ÍNDICE
Introdução
Exegese no livro de Jeremias
Considerações Preliminares
Ambiente Histórico
A Mensagem/Ensino de Jeremias
Visão Panorâmica/Autoria
O Caráter do Profeta
Exegese de Jeremias cap.22.29
• Breve Comentário cap.22
• Continuação Comentário
Nosso Comentário/Breve Aplicação
Bibliografia
INTRODUÇÃO
Semelhantemente ao trabalho realizado por um engenheiro de porte elevado em busca de uma obra diferenciada, por um atleta que se esforça em busca da vitória, por um poeta que detém sua inspiração e corre para anotá-la, assim é o exegeta. A cada circunstância, a cada momento, a cada descoberta, a exegese torna-se ainda mais atraente, isto porque, o amante do conhecimento bíblico além de estar fazendo um bem em seu ofício, alimenta-se desta ferramenta deliciosa que é a Palavra de Deus. É sem dúvida alguma um árduo trabalho, entretanto, satisfatório. Diante desta tão grande tarefa, tentaremos conduzir esta humilde obra no sentido de entender as situações que permeavam os dias do profeta Jeremias, com seus contextos gerais, e, tentar também extrair pelo menos, um versículo para a exegese, propriamente dita.
EXEGESE NO LIVRO DE JEREMIAS
Esboço
I. Chamada e Atribuições de Jeremias (1.1-19)
II. Palavra Profética de Jeremias a Judá (2.1—33.26)
A. Profecias de Juízo (2.1—29.32)
1. A Apostasia Deliberada de Judá e Sua Assolação Iminente (2.1—6.30)
2. A Loucura e Hipocrisia Religiosa de Judá (7.1—10.25)
3. A Infidelidade de Judá ao Concerto (11.1—13.27)
4. Predições de Julgamentos, Intercessão, Solidão e Pecados de Judá (14.1—17.27)
5. Duas Parábolas Proféticas e uma Lamentação (18.1—20.18)
6. Condenação dos Reis Ímpios, dos Falsos Profetas e da Decadente Judá (21.1—24.10)
7. O Cativeiro Babilônico Vindouro (25.1—29.32)
B. Profecias Acerca da Restauração (30.1—33.26)
1. Dimensões da Restauração Divina do Povo de Deus (30.1—31.26)
2. Promessa de um Novo Concerto e uma Ilustração da Fé (31.27—32.44)
3. O Justo Renovo de Davi (33.1-26)
III. O Papel de Jeremias Como Atalaia Profético (34.1—45.5)
A. Declaração a Zedequias do Cativeiro Vindouro (34.1-22)
B. A Lição dos Recabitas (35.1-19)
C. A Queima dos Escritos de Jeremias e Sua Dupla Prisão (36.1—38.28)
D. O Cumprimento da Profecia de Jeremias sobre a Queda de Jerusalém (39.1-18)
E. Ministério de Jeremias Após a Queda de Jerusalém (40.1—45.5)
IV. A Palavra Profética de Jeremias às Nações (46.1—51.64)
A. Egito (46.1-28)
B. Filístia (47.1-7)
C. Moabe (48.1-47)
D. Amom (49.1-6)
E. Edom (49.7-22)
F. Damasco (49.23-27)
G. Arábia (49.28-33)
H. Elão (49.34-39)
I. Babilônia (50.1—51.64)
V. Apêndice Histórico da Queda de Jerusalém (52.1-34)
Autor: Jeremias
Tema: O Juízo Divino e Inevitável de Judá
Data: Cerca de 585—580 a.C.
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
O ministério profético de Jeremias foi dirigido ao Reino do Sul, Judá, durante os últimos quarenta anos de sua história (626—586 a.C.). Ele viveu para ser testemunha das invasões babilônicas de Judá, que resultaram na destruição de Jerusalém e do templo. Como o chamado de Jeremias propunha-se a que ele profetizasse à nação durante os últimos anos de seu declínio e queda, é compreensível que o livro do profeta esteja cheio de prenúncios sombrios. Jeremias, filho de sacerdote, nasceu e cresceu na aldeia sacerdotal de Anatote (mais de 6 km ao nordeste de Jerusalém) durante o reinado do ímpio rei Manassés. Jeremias começou seu ministério profético durante o décimo-terceiro ano do reinado do bom rei Josias, e apoiou seu movimento de reforma. Não demorou para perceber, no entanto, que as mudanças não estavam resultando numa verdadeira transformação de sentimentos do povo. Jeremias advertiu que, a não ser que houvesse verdadeiro arrependimento em escala nacional, a condenação e a destruição viriam de repente.
Em 612 a.C., a Assíria foi conquistada por uma coalizão babilônica. Cerca de quatro anos depois da morte do rei Josias, o Egito foi derrotado por Babilônia na batalha de Carquemis (605 a.C.; ver 46.2). Naquele mesmo ano o exército babilônico de Nabucodonosor invadiu a Palestina, capturou Jerusalém e deportou alguns dos jovens mais seletos de Jerusalém para Babilônia, entre eles Daniel e seus três amigos. Uma segunda campanha contra Jerusalém ocorreu em 597 a.C., ocasião em que foram levados dez mil cativos à Babilônia, entre os quais Ezequiel. Durante todo esse tempo, as advertências proféticas de Jeremias a respeito do juízo divino iminente passaram despercebidas pela nação. A última invasão babilônica tomou Jerusalém, o templo e a totalidade do reino de Judá em 586 a.C.
Este livro profético revela que Jeremias, frequentemente chamado de “o profeta das lágrimas”, era um homem com uma mensagem severa, mas de coração sensível e quebrantado (e.g., 8.21—9.1). Seu espírito sensível tornou mais intenso o seu sofrimento, à medida que a palavra de Deus ia sendo repudiada por seus familiares e amigos, pelos sacerdotes e reis, e pela totalidade do povo de Judá. Embora fosse solitário e rejeitado durante toda a sua vida, Jeremias não deixou de ser um dos mais ousados e corajosos profetas. Apesar da grande oposição, cumpriu fielmente sua chamada profética para advertir seus concidadãos de que o juízo divino estava às portas. Resumindo a vida de Jeremias, certo escritor disse: “Nunca foi imposto sobre um homem mortal fardo mais esmagador. Em toda a história da raça judaica, nunca houve semelhante exemplo de intensa sinceridade, sofrimento sem alívio, proclamação destemida da mensagem de Deus e intercessão incansável de um profeta em favor do seu povo como se observa no ministério de Jeremias. Mas a tragédia de sua vida foi esta: pregava a ouvidos surdos e só recebia ódio em troca do seu amor aos compatriotas” (Farley). O autor do livro é indicado com clareza: Jeremias (1.1). Depois de profetizar durante vinte anos a Judá, Jeremias foi ordenado por Deus a deixar a sua mensagem por escrito. Assim o fez, ao ditar suas profecias a seu fiel secretário, Baruque (36.1-4). Visto que Jeremias estava proibido de comparecer diante do rei, enviou então Baruque para ler as profecias no templo. Depois disso, Jeudi as leu diante do rei Joaquim. O monarca demonstrou desprezo a Jeremias e à palavra do Senhor ao cortar e queimar o rolo (36.22,23). Jeremias voltou a ditar suas profecias a Baruque, e dessa vez incluiu até mais do que estava no primeiro rolo.
AMBIENTE HISTÓRICO
Quando Deus chamou Jeremias ao ministério profético em 626 A.C., a Assíria, senhora do mundo, sujeitara Judá ao seu domínio, cobrando-lhe tributo. Todavia, a própria Assíria gradualmente enfraqueceu, após a morte de Assurbanipal em 633 A. C. Certas províncias do império perderam-se em 614 A. C., e outras no cerco final de dois anos. Assurubalut foi o último monarca reinante, conservando-se em Harran durante, pelo menos, dois anos após a destruição de Nínive em 612 A. C.
Potencialmente, o trono da Assíria estava aberto a qualquer cabo de guerra do tempo. Neco, do Egito, conduziu as suas forças até ao norte da Palestina, defrontando e matando Josias, rei de Judá, em Megido em 609 A. C., subjugando a Síria e pondo-se novamente em marcha até ao Eufrates. Foi, porém, enfrentado por Nabucodonosor da Babilônia, que desbaratou os seus exércitos na histórica batalha de Carquemis e o obrigou a recoar para as suas próprias fronteiras, pondo, assim, termo temporário à ambição egípcia de dominar o Oriente. Foi deste modo que Judá, até ali sujeito à Assíria, passou automaticamente para o controle da Babilônia.
Depois da morte trágica de Josias, o seu povo ungiu Jeoacaz, seu filho, rei em seu lugar. Neco, porém, depô-lo a favor de Jeoaquim, seu irmão, pensando que ele serviria melhor os interesses egípcios. Que esta convicção tinha bons fundamentos prova-o claramente o tratamento a que Jeoaquim sujeitou o profeta Jeremias. Depois de Carquemis, Nabucodonosor interessou-se menos por Judá, possivelmente por o descontentamento em Babilônia exigir o seu regresso imediato após ter sido desferido um golpe decisivo contra o Egito. Entretanto, Jeoaquim, confiante nas promessas egípcias de auxí1io massiço, fez uma tentativa de sacudir o jugo de Babilônia. Em resultado disso, em 596 A. C., Nabucodonosor, consolidado o seu poder na pátria, atacou Jerusalém, prendeu Jeoaquim, filho do rebelde e agora seu sucessor, e levou-o com algum do seu povo para o cativeiro. Ao mesmo tempo, pôs Zedequias no trono.
O Egito não ousava arriscar uma guerra com Babilônia; em vez disso, procurava enfraquecer pela intriga os laços impostos por Nabucodonosor à Síria e Palestina. A Neco sucedeu no trono egípcio Psamatique II, e presumivelmente foi ele quem procurou persuadir estes países a tomarem parte numa aliança com o Egito contra Babilônia. Zedequias foi um dos monarcas abordados, e parece haver fortes indícios de ter existido um partido pró-egito na corte. Ananias, o profeta, salientava-se bastante nesta conjuntura, mas Jeremias opôs-se firmemente à proposta.
Jeremias opunha-se vigorosamente a estes funcionários da corte. Como porta-voz de Jeová, denunciava-os como falsos profetas, afirmando que as suas atividades pró-Egito eram contrárias à Sua vontade e teriam um resultado trágico. Sem dúvida se consideravam verdadeiros patriotas, e é evidente que o seu ódio feroz a Jeremias se fundamentava no fato de, na opinião deles, o profeta ser um traidor confesso. Chamando-lhes falsos profetas, Jeremias não implica necessariamente que fossem homens cruéis, mas antes que a sua intuição ou critério não eram inspirados por Iavé. A sua acusação contra os seus adversários é que não fora Iavé quem os mandara, mas que eles se destacam por iniciativa própria, pelo que as suas predições não se realizarão. Era, pois, aí que residia a falsidade. Falavam em nome de Iavé quando, afinal, Ele não lhes tinha ordenado que o fizessem. De tudo isto se depreende que a sinceridade não basta; só a inspiração divina é que faz de alguém um profeta.
É impossível dizer se Nabucodonosor tinha recebido um aviso direto do descontentamento que grassava, ou apenas boatos, mas o certo é que Zedequias foi intimado a avistar-se com ele e a descrever as condições na sua pátria. O seu regresso implica que deu garantias de fidelidade. É pena que, ao que parece, ele não tivesse a coragem e a força moral para resistir à influência de conspiradores pró-egipcistas como Ananias e os seus confederados. Jeremias instava constantemente com o rei para que permanecesse fiel ao seu compromisso, mas quando Hofra se tornou faraó em 589 A C., sucedendo a Psamatique II, a influência egípcia na corte acentuou-se ainda mais e, em resultado de tramas urdidas em segredo, Zedequias foi finalmente induzido a faltar à sua palavra para com Nabucodonosor. O Egito foi lento no seu socorro, e o monarca babilônio tornou a pôr cerco a Jerusalém em 587 A. C. Por fim, apareceu o exército egípcio e os babilônios levantaram o cerco temporariamente. Foi nessa altura que Jeremias foi preso como desertor que procurava fugir para os caldeus (ver Jr 37.11-15).
A repetição do assédio parece ter provocado uma crise. Jeremias tinha a certeza de que a sua intuição provinha de Deus, de que Ele lhe revelara os Seus propósitos de transformar Babilônia no instrumento da Sua vontade. A confiança no Egito, portanto, só poderia abrir caminho à tragédia e ao exílio. Além disso, os inimigos do profeta serviam-se do nome de Iavé para apóiar a sua política pró-egipcista. Por conseguinte, afirmavam que a atitude e as palavras de Jeremias enfraqueciam a vontade nacional de combater. Esta luta revela-se de forma crucial na pessoa de Zedequias, que se erguia entre as duas facções, sendo atraído ora para um dos partidos, ora para o outro. Costuma-se dizer que Zedequias era um fraco, incapaz de tomar uma decisão e enfrentar as conseqüências. Percebe-se que Jeremias não o conseguiu influenciar de forma a fazê-lo manter-se firme no seu juramento de fidelidade para com Nabucodonosor. A batalha foi ganha pelos falsos profetas e Zedequias arriscou a sua sorte, mas pagou amargamente a sua decisão e delongas. O Egito revelou-se uma cana quebrada; o segundo cerco foi coroado de êxito, os babilônios comportavam-se de forma desapiedada e, com grande desgosto seu, Jeremias assistiu à amarga realização da sua profecia.
A MENSAGEM E ENSINO DE JEREMIAS
Politicamente, como vimos, o profeta perdeu, mas espiritualmente obteve retumbante vitória. Com Amós e Oséias, confiava em como, apesar de a idolatria e a infidelidade a Iavé acarretaram necessariamente o castigo, Israel e Judá não seriam destituídos definitivamente da graça de Deus. Com esses profetas, comungava também na fé que o exílio como disciplina seria, não totalmente trágico, mas uma experiência corretiva. O estado como estado estava condenado, mas a fé no Senhor e a fé do Senhor no Seu povo escolhido permaneceriam e sobreviveriam àquele choque crucial. Viu também que o antigo concerto centralizado no templo e no seu cerimonial era ineficaz. Assim, acabou por descortinar que o Senhor escreveria um novo concerto no coração do "remanescente", através do qual a religião vital se manteria dinâmica e seria um veículo de bênção para além das fronteiras da nação.
Quando o livro da Lei encontrado por Hilquias nas ruínas do templo provocou a reforma do reinado de Josias em 621 A. C., parece evidente que, de princípio, Jeremias vibrou no mesmo entusiasmo que o monarca, emprestando a este a sua influência e auxílio. Parece igualmente evidente, porém, que, mais tarde, a sua confiança nesse avivamento começou a enfraquecer, considerando-o o profeta demasiado fácil e superficial para satisfazer os requisitos do Senhor. A grande necessidade era de uma mudança de coração, só possível num povo que depositasse a sua fé tão-somente no Senhor. Ora, a geração de Jeremias recusava-se a conceder essa centralidade de fé.
Muitos comentadores têm afirmado que Jeremias, com outros profetas, se opunha ao ritual de sacrifícios, considerando-o algo que não fora ordenado pelo Senhor e que Lhe repugnava. Todavia, a atitude de Jeremias será melhor interpretada se nós descortinarmos a lição de que, sempre que um sacrifício não constitui um verdadeiro índice da adoração e arrependimento do indivíduo, então esse sacrifício não terá valor, sendo, portanto, contrário ao desejo e vontade do Senhor. Quando muito, um sacrifício só poderia ser um meio para atingir o fim espiritual de um regresso contrito ao Senhor, jamais podendo constituir um fim suficiente em si.
VISÃO PANORÂMICA
O livro é essencialmente uma coletânea de profecias de Jeremias, dirigidas principalmente a Judá (2—29), mas também a nove nações estrangeiras (46—51); estas profecias focalizam principalmente o juízo, embora haja algumas que dizem respeito à restauração (ver especialmente os caps. 30—33). Essas profecias não estão dispostas numa ordem rigidamente cronológica ou temática, embora o livro de Jeremias tenha a estrutura global indicada no esboço. Parte do livro está escrita em linguagem poética, ao passo que outras têm a forma de prosa ou narrativa. Suas mensagens proféticas estão entrelaçadas com os seguintes aspectos históricos: (1) a vida e ministério do profeta (e.g., caps. 1; 34—38; 40—45); (2) a história de Judá, principalmente durante o período dos reis: Josias (caps. 1—6), Joaquim (7—20) e Zedequias (21—25; 34), inclusive a queda de Jerusalém (cap. 39), e (3) eventos internacionais que envolviam Babilônia e outras nações (25—29; 46—52). Assim como Ezequiel, Jeremias pratica várias ações simbólicas a fim de ilustrar de modo claro a sua mensagem profética: e.g., o cinto podre (13.1-14), a seca (14.1-9), a proibição divina de não se casar ou ter filhos (16.1-9), o oleiro e o barro (18.1-11), o vaso do oleiro, que se fragmentou (19.1-13), os dois cestos de figos (24.1-10), o jugo no seu pescoço (27.1-11), a compra de um terreno na sua cidade natal (32.6-15) e as grandes pedras colocadas no pavimento de tijolos de Faraó (43.8-13). A compreensão clara que Jeremias tinha da sua chamada profética (1.17), juntamente com as frequentes reafirmações de Deus (e.g., 3.12; 7.2, 27,28; 11.2, 6; 13.12,13; 17.19,20), capacitaram-no a proclamar com ousadia e fé a palavra profética a Judá, apesar de esta nação sempre reagir com hostilidade, rejeição e perseguição (e.g., 15.20,21). Após a destruição de Jerusalém, Jeremias foi levado contra sua vontade ao Egito, onde continuou profetizando até a sua morte (caps. 43; 44).
AUTORIA
Trata-se de um problema muito complexo que não pode ser eficazmente abordado numa breve introdução como esta. O próprio livro diz que Baruque, o escriba, escreveu as profecias que Jeremias pronunciou (ver Jr 36.32), e declara que "ainda se acrescentaram a elas muitas palavras semelhantes". Duma maneira geral, Baruque parece ter sido fiel amanuense de Jeremias e, note-se, acompanhou-o até ao Egito (Jr 43.6). As próprias profecias não vem em ordem cronológica, o que pode causar confusão numa mentalidade ocidental, habituada a encarar tais problemas de uma maneira lógica. O problema resulta ainda mais complicado por haver grandes diferenças entre o texto hebraico e o dos Setenta deste livro, fenômeno que se verifica mais nele do que em qualquer outro. Estas diferenças não dizem respeito apenas às palavras mas afetam a ordem de apresentação do conteúdo. Todavia as versões atuais trazem Jeremias como sendo o escritor do livro que lava seu nome.
O CARÁTER DO PROFETA
Jeremias era, de fato, um homem de Deus, sensível a toda a influência espiritual, suscetível de profunda emoção, dotado de visão clara e critério cristalino. Não podia ser comprado nem cavilosamente convencido. Seguia o caminho traçado pelo seu espírito, este sempre apoiado no sentimento de adoração que vivia dentro dele. Foi um homem de Deus do princípio ao fim e, portanto, um patriota fiel até a tragédia. Não era cego para o pecado e loucura do seu povo. Descortinou com profunda amargura o nexo férreo entre o pecado e o castigo, e previu o exílio como uma punição inevitável e irrevogável, a não ser que se verificasse uma conversão. Foi para a provocar que despendeu sem reservas todo o seu esforço. Essencialmente, foi um mediador impelido pelo patriotismo e pela fé em Deus. Daí a veemência das suas emoções e mensagens, ora contra o seu povo, ora intercedendo junto do Senhor. Daí também o seu isolamento, a sua agonia de espírito, os seus cruciais conflitos íntimos. A sua paixão iluminava-lhe os passos, o que facilitou a sua tarefa, embora tornando-a desagradável. Viu a condenação, mas não a tragédia final. Tanto Israel como Judá tinham um futuro em Deus, o Qual seria a sua justiça. Haveria um novo concerto. Em Deus leu promessas, não futilidade, pelo que "ficou firme como vendo o invisível". Neste vulto descarnado, clamante, vemos o que Deus ousa pedir ao homem, e o que um homem assim pode dar. A descoberta do Jeremias autêntico pode bem constituir o renascimento de quem o descobre.
EXEGESE DE JEREMIAS 22.29
(Jr.22.29 – Ó terra, terra, terra, ouve a palavra do Senhor!)
Jr.22.29 -אֶרֶץ אֶרֶץ אָרֶץ | שִׁמְעִי דְּבַר יְהוָה:
אֶרֶץ - (aretz) sf. Terra, se seguido do (h; rei + pata),daria אֶרֶץh; com o sentido de A Terra, já no contexto deste versículo a melhor expressão seria, Ó Terra, como encontramos nas atuais traduções.
אֶרֶץ - (eretz) sf. O mesmo substantivo feminino também com significado Terra, seqüenciando o versículo, talvez com o intuito de ênfase, e é apresentado na sequência ainda outra vez. (אֶרֶץ אָרֶץ/terra,terra).
שִׁמְעִי - (shimi) f.sg. Derivado de [mv; “lit. ele ouviu”, que é um verbo imperativo Qal, da classe dos verbos considerados fracos. שִׁמְעִי neste contexto indica imperativo (ouve), no sentido de atentar, praticar, obedecer.
דְּבַר - (devar) Esta palavra deriva do sf. דְּבַר (davar),que tem o significado de : Palavra, assunto, matéria; No contexto indica Palavra no sentido de ser aquela derivada do Senhor.
הוָהy] – (Iehová) Jeová, Senhor. Nome próprio de Deus. A Bíblia de Jerusalém (Nova edição revista e ampliada, Ed. Paulus), trás a palavra Iahweh, (hwhy) Javeh, de onde deriva Jeová.
Jr. 22.29 Fazendo a junção das palavras já de modo organizado podemos dizer literalmente:
“Terra! Terra! Terra! obedece aos mandamentos de Jeová”.
Vejamos a seguir como dizem as nossas principais versões:
AEC- Ó terra, terra, terra, ouve a palavra do Senhor!
ACF- Ó terra, terra, terra! Ouve a palavra do SENHOR.
ARA- Ó terra, terra, terra! Ouve a palavra do Senhor!
ARC- Ó terra, terra, terra! Ouve a palavra do Senhor!
BV- Ó terra, terra, terra; ouve a palavra do Senhor.
NTLH- Ó terra, terra, terra! Escute o que o Senhor disse: NERA- Terra!Terra!Terra! Escuta a palavra de Iahweh.
KJV- O earth, earth, earth, hear the word of the Lord.
BREVE COMENTÁRIO CAP. 22
Seguindo a orientação de Donald C. Stamps, comentarista da BEP ( Bíblia de Estudo Pentecostal) a seção que vai de (21.1—24.10), é chamada de: Condenação dos Reis Ímpios, dos Falsos Profetas e da Decadente Judá.
E de acordo com a organização de F. Davidson de (O Novo Comentário da Bíblia), a porção é intitulada: Reis e Profetas de Judá: A visão do fim – (Jr 22.1-25.38) e Esta seção segundo o autor, contém várias profecias respeitantes aos reis contemporâneos de Judá; sendo impossível saber se foram ou não proferidas por Jeremias na ordem em que se encontram.
1. INTRODUÇÃO (Jr 22.1-9). Tanto o rei como o povo deverão exercer julgamento e misericórdia, especialmente para os mais necessitados, de outro modo a casa de Davi será assolada. Iavé compromete-Se pelo juramento mais solene a punir a desobediência com a desolação: Por Mim mesmo tenho jurado (5); A casa de Davi, simbolizada pela floresta do Líbano, será destruída pelo fogo. Uma vez mais, a causa de semelhante catástrofe é a idolatria impenitente. Os teus cedros escolhidos (7); entenda-se; os dirigentes da nação.
Jr-22.10
2. SALUM (Jr 22.10-12) Josias, cuja morte em Megido (608 A. C.) constituiu uma catástrofe para o movimento de reforma, não deverá ser chorado. Não choreis o morto (10), mas antes Salum, isto é, Jeoacaz, que morreu exilado no Egito depois de haver reinado durante apenas três meses (2Rs 23.36-24.7). Foi este o primeiro monarca do reino do sul a morrer no exílio. O sentido do vers. 10 é que é melhor morrer no campo de batalha do que no cativeiro.
Jr-22.13
3. JEOAQUIM (Jr 22.13-23). O pai deste rei tinha sido um reformador mas procedera mal aos olhos de Deus. Josias fora justo, e o filho era injusto. Josias fora um pai para o seu povo, mas seu filho espezinhou perfidamente os seus direitos básicos; um era um homem austero, o outro amante da ostentação; o primeiro morreu como um herói, e o segundo foi enterrado como um jumento, sem cerimônias fúnebres (2Rs 24.6). Os vers. 20-23 podem dizer respeito a qualquer rei desconhecido. Namorados (20), palavra que significa "aliados". Líbano... Basã... Abarim (20) eram montanhas que davam para Israel e Judá, começando no norte e estendendo-se pela fronteira de leste.
Jr-22.24
4. JEOAQUIM (Jr 22.24-30). Nesta profecia acerca de Jeoaquim ou Jeconias parecem combinar-se dois oráculos de Jeremias, o primeiro (vers. 24-27) acerca do cativeiro futuro, e o segundo (vers. 28-30) acerca do cativeiro conforme já experimentado. Todo este trecho constitui, porém, uma lamentação pelo estado desolado de Jerusalém devido à política míope dos seus reis. Jeoaquim e sua mãe são lançados fora para morrerem no exílio, profecia esta que se cumpriu conforme descrito em 2Rs 24.8 e seguintes. Em 597 A. C., Nabucodonosor marchou contra Jerusalém, e Jeoaquim, sua mãe e toda a casa real saíram ao seu encontro, sendo levados para Babilônia. O ex-rei foi posto em liberdade após trinta e sete anos de cativeiro.
NOSSO COMENTÁRIO
De acordo com o que entendemos, em se tratando, agora não mais de todo o capítulo, mas precisamente no comentário do versículo em apreço, podemos concluir de maneira bem clara que Deus estava imensamente furioso com os acontecimentos e, ao que parece, bradou, através do profeta, com a expressão: “Ó terra! Terra! Terra! Ouve a palavra do Senhor.” O restante do capítulo em seu contexto geral para frente ou para trás, não faz alusão, acredito, a expressão do vers. 29, e, entendo a expressão mais como um brado, um desabafo, de fato. É possível encontrar-mos em passagens paralelas algumas frases expressas de um mesmo significado e.g. Dt. 32.1 que diz: “Inclinai os ouvidos, ó céus, e falarei; e ouça a terra as palavras de minha boca.” E Is. 1.2a diz: “Ouvi, ó céus, e presta ouvidos, tu, ó terra, porque fala o senhor...” e ainda 34.1 do mesmo que diz: “Chegai-vos, nações, para ouvir; e vós, povos, escutai; ouça a terra e a sua plenitude, o mundo e tudo quanto produz.” (e neste contexto fala exatamente de indignação da parte de Deus para como a terra, ou seja, a humanidade md;a). Já Miquéias, o profeta diz o seguinte em Mq.1.2a: “Ouvi, todos os povos, presta atenção, ó terra...” Estas expressões revelam desabafo, brado, descontentamento. Algo que devesse chamar a atenção de imediato. Seria como se Deus estivesse dizendo: Ouçam-me para que possam se dar bem!
BREVE APLICAÇÃO
Como nos dias dos profetas, onde as rebeliões eram constantes, agora nos dias hodiernos a situação não é diferente. Há aqueles que infelizmente não estão nem aí para as correções que são lançadas pelos profetas da última hora, constituídos por Deus para esta geração tão perversa. Com o crescimento de igrejas intituladas “protestantes”, porém, sem nenhum caráter para tal, a diversidade de “doutrinas”, se é que possam ser chamadas assim, e a facilidade com que as “instruções” são destinadas, os participantes destes lugares encontram desculpas para todo tipo de desobediência, não levando a sério o compromisso de ser um verdadeiro representante de Deus, bem como, um autêntico seguidor de Jesus. Passando por cima dos ditames estabelecidos pela própria Palavra, atuando a seu bel prazer, sem escrúpulos, desordenados, soberbos, blasfemos, irreconciliáveis, em fim, para estes a expressão se aplica muito bem. Por outro lado, não no tocante, a àqueles que estão “no Caminho”, a população de nossos dias atuais está perdida no tempo, dando prioridades a inúmeras atividades e preocupados com muitas coisas que não corroboram com o Reino de Deus, assim a aplicação da expressão: “Ó terra! Terra! Terra! Ouve a palavra do Senhor,” também serve como alerta para aqueles que nem a esperança comporta em sua realidade.
BIBLIOGRAFIA
• O Novo Comentário da Bíblia. Editado e organizado pelo Prof. F. Davidson, MA, DD.Colaboradores Rev. A. M. Stibbs, MA, DD Rev. E. F. Kevan, MTh. Editado em português pelo Rev. Dr. Russell P. Shedd, MA, BD, PhD. Edições Vida Nova-SP
• Bíblia de Estudo Pentecostal. Antigo e Novo Testamento, Traduzida em português por João Ferreira de Almeida, com referências e algumas variantes. Edição Revista e Corrigida, Ed.1995, Edições CPAD-RJ 2002.