrigues

É comum o conhecimento de que toda estrutura carece de líderes. Na nação de Israel não era diferente. Não quero dizer com isso, líder social, político, ou coisa semelhante, mas desejo limitar-me, a líderes espirituais a frente do rebanho de Deus, que são os Seus pastores. Neste contexto, veterotestamentário, a nomenclatura não se define desta maneira, e sim sacerdotes, e ainda numa escala generalizada, poderiam incluir os levitas, que também serviam no Templo.

Entretanto, restringindo-se a figura do sacerdote, como representante do povo diante de Deus e líder espiritual da congregação, Deus faz compreensão aos tais que deveriam manter-se firmes no trabalho espiritual em detrimento ao secular. Considerando que os sacerdotes eram os servos espirituais do povo, não podiam trabalhar para ganhar a vida da mesma maneira que os outros (1) . Por isso, o Senhor, cria um ambiente favorável a que o sacerdote fosse sustentado pela congregação de Israel, a fim de poderem assistir da melhor maneira possível àquele povo.
De acordo com Vine (2) , um sacerdote, “kõhen”, “é ministro autorizado da deidade, que ministra no altar e em outros ritos cultuais”. Além disso: “cumpre deveres sacrificais, ritualistas e mediadores. Ele representa o povo diante de Deus”. Em presença de tais responsabilidades perante Deus e o povo é mister que este representante receba sua uma porção cabível ao seu sustento. Em Números 18, quando o Senhor se dirige a Arão, diz: “[...] E eu, eis que te tenho dado a guarda das minhas ofertas alçadas, com todas as coisas santas dos filhos de Israel; por causa da unção as tenho dado a ti e a teus filhos por estatuto perpétuo” (v. 8).
E, em outro lugar se diz:

Os sacerdotes levitas, toda a tribo de Levi, não terão parte nem herança em Israel; das ofertas queimadas do Senhor e da sua herança comerão. Pelo que não terão herança no meio de seus irmãos; o Senhor é a sua herança, como lhe tem dito. Este, pois, será o direito dos sacerdotes, a receber do povo, dos que sacrificarem sacrifício, seja boi ou gado miúdo: que darão ao sacerdote a espádua, e as queixadas, e o bucho. Dar-lhe-ás as primícias do teu cereal, do teu mosto e do teu azeite e as primícias da tosquia das tuas ovelhas. Porque o Senhor, teu Deus, o escolheu de todas as tuas tribos, para que assista a servir no nome do Senhor, ele e seus filhos, todos os dias. (Dt. 18.1-5, ARC).

São bem evidentes as palavras inseridas nestes versículos, por que mostra no livro da repetição das leis (3) , de maneira clara a instituição do cuidado especial de Deus com a classe sacerdotal e também com os levitas (vv. 6-8), com respeito ao sustento advindo das demais tribos, porque estes estariam envolvidos com a administração no Templo. Deus determinou que os sacerdotes e levitas fossem sustentados pelas ofertas do povo (4) .
O sustento pastoral é sem dúvidas um inegociável princípio divino. E este princípio está intrinsecamente atrelado a contribuição dos dízimos e das ofertas, que além de ser uma demonstração de adoração, também é a maneira sistemática de sustentabilidade administrativa para a realização terrena da obra do Senhor.
No Novo Testamento a situação é bem semelhante. Diversos princípios cristãos foram preservados daquele contexto. E, a contribuição dos dízimos e ofertas, como reconhecimento da soberania de Deus; ato de adoração; e sustentabilidade administrativa para a obra terrena do Senhor é um desses.
Jesus em seu ministério terreno estabelece para si um colégio apostólico de doze homens que estariam no futuro próximo à frente da obra, em continuação ao que Ele veio fazer. E, nesta perspectiva neotestamentária, com a fundação da Igreja, após a sua ascensão, o próprio Jesus, estabelece para tal organização (igreja), líderes que estariam à frente do rebanho, na mesma contextualização do Pacto Passado. Há uma lista estabelecida por Jesus e exposta pelo Apóstolo Paulo na epístola aos crentes de Éfeso que diz: “E ele mesmo deu uns para apóstolo, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores” (Ef 4.11, ARC, grifo meu). Esta lista retrata àqueles que estiveram e estão na liderança da igreja.
Como sendo um homem escolhido por Deus para difundir e esclarecer as doutrinas centrais do Cristianismo, Paulo fora capacitado pelo Senhor a escrever treze epístolas, onde com facilidade, se encontram todas as doutrinas, expostas para nosso conhecimento. Dentre estas epístolas, denominadas pelos teóricos de paulinas, existem relevantes divisões, a saber: Epístolas Missionárias; Epístolas da Prisão e por fim as chamadas Epístolas Pastorais (5) . Nesta última referência, as Pastorais, refletem as duas escritas a Timóteo e àquela endereçada a Tito. Ambas incluem em seu esboço, dentre outras coisas, admoestações diversas quanto ao modelo correto de comportamento do neo obreiro, que seria inserido na obra.
Embora nenhuma dessas epístolas use o termo “pastor”, elas tratam de questões importantes enfrentadas pelos que são chamados a posições de liderança pastoral na igreja. Devemos entender as considerações teológicas dessas epístolas à luz das declarações de propósito das próprias epístolas. Os livros afirmam que foram escritos por Paulo para seus companheiros, Timóteo e Tito, a fim de encorajá-los a permanecer firmes no evangelho em face de desafios heréticos (6).
Além do exemplo obtido da contextualização veterotestamentária, há um texto, considerado como principal defesa ao apoio do sustento pastoral em I Timóteo 5.17 que diz: “Os presbíteros (7) que governam bem sejam estimados por duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina”. Stamps (8), tratando da porção dos versículos 17-19, mostra que os mesmos dizem respeito à honra apropriada aos presbíteros (aqui significa pastores) que governem bem a igreja local e que vigiam cuidadosamente o rebanho. E salienta ainda que aqueles que, com toda sinceridade, trabalham diligentemente na pregação e no ensino, devem receber duplicada honra. Trata-se aqui de ajudá-los com auxílio financeiro e ser-lhes submisso nas questões de conduta da igreja e ensino bíblico. Dake (9) corrobora com este dizendo que os tais devem receber honra ou salário dobrados. Outro estudioso explicando 5.17 menciona que dobrados honorários (ARA) era possivelmente o dobro daquilo que se dava à viúva desamparada. E ainda afirma que pode ser “tempo integral” para o pastorado vinculado ao ensino religioso (10) . É bem interessante a expressão usada na NTLH que diz: “Os presbíteros que fazem um bom trabalho na igreja merecem pagamentos em dobro, especialmente os que se esforçam na pregação do evangelho e no ensino cristão” (grifo meu).
Ainda nesta expectativa, segue a explicação do comentarista que diz:

Deve-se honrar adequadamente os anciãos, e também pagar-lhes como corresponde. No Oriente quando se debulhava, as hastes de trigo se deixavam na era; logo se fazia com que várias juntas de bois caminhassem sobre eles; ou se atava os bois num poste no meio, como um eixo. E eram partidos ao redor do grão; outras vezes se acoplava a eles um pau de debulhar, aquele que se fazia passar e repassar sobre o trigo; mas em todos os casos se deixava os bois sem focinheira; estavam livres para comer todo o grão que quisessem como prêmio pelo trabalho que estavam fazendo. A lei existente de que não se devia atar a boca aos bois encontra-se em Deuteronômio 25:4. A afirmação de que todo obreiro é digno de seu trabalho pertence a Jesus (Lucas 10:7). O mais provável é que Ele tenha citado um provérbio. Todo homem que trabalha merece seu sustento, e quanto mais trabalha, mais terá ganho e merecido. O cristianismo nunca teve nada que ver com a ética suave e sentimental que exige salários iguais para todos. O que recebe o homem deve ser sempre proporcional a seu trabalho. Mas devemos notar quais são os anciãos que devem ser especialmente honrados e retribuídos. Trata-se daqueles que trabalham na pregação e no ensino. Não se trata aqui do ancião que se limitava a dar conselhos e recomendações, cujo serviço consistia em palavras, discussões e argumentos e que considerava terminados seus deveres de ancião quando se sentou a uma mesa e falou. O homem que verdadeiramente honrava a Igreja era aquele que trabalhava para edificá-la com sua pregação da verdade às pessoas, e com sua tarefa de educar os mais jovens e os novos conversos no caminho cristão (BARCLAY).

Halley recomenda que neste versículo, Paulo escreve a respeito de como os presbíteros (11) deveriam ser tratados. Naqueles tempos – assim como nos dias de hoje (12) . Já a opinião de Moody é que dobrados honorários tem dois significados: "Honra" e "honorários" ou "compensação". Ambos significados estão aqui sem dúvida. No caso daqueles que trabalham pregando e ensinando, devotando assim todo o seu tempo, merecem remuneração da igreja (veja I Tm. 5:18). A palavra dobrados parece argumentar a favor de uma recompensa suficiente ou apropriada, e não de uma quantia dupla. Na LXX (13) , em Is. 40:2, a mesma palavra foi usada, e no contexto transmite a idéia de "plenamente equivalente"(14) .
Desta forma, não resta dúvidas de que o Novo Testamento confirma nossa responsabilidade como cristãos de manter os nossos líderes espirituais que na sua maioria são os Pastores, que governam a igreja do Senhor com vida e responsabilidade de ensinar-nos a tão preciosa Palavra de Deus.

CONCLUSÃO

É sempre gratificante o trabalho de pesquisa. Aqui procuramos através de argumentos teológicos, baseados em autoridades no assunto, sistematizar argumentações que favorecessem nossas expectativas na discussão em pauta. Para tanto, conclui-se que, não é confuso manter explicações acerca do ensino do sustento pastoral, por se tratar de admoestações escriturísticas reveladas para nosso ensino e compreensão. Portanto, somos de modo geral, responsáveis, pela manutenção e sustento daqueles que estão a frente do rebanho de Deus que é a igreja.

NOTAS

1 Ver Livingston, Et All. Comentário Bíblico Beacon, 2009, vol. 1, p. 359.
2 Dicionário Vine, 2004, p. 271, 272.
3 ‘Este’ nome foi obtido da LXX através de uma tradução inacurada do verso 17:18, o qual corretamente traduzido daria, “Esta é a cópia (ou repetição) da lei” (CHAMPLIN, Vol. 2, 2008, p. 116).
4 Ver Stamps, Bíblia de Estudo Pentecostal, 2002, p. 261, nota.
5 Esta lista é disposta por Roy B. Zuck em, Teologia do Novo Testamento, 2008, Sumário.
6 Confira Roy B. Zuck, 2008, p. 369.
7 Palavra portuguesa que é transliteração do termo grego presbúteros, “ancião”, “velho”. Na Igreja primitiva esse título era usado de modo intercambiável com outros dois, “bispo” e “pastor” (CHAMPLIN, 2008, Vol. 5, p. 372).
8 Ibidem nota 4.
9 Bíblia de Estudo Dake, 2009, p. 1928, nota.
10 Russell P. Sheed, Bíblia Sheed, 1997, p. 1692, nota.
11 Ver nota 7.
12 Manual bíblico, 2001, p. 668.
13 Durante o reinado de Ptolomeu II Filadelfo (um rei egípicio), os judeus receberam privilégios políticos e religiosos totais. Também foi durante este período que o Egito passou por um tremendo programa cultural e educacional [...] neste programa inclui-se a fundação do museu de Alexandria e a tradução das grandes obras para o grego. Entre as obras que começaram a ser traduzidas para o grego, nessa época, estava o Antigo Testamento hebraico. [...] Os líderes do judaísmo em Alexandria produziram uma versão modelar do Antigo Testamento em língua grega conhecida pelo nome de Septuaginta (LXX), palavra grega que significa setenta. Embora esse termo se aplique estritamente ao Pentateuco, que foi o único trecho da Bíblia hebraica que se traduziu totalmente durante o tempo de Ptolomeu Filadelfo, essa palavra viria a denotar a tradução para o grego de todo o Antigo Testamento (GEISLER; NIX, 2006, p. 195,196).
14 Comentário bíblico de Moody, versão ebook.

BIBLIOGRAFIA

BARCLAY, William. Comentário Bíblico. Versão Ebook.
BÍBLIA Sagrada. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. 2000. Sociedade Bíblica do Brasil – SP.
CHAMPLIN, Russell Norman. BENTES, João Marques. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol. 2. 9ª edição, 2008. Editora e Distribuidora Candeia – SP.
, Russell Norman. BENTES, João Marques. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol. 5. 9ª edição, 2008. Editora e Distribuidora Candeia – SP.
DAKE, Finis Jennings. Bíblia de Estudo. 2009. CPAD – RJ.
GEISLER, Norman e NIX, William. Introdução Bíblica. Como a Bíblia chegou até nós. (Tradução: Ramos, Oswaldo), 2006. Vida Nova – SP.
HALLEY, Henry Hampton. Manual Bíblico de Halley: Nova Versão Internacional (NVI) /(Tradução: Chown, Gordon), 2001. Editora Vida – SP. LIVINGSTON, George Herbert. Et All. Comentário Bíblico Beacon. (Tradução: Macedo, Luís Aron de). Vol. 1. 3ª edição, 2009. CPAD – RJ.
MOODY. Comentário Bíblico. Versão Ebook.
SHEDD, Russell P. Bíblia Shedd. 1997. Editora Vida Nova – SP.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. 2002. CPAD – RJ.
VINE, W. E.; UNGER, Merril F.; JR. Willian White. Dicionário Vine. (Tradução: Macedo, Luís Aron de). 4º edição, 2004. CPAD – RJ.
ZUCK, Roy B. Teologia do Novo Testamento.2008. CPAD – RJ.

2 comentários:

  1. Além de muito bem fundamentada e refenciada sua postagem, quero destacar que o blog do irmão está com uma aparência muito atrativa.

    Parabéns André!

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