terça-feira, 7 de março de 2017

ALERTAS À IGREJA HODIERNA EM I CORÍNTIOS 3 - Por André Rodrigues


Surge em caráter de urgência, entre os anos 55/56 d.C., a necessidade de enviar uma carta aos jovens cristãos em Corinto. Esta urgência se deu logo após receber informações “[...] pelos da família de Cloé” (cf. ICo 1.11) que havia naqueles dias procedimentos comportamentais contrários na igreja outrora fundada e administrada – pessoalmente – por Paulo. Naquele período, ao menos um ano e seis meses, o apóstolo enquanto esteve na cidade, por ocasião de sua segunda viagem missionária (ver At 18.1-18), admoestava-os juntamente com seus auxiliares, tendo Priscila e Áquila como os principais.  Sabe-se ainda que toda a congregação em Corinto se desvirtuava acentuadamente dos ensinos outorgados pelo apóstolo quando esteve presente. Para tanto, Paulo, após conhecimento dos fatos propõem-se a escrever trazendo-lhes advertências para as suas iníquas atitudes. A carta enviada por ele àquela igreja, sem exagero poder-se-ia dizer que se trata da mais confrontadora das epístolas dada a gravidade da situação em que se encontrava.

Corinto era uma das mais importantes cidades no tempo do apóstolo. De acordo com Stamps “era, em muitos aspectos, a metrópole grega de maior destaque nos tempos de Paulo”[1]. No entanto, as prerrogativas positivas de Corinto, como cidade, não refletiam na sociedade e bem menos na igreja, pelo contrário, ele ressalta também e com maestria resumida que “Corinto era intelectualmente arrogante, materialmente próspera e moralmente corrupta. O pecado, em todas as suas formas, grassava na cidade de má fama, pela sua licenciosidade”[2]. A moralidade e a ética em Corinto eram escassas; a jovem igreja entranhada no ambiente de total depravação seguia os mesmos passos, agindo ao seu bel-prazer como se não houvesse rédeas que lhes sustentassem.  

Na epístola são encontradas diversas nuances concernentes a estrutura de formação para uma igreja genuinamente cristã. A carta nos traz, assim como para os coríntios, verdades inexoráveis e procedimentos que regulariam a forma de culto, de conduta, da ética, do casamento, do celibato, da liberdade cristã, do amor, dos dons espirituais, da ressurreição dentre outras coisas. Um verdadeiro compêndio de regras e esclarecimentos com respeito a normas eclesiásticas e, consequentemente a fé cristã.

Muitos assuntos contidos nesta epístola – para nosso ensino – poderiam ser trazidos ao debate, entretanto, como base, usaremos aqui conselhos elaborados por Paulo – sob a inspiração do Espírito Santo – no tratamento dado à igreja, especialmente no capítulo três, referindo-se a questões voltadas para a contenção da desordem na igreja – como Ministério – tomando a premissa da não pouca diferença daqueles dias e as mesmas circunstâncias em semelhança que os nossos.

Assim, o que poderíamos chamar de primeiro alerta inserido no texto quanto aos crentes daquela igreja – e por extensão, a nós – foi a tristeza de não poder “falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo” (vv. 1). Por certo, grande foi a preocupação e acima de qualquer sentimento, a decepção do apóstolo ao tomar conhecimento dos fatos que ocorreram e ocorriam com frequência na congregação, simplesmente pelo fato de não terem tidos desenvolvimento espiritual. Na verdade, toda a problemática instalada naquela igreja deixa transparecer à falta de amadurecimento da maioria daqueles crentes. Ensinamentos quando não observados tendem a gerar um enorme desconforto institucional e nesta perspectiva, o apóstolo os exorta fortemente, pois havia lhes comunicado os primeiros ditames da fé em Cristo e – ao que parece – haviam negligenciado ferrenhamente, pouco tempo depois após sua saída. Aqueles novos conversos haviam instituído diferentes grupos e se alto intitulavam ser deste ou daquele – igualmente, como nos nossos dias – quando estas coisas sob nenhuma hipótese poderiam ser assim. Exatamente neste aspecto, o apóstolo destaca a proeminência que deve ser dada exclusivamente a Deus, sendo – Este – o único responsável pelo crescimento, como nos mostra o texto: “Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Pelo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (vv. 6,7). Fica evidente o desconforto de Paulo numa situação visivelmente incomum. Aquilo que para a igreja de Corinto parecia – por costume – procedimentos normais, era na verdade uma deturpação da conduta cristã, havendo – entre eles – inclusive, contendas, invejas e dissensões (vv. 3). Como convém aos santos, os tais comportamentos supracitados, nem ao menos deveriam ser cogitados entre nós. A realidade conquanto é totalmente às avessas como na referida igreja e serve-nos de alerta. Porventura, não são assim os dias em que vivemos?

Em segundo lugar, o apóstolo ressalta Cristo como fundamento. Ele e somente Ele é digno de toda a atenção, pelo que somos – em contribuição para o Reino – apenas, “cooperadores de Deus” (vv. 9). Não possuindo nada para nos envaidecer. O apóstolo Paulo enfatiza ainda que “[...] ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (vv. 11) e através deste alerta destaca – por revelação – a multiface das manifestações das obras de cada cristão que àquele Dia fará alusão, se são ou não convenientes e dignas ao recebimento de galardão (vv. 12-15). Como nos dias de Corinto, hoje, Cristo como único fundamento, remete a uma distante realidade em muitos lugares – tidos – originalmente como cristãos. As invencionices em nossos dias são tantas que o que deveria ser prioridade – adoração e anunciação das benesses advindas do Cristo – na prática nem o detém como sendo principal objetivo de culto e assim seguem seus incansáveis desvarios.  

Por fim, o apóstolo destaca a importância concernente a identificação de que somos templo de Deus e habitação do Espírito (vv. 16, 17) e que não se trata de vã filosofia quando o assunto é Cristo Jesus e sua organização eclesiástica. Aqui, no ínterim do contexto cristão, o que não for próprio de ensino que nos leve para mais próximo de Deus e que nos permita ser autênticos seguidores de Cristo Jesus deve ser rejeitado e terminantemente aniquilado, “[...] porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia. E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos” (vv. 19, 20). Não deve em nosso meio haver espaço para tolas discussões. Todos nós, somos um em Cristo. Todos somos membros de um só corpo que possui Cristo como cabeça. Questões que não nos forneçam crescimento na fé devem ficar de fora. Obviamente, alguns poucos assuntos têm sua importância, no entanto, o nosso principal objetivo – como igreja – é render graças para com o nosso Deus; anunciar a iminente volta de Jesus em resgates dos seus; e procurar uma vivência de obediência irrestrita à sua palavra. Tenhamos – como nos aconselha o apóstolo – a consciência da não valorização humana exacerbada e sectária, pelo que o texto revela: “[...] ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja o presente, seja o futuro, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus” (vv. 21, 23). Assim, ao entender as objeções expostas pelo escritor neste capítulo, devamos está mais firmes, mais constantes, amadurecidos e, no aguardo consciente da bem aventurada esperança de um dia podermos estar com o Senhor nos céus de glória.




[1] (STAMPS, Donald C., 2002, p. 1733).
[2] ÍBIDEM

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