Depois de
analisar questões voltadas a definições, passaremos a analisar como se
procedeu em Jesus Cristo os ofícios de Profeta, Sacerdote e
Rei, traçando um paralelo entre seus usos e aplicações no passado com os mesmos
papéis desempenhados pelo Senhor em Seu Ministério. Analisaremos cada seção que
revele esses ofícios tanto nos evangelhos como nos outros escritos do Novo
Testamento.
2.1. O que é um profeta
Para darmos
início a esta discussão, é necessário definirmos, de modo acentuado, os conceitos de cada expressão no original dada ao termo
profeta. Berkhof faz uso desta prerrogativa na seção chamada por ele de “A
ideia escriturística de profeta”. Fazendo uso dos termos aplicados na
Escritura, diz: O Antigo Testamento emprega três
palavras para designar um profeta, a saber, nabhi,
ro’eh e chozeh. O sentido radical da palavra nabhi é incerto, mas, por passagens como Êx 7.1 e Dt 18.18, fica
evidente que a palavra designa alguém que vem com mensagem da parte de Deus
para o povo. As palavras ro’eh e chozeh acentuam o fato de que o profeta
é alguém que recebe revelações da parte de Deus, particularmente na forma de
visões. Outros designativos são “homens de Deus”, “mensageiro do Senhor” e
“vigia”. Estes apelativos indicam que os profetas estão prestando serviços ao
Senhor e velam pelos interesses espirituais do povo. No Novo Testamento usa-se
a palavra prophetes, composta de pro e
phemi. [...] a palavra prophemi
não significa “falar de antemão”, mas “proferir”. O profeta é alguém que fala
da parte de Deus. Desses nomes, tomados em conjunto, podemos deduzir que o
profeta é alguém que vê coisas, isto é, que recebe revelações, que está a
serviço de Deus, particularmente como mensageiro, e que fala em seu nome (2004,
p. 328).
Soares
corrobora a mesma definição de Berkhof e acrescenta ainda a quantidade de vezes em que cada palavra é apresentada nas
Escrituras. Nabi significa “porta-voz, orador, profeta”. De acordo com sua
exposição, esta é a mais comum das definições e aparece 309 vezes (HARRIS;
ARCHER, JR.; WALTER, 1998, p. 904, apud, 2008, p. 98). A palavra hozeh “vidente”, ocorre por 18 vezes
(HARRIS; ARCHER, JR.; WALTER, 1998, p. 446, apud, IBDEM), e ro’eh, que também significa “vidente,
como sinônimo de nabi ‘profeta’”, aparece 12 vezes (HARRIS; ARCHER, JR.;
WALTER, 1998, p. 1384, apud, IBDEM). Ainda em sua explicação, “a Septuaginta usa
o termo (prophetes), do grego pro, “antes” e phemi “falar”, e a Vulgata Latina, propheta, para traduzir estes termos hebraicos” (2008, p. 98).
Andrade é
simples em seu argumento, porém deixa importante detalhe para a
compreensão
da palavra:
[Do hb. Nabi; do gr. prophetes]
No Antigo Testamento, era a pessoa devidamente vocacionada e autorizada por
Deus para falar por Deus e em lugar de Deus (Ez 2.1-10). O profeta era um mestre incontestável quando sob a inspiração do
Espírito Santo (2007, p. 305, grifo meu).
Dentro dessa perspectiva, outro autor comenta que “profeta é
um porta-voz de Deus cujo teor da mensagem é de admoestação ou predição. Em
certo sentido, os patriarcas mencionados nas Escrituras foram os primeiros
profetas, desde Adão até Moisés” (BOYER, 2006, p. 537). Ele explica, com
detalhes, como se dá o início propriamente dito desta função de modo
específico. Por isso, acentua:
No sentido estrito, é a partir de
Samuel[1]
que começa o ministério profético. Entre esses profetas, encontram-se Elias,
Elizeu e Davi. A partir dessa época, começa outra ordem de profetas, divididos
em duas classes: 1) Os Profetas Maiores[2]:
Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel. 2) Os
Profetas Menores, isto é, que deixaram escritos menos extensos que os
livros dos Profetas Maiores, são em número de 12: Oséias, Joel, Amós, Obadias,
Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias (IBIDEM,
grifos do autor).
“Os profetas
são, portanto, a consciência espiritual da nação. São nomeados para fazer os reis, os sacerdotes e o povo lembrarem-se de suas
obrigações diante de Deus e do próximo” (HALLEY, 2001, p. 295).
2.1.2. Outras configurações de profetas
De acordo
com a exposição do termo, há ainda outras configurações de profetas inseridos no contexto escriturístico tanto vetero como
neotestamentário. Duas classes distintas de profetas aparecem neste ambiente:
os falsos profetas e as profetisas. “Está dito que os falsos profetas, embora
não capacitados pelo Espírito divino, também profetizavam: “Não lhes falei a
eles; todavia, eles profetizaram[3]”
Jr 23.21. (VINE, 2004, p. 248). No Novo Testamento, a palavra em destaque para
falso profeta é pseudoprophetes
(VINE, 2004, p. 904). A palavra original para profetiza é (nebiah), e ocorre seis vezes no AT. (VINE, 2004, p. 249); enquanto
no NT usa-se prophetis, o feminino de
prophetes (ou seja, profeta) (VINE,
2004, p. 904). Boyer nos fornece
explicações acerca destas configurações, seguindo a respectiva ordem:
Profetas
falsos: Profetas impostores que se fazem passar por homens de Deus,
mas não possuem autoridade divina, Dt 18.20; Is 9.15; Jr 14.13; Ez 13.3; Mt 7.15; 2Pe 2.1; 1Jo 4.1;
Zedequias, 1Rs 22.11; Jr 29.21; Barjesus, At 13.6. Profetisa: O feminino de profeta; mulher que tinha revelações
proféticas e as declarava. Exemplos: Miriã, Êx 15.20; Débora, Jz 4.4; Hulda,
2Rs 22.14; Ana, Lc 2.36; as quatro filhas de Filipe, At 21.9; v. Is 8.3; At
2.18; 1Co 11.5 (2006, p. 537, grifos do autor).
Do mesmo modo, com um detalhe mais intenso, somente acerca
de profetisa “(heb., nevi’ah; gr. Prophetis)”, (DOUGLAS, Et All, 2006, p.
1102), outro autor acentua que, nos dois concertos, mulheres atuaram de modo
relevante e particular em alguns casos:
Algumas profetisas do Antigo e do
Novo Testamentos foram esposas de profetas, ou, pelo menos, atuaram em íntima
associação com líderes masculinos do judaísmo ou do cristianismo. Contudo houve
algumas exceções. As mulheres chamadas profetisas no Antigo Testamento são:
Miriã, irmã de Moisés (Êx 15.20); Débora, Juíza de Israel (Jz 4.4); Hulda (IIRs
2.14); Noadia (Ne 6.14), profetisa falsa que se opôs a Neemias. A esposa de
Isaías também é chamada “profetisa”, em Is 8.3; o que dá a entender que ela era
mais do que simplesmente a esposa de um profeta. No Novo Testamento: Ana (Lc
2.36 ss); muitas profetisas estiveram ativas durante os tempos apostólicos (At
2.17; Ico 12.10, 28ss; 13.1ss; 14.1-33). O evangelista Filipe tinha quatro
filhas que profetizavam (At 21.9). Jezabel foi uma notória profetisa falsa, que
exercia considerável poder sobre as igrejas da Ásia Menor (Ap 2.20) (CHAMPLIN,
1995, vol. V, p. 439).
Dessa forma,
concluímos que essas duas classes sempre estiveram presentes entre os profetas verdadeiramente constituídos. Uns para auxílio,
como no caso de algumas profetisas; outros para fins de confusão, como se
percebe nos falsos profetas, que “eram indivíduos não reconhecidos pelo Senhor,
a quem professavam servir” (CHAMPLIN, 1995, vol. V, p. 438).
2.2. Contexto bíblico do profeta constituído
Neste momento, surge a necessidade de
analisarmos como era a forma de
comportamento de um verdadeiro profeta constituído por Deus.
É notório que a atuação de um profeta se estabelecia a partir do pressuposto de
que se transmitia através dele uma mensagem de outrem. Em contexto geral, Hodge
ressalta:
Segundo o uso bíblico, um profeta é
alguém que fala em nome de outro. Em Êxodo 7.1, lemos: “Vê que te constituí
como Deus sobre Faraó; e Arão, teu irmão, será teu profeta”. Moisés seria a
fonte autoritativa da comunicação, e Arão, o órgão dessa fonte. Esta é a
relação do profeta com Deus. Deus comunica, e o profeta anuncia a mensagem que
ele recebeu. Em Êxodo 4.16, lemos de Arão em relação a Moisés: “Ele fará por ti
ao povo; ele te será por boca, e tu lhe serás por Deus”. E em Jeremias 15.19,
lemos sobre o profeta: “Serás a minha boca”. Na instituição de um profeta, ou
na constituição de um homem como porta-voz de Deus, lemos: “Sucitar-lhes-ei um
profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas
palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. De todo aquele que não
ouvir minhas palavras, que ele falar em meu nome, disso lhe pedirei contas”.
(Dt 18.18,19). Um profeta, pois, é alguém que fala em nome de Deus. Deve
contudo, ser o órgão imediato de Deus (HODGE, 2001, p. 828).
O que foi
exposto por Hodge é de outra maneira, entretanto, com a mesma essência, definido por Berkhof como sendo a reunião do que
ele chama de “dois elementos” numa ação comum:
As passagens clássicas de Êx 7.1 e
Dt 18.18, indicam a presença de dois elementos na função profética, um passivo
e outro ativo, um receptivo e outro produtivo. O profeta recebe revelações
divinas em sonho, visões ou comunicações verbais; e as transmite ao povo, quer
oralmente, quer visivelmente, nas ações proféticas, Nm 12.6-8; Is 6; Jr 1.4-10;
Ez 3.1-4,17. Destes dois elementos, o passivo é o mais importante, porquanto
ele governa o elemento ativo. Sem receber, o profeta não pode dar, e ele não
pode dar mais do que recebe. Mas o elemento ativo também é parte integrante
(2004, p. 328, 329).
Nessa ótica,
percebemos perfeitamente que o profeta é alguém que possui intimidade com Deus e está sob as ordens de Deus, prestes a
falar tudo aquilo que recebeu da parte Dele. Essas qualidades, sem dúvida,
estiveram presentes na vida dos antigos profetas, os quais foram usados de
maneira particular para mostrarem ao povo as verdades absolutas e atraírem as
outras nações ao Deus de Israel[4].
2.3. A atuação de Jesus como Profeta
Na seção
anterior, ainda que de forma singular, mostramos, em um contexto geral,
como os profetas se completavam e se relacionavam com Deus,
agindo em conexão e estreita comunhão. Com Jesus não foi diferente. Ele possuía
uma intimidade pessoal com o Pai e recebeu Dele a Unção do Profeta. Daquele que havia sido vaticinado por Moisés no livro
de Deuteronômio[5].
Ele era o cumprimento daquela profecia e tinha por finalidade atrair todo o
homem de volta a Deus, como se dava no princípio do Seu plano original para o
homem.
Cullmann
descreve:
O antigo profetismo havia se
extinguido progressivamente; e praticamente não existia mais senão sob a forma
escrita de livros proféticos. Isto por si bastaria para mostrar que, ao chamar a
Jesus “profeta”, não se classificava-o simplesmente em uma categoria
profissional determinada. Porém, o argumento decisivo é que na maior parte das
passagens onde este título é dado, Jesus não aparece somente como um profeta, mas como o profeta – a saber: o último profeta,
aquele que deveria “cumprir” toda profecia, no final dos tempos (2008, p.
31).
Em
concordância com Cullmann, outro expositor destaca que “a vinda de Cristo,
juntamente com suas obras, estava prevista na Lei de Moisés
e nos profetas, desde o seu nascimento até a sua ascensão ao céu”. E conclui:
Deus prometeu levantar em Israel um
Grande Profeta igual a Moisés [...] (Dt 18.15, 18). O apóstolo Pedro, mais de
uma vez, no dia de Pentecostes e no discurso após a cura do coxo, na porta
chamada Formosa, em Jerusalém, apresentou o perfil de Cristo no Antigo
Testamento, provando assim que os últimos acontecimentos eram cumprimento das
Escrituras. Ele afirma que essa profecia se cumpriu em Jesus (At 13.22, 23)
(SOARES, 2008, p. 101).
“O testemunho dos profetas dizia que o Messias
seria um profeta para iluminar Israel e as nações (Is 42.1; cf. Rm 15.8). Os evangelhos
também representam Jesus da mesma forma, como profeta (Mc 6.15; Jo 4.19; 6.14;
9.17; Mc 6.4; 1.27) (PEARLMAN, 2006, p. 169). É importante a linha de
raciocínio desse outro comentarista ao falar de como a nação de Israel serviria
de bênção para as demais nações através do profeta semelhante a Moisés:
Essa predição [...] pode ter contido
uma referência secundária à ordem profética como um todo, ou seja, à sucessão
de profetas, tais como Isaías e Joel, que Deus suscitaria para enfrentar
emergências na história de Israel. Entretanto, a linguagem dessa predição
prenuncia inconfundivelmente um só indivíduo específico: o Messias. É uma das
predições mais específicas a respeito de Cristo em todo o A.T. O próprio Jesus
assim a entendeu (Jo 5.46) e Pedro também (At 3.22). A nação dos hebreus foi
fundada por Deus para ser o meio pelo qual as outras nações em algum tempo
futuro, seriam abençoadas. Aqui temos uma declaração explícita de que o sistema
segundo o qual essa nação estava sendo organizada – aquele outorgado através de
Moisés, ou seja, a Lei – não seria aquele mediante o qual Israel abençoaria
todas as nações. Essa Lei seria
substituída por outro sistema, outorgado por outro profeta, que conteria a
mensagem de Israel a todas as nações.
O judaismo seria cumprido pelo evangelho e substituído por ele (HALLEY,
2001, p. 144, 145, grifo meu).
Outro ponto
de vista a considerar é o de Grudem, que diferencia das três últimas
citações e expõe que aqueles que chamaram Jesus de profeta
não falaram com bases concretas, pois eram pessoas que O conheciam muito pouco.
Afirma o autor:
Quando examinamos os evangelhos
vemos que Jesus não é fundamentalmente
visto como um profeta ou como o
profeta semelhante a Moisés, apesar de referências eventuais a isso. Geralmente
aqueles que chamavam Jesus de “profeta” conheciam muito pouco sobre ele. Por
exemplo, várias opiniões circulavam a respeito dele: “Uns dizem: João Batista;
outros: Elias; e outros: Jeremias ou
algum dos profetas” (Mt 16.14; cf. Lc 9.8). Quando Jesus ressuscitou o
filho da viúva de Naim, as pessoas se atemorizaram e disseram que havia um grande profeta em seu meio (Lc 7.16).
Quando Jesus disse à samaritana no poço um pouco de sua vida passada, ela
respondeu imediatamente que percebia que ele era profeta (Jo 4.19). Mas ela até então não sabia muito acerca dele. A
reação do homem cego de nascença curado no templo foi semelhante: “...é profeta
(Jo 9.17) (1999, p. 523, 524, grifos do autor).
Grudem
deseja mostrar que havia certa confusão na mente das pessoas, porque estavam à espera de um profeta que estava para chegar a
qualquer momento. Revela que questionamentos eram claramente e constantemente
expostos. Diz ele: “[...] após Jesus ter multiplicado os pães e os peixes,
alguns exclamaram: “Este é, verdadeiramente, o profeta que devia vim ao mundo”
(Jo 6.14; cf. 7.40) (1999, p. 524). E conclui, dizendo: “Pedro também
identifica Cristo como o profeta predito por Moisés (veja At 3.22-24, citando
Dt 18.15). Assim, Jesus é, de fato, o
profeta predito por Moisés” (IBIDEM, grifo meu).
Nesse
caso, com a informação de que Jesus foi o cumprimento daquela profecia,torna-se, à luz dessa revelação, o Excelente Profeta: o
último, o maior e o mais importante de todos eles. Contudo, em momento algum
Jesus apresentou-se como tal. Como explica
Letham, “ele nunca reivindicou especificamente esse ofício
para si mesmo. Na verdade, em certas ocasiões, ele parece distanciar-se das
opiniões populares de que ele era um profeta (cf. Mt
16. 13-17). Letham ainda ressalta:
Em nenhum momento ele usou a fórmula
popular dos profetas: “veio a mim a palavra do Senhor”. Todos esses fatos são
omissões significativas. Eles[6]
parecem dissipar qualquer idéia de que ele fosse um profeta. [...] Uma
observação mais de perto, todavia, indicará o motivo pelo qual Jesus pode ter
sido reticente[7]
em identificar a si mesmo como profeta. Teologicamente, o fator mais crucial é
sua própria identidade pessoal. Como o Filho de Deus encarnado, ele era
infinitamente maior que qualquer dos profetas do Antigo Testamento. Eles eram,
todos eles, homens pecadores (2007, p. 89).
Como
sua vinda a este mundo tinha o objetivo de resgatar o homem e trazê-lo de volta à comunhão com Deus, seria impossível não deixar
transparecer que Ele era o cumprimento daquela profecia. “O profeta comumente
unia três métodos para cumprir o seu ofício: ensino, predição e operações de
milagres. Em todos estes respeitos Jesus realizou sua obra profética [...]”
(STRONG, 2003, p. 371). Logo, perceberiam que Jesus era o profeta enviado por
Deus para a restauração da humanidade.
No pensar de Hodge:
Quando foi predito que o Messias seria um
profeta, também se predisse que ele seria um grande órgão de Deus para
comunicar sua mente e vontade aos homens[8]. E
quando nosso Senhor apareceu na terra, foi para falar as palavras de Deus. “E
as palavras que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou” (Jo
14.24). “Jesus, o nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e
palavras, diante de Deus e de todo o povo” (Lc 24.19) (2001, p. 828).
Além de Sua
manifestação para falar as Palavras de Deus, há ainda algumas atuações que definem Jesus como profeta. “As Escrituras do
Novo Testamento afirmam que Jesus “...foi varão profeta, poderoso em obras e
palavras” (Lc 24.19), assim como fora Moisés (At 7.22)” (GILBERTO, 2009, p.
145).
A Escritura atesta de várias
maneiras o ofício profético de Cristo. Ele é prenunciado como profeta em Dt
18.15, passagem aplicada a Cristo em At 3. 22, 23. Ele fala de si como profeta
em Lc 13.33. Além disso, alega que traz uma mensagem do Pai, Jo 8. 26-28;
12.49, 50; 14.10, 24; 15.15; 17.8, 20; prediz coisas futuras, Mt 24.3-35; Lc
19.41-44, e fala com singular autoridade, Mt 7.29. Suas poderosas obras
serviram para autenticar a Sua mensagem. Em vista disso tudo, não admira que o
povo O tenha reconhecido como profeta, Mt 21.11, 46; Lc 7.16; 24.19; Jo 3.2;
4.19; 6.14; 7.40; 9.17[9]
(BERKHOF, 2004, p. 329, 330).
Dessa forma,
percebe-se que o ofício profético de Jesus tem uma destacada importância. No exercício deste ofício profético por ocasião
de sua estada terrena, e até mesmo entre os períodos mais remotos, Cristo
revela-nos algumas particularidades. Um renomado autor refere-se a essas
particularidades da seguinte forma:
Cristo nos é revelado como o verbo
eterno, o Logos, o Jeová manifestado e manifestante. Ele é a fonte de todo o
conhecimento para o universo inteligente, especialmente para os filhos dos
homens. Ele era, e é, a luz do mundo. É a verdade. Nele habitam todos os
tesouros da sabedoria e do conhecimento; e dele se irradia toda a luz que os
homens recebem e obtêm.
Isso, ainda que independente de sua
obra oficial como profeta na economia da redenção, é seu fundamento necessário.
Não tivesse ele a plenitude da sabedoria divina, e não poderia ser a fonte de
conhecimento, especialmente daquele conhecimento que é vida eterna para todo o
seu povo. Sob a antiga dispensação, ou antes de seu advento na carne, ele fez
conhecido Deus, seus propósitos e vontade, não só através de manifestações
pessoais de si mesmo aos patriarcas e profetas, mas também através de seu
Espírito, ao revelar a verdade e a vontade de Deus, ao inspirar os designados
para registrar essas revelações e iluminar a mente de seu povo, conduzindo-os
assim ao conhecimento salvívico da verdade. Enquanto na terra, ele continuou o
exercício de seu ofício profético através de instruções pessoais, em discursos,
parábolas, e exposições da lei e dos profetas; e em tudo isso ele ensinou
concernente à sua própria pessoa e obra, e concernente ao processo e
comunicação de seu reino (HODGE, 2001, p. 829).
Dentro dessa
linha exposta por Hodge, outro autor, de forma menos erudita, no
entanto
mantendo as mesmas características do comentarista acima, corrobora, dizendo:
Cristo foi verdadeiro profeta,
anunciado desde Moisés, (Dt 18.15). Os que creram em Jesus Cristo reconheceram
ser ele o profeta que devia vim ao mundo (Jo 6.14; At 3.22). Ele revelou Deus e
sua vontade, não apenas com palavras, mas também em pessoas e obras (Hb 1.3).
Sua revelação do Pai é final na história da humanidade (Hb 1.1ss). Cristo
realizou seu trabalho profético em diferentes épocas. De modo direto e pessoal,
ele cumpriu sua função profética no período da vida terrena. Mas na
preexistência, de modo indireto, ele exerceu a função de profeta, falando
através de mensageiros, humanos ou angelicais (Jo 1.9; 1 Pe 1.11). Também
depois da ascensão, ele falou pelo Espírito Santo aos apóstolos (Jo 16.12, 13,
25; 17.29). E parece que na glória ele continuará revelando as coisas do Pai
aos santos (1 Co 13.12) (SEVERA, 1999, p. 239, 249).
Numa
narrativa puramente sistemática, Strong (2003, p. 374) divide em quatro aquilo que chama de “estágio da obra profética de Cristo”,
e, na última consideração[10],
ele diz que Jesus Cristo revelou “o Pai aos seus santos em glória (João 16.15;
17.24, 26; cf. Is 64.4; 1Cor. 13.12)”. Com isso, o exercício do ofício profético de
Cristo, segundo ele, será sem fim, na mesma configuração do Pai, ou seja, se o
Pai é infinito, seu ofício também o é.
Concluímos,
portanto, que a atuação de Jesus como profeta é muito mais significativa, por romper todas as eras e por não ter um
prazo para o encerramento de tão gloriosa atuação.
Artigo extraído de: RODRIGUES, André. O Tríplice Ofício de Cristo: Profeta, Sacerdote e Rei. 2011, Editora Nossa Livraria - PE
[1] A palavra “profeta” ocorre
ocasionalmente antes da época de Samuel, como por exemplo, em Gênesis 20.7 e
Êxodo7.1. Samuel, no entanto, parece ter sido o fundador de uma ordem regular
de profetas, com escolas primeiramente em Ramá (1Sm 19.20) e posteriormente em
Betel, Jericó e Gilgal (2Rs 2.3,5; 4.38). O sacerdócio degenerara-se
consideravelmente e, quando Samuel organizou a monarquia, deu início a essas
escolas, pretendendo, segundo parece, que servissem de fiscalização moral,
tanto para os sacerdotes quanto para os reis. Esses profetas atuaram por um
período de aproximadamente 300 anos antes de surgirem os profetas que
escreveram os 17 últimos livros do AT. Esses profetas dos tempos mais antigos
são chamados “profetas orais”, para distingui-los dos profetas escritores ou
literários, que escreveram os livros. Os principais profetas orais que
conhecemos são: Samuel, o organizador da monarquia; Natã, o conselheiro de
Davi; Aías, o conselheiro de Jeroboão; e Elias e Eliseu, os líderes da grande
luta contra o baalismo (HALLEY, 2001, p. 179).
[2] Alguns estudiosos têm
objetado a chamarem os profetas de “maiores” e “menores”, como se exaltasse a
alguns e aviltasse outros. No entanto, esses adjetivos tencionam indicar
somente o volume de suas produções literárias (CHAMPLIN, 1995, vol. V, p. 438).
[3] Cf. Jr 23.9-40.
[4] O propósito de Deus em
suscitar, a partir de Abraão, a nação de Israel, e, a partir daí, suscitar
também profetas, foi exatamente o de atrair as demais nações que eram
politeístas ao monoteísmo, ou seja, fazer com que as outras nações se voltassem
para o Deus de Israel e obedecessem suas leis e seus preceitos. Soares ressalta
que eles instruíram o povo de Israel. Ao longo de sua história, Deus levantou,
preparou e inspirou profetas para admoestar os hebreus sobre o perigo da
idolatria. Deus escolhia-os para ensinar, explicar de várias maneiras, como
parábolas ou símiles, e orientar o povo, interpretando-lhes o significado da
sua história, para sua edificação espiritual (Os 12.10). Eram ensinadores
ungidos e escolhidos por Deus para instruir a nação a viver na presença de
Javé, para tornar conhecida sua revelação e também anunciar as coisas futuras
(Nm 12.6; 1 Rs 19.16; Jr 18.18) (2008, p. 99).
[5] Confira este assunto, com
maior detalhe, no cap. I, na seção “A tipologia do Cristo”.
[6] Aqui é uma referência aos
discípulos, na conversa descrita em Mt
16.13-17, como mostrado acima no começo da citação.
[7] O mesmo que “reservado
(AURÉLIO).
[8] Cf. Dt 18.18b.
[9] Nas citações dos
versículos: Lc 7.16; Jo 4.19; 9.17, Berkhof, usando-as, fundamenta o argumento
de que Cristo era sim reconhecido como profeta. Com esta afirmação, contradiz
Grudem na citação acima.
[10] As primeiras
considerações descritas por Strong são: A obra preparatória do Logos; O
ministério terreno do Cristo encarnado e A direção e o ensino da sua igreja na
terra, desde a Sua ascensão. Estas, por sua vez, encontram-se nas pág. 372 e
373, da referida obra.
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