Ao longo desta pesquisa, é possível observar que Jesus foi o Messias esperado. Ele é O Ungido de Deus. Contudo, é necessário ressaltarmos que essa revelação não se dá de modo irresponsável ou relapso. Vimos que, desde a queda do homem, Deus estabelecera uma saída, um escape, uma solução! Isso foi sendo desenvolvido no desenrolar da história do povo de Israel através dos tipos, das profecias, das manifestações teofânicas etc. O que se pode destacar neste contexto é a singularidade dessas revelações cuidadosas de Deus para o povo. Principalmente nos ofícios que foram estabelecidos para a o seu bem-estar espiritual (profetas e sacerdotes) e social (reis), dos quais trataremos mais especificamente no segundo capítulo desta pesquisa.
Quanto à expectativa divina no tocante
ao momento peculiar do envio de Seu Filho a este mundo, Cairnes entende que,
não somente os judeus, mas também os gregos e os romanos, “contribuíram para a
preparação religiosa para a aparição de Cristo” (1995, p. 29). Ainda que o
autor considere essas duas últimas influências como negativas, não há como
ignorá-las. Ele ressalta literalmente que: A contribuição grega e romana foi,
na realidade, negativa, mas em muito contribuiu para levar o desenvolvimento
histórico até o ponto em que Cristo pudesse exercer o impacto máximo sobre a
história de uma forma até então impossível (IBIDEM). Essas contribuições
reúnem diferentes identidades: a romana está relacionada à política;
enquanto a grega contribui no aspecto intelectual. Porém, aquela de maior efeito
está associada à contribuição religiosa dos judeus: As contribuições religiosas
para a “plenitude do tempo”[1] incluem
tanto a dos gregos e romanos como a dos judeus. Todavia, por mais importantes
que as contribuições de Atenas e Roma, como pano-de-fundo histórico, tenha sido
para o cristianismo, as contribuições dos judeus formaram a Herança do
Cristianismo. O cristianismo pode ter se desenvolvido no sistema político de
Roma e pode ter encontrado o ambiente intelectual criado pela mente grega, mas
seu relacionamento com o judaísmo foi muito mais íntimo. O judaísmo pode ser
considerado como o botão do qual a rosa do cristianismo abriu-se em flor
(CAIRNES, 1995, p. 34).
O judaísmo, explica o autor, trouxe
pelo menos seis elementos para o desenrolar desse acontecimento: o monoteísmo,
a esperança messiânica, o sistema ético, o Antigo Testamento, a Filosofia da
História e a sinagoga. E conclui: Negativamente, através da contribuição do
mundo grego e romano, e positivamente através do judaísmo, o mundo foi
preparado para a “plenitude dos tempos” quando Deus enviou seu Filho para levar
a redenção a uma humanidade partida pelas guerras e fatigada pelo pecado. É
significativo que, de todas as religiões praticadas no Império Romano ao tempo
do nascimento de Cristo, apenas o judaísmo e o cristianismo tenha conseguido
sobreviver ao curso dinâmico da história humana (CAIRNES, 1995, p. 34-36).
Diante dessas informações, cabe-nos, a partir
de agora, a apresentação bíblica de como se deu a vinda de Jesus a este mundo
para cumprir todas as profecias referentes a Ele no Pacto Passado. A Escritura
relata: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe,
desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo
Espírito Santo” (Mt 1.18 ARA). Em outro lugar está escrito: “Eis que a virgem
conceberá e dará à luz um filho” (Mt 1.23a ARC), fazendo menção à profecia de
Isaías 7.14. Dessa forma, obtemos um relance inicial de conhecimento sobre o
nascimento de Jesus.
Escrevendo aos Gálatas, o apóstolo Paulo
deixa relevante detalhe para explicar o exato momento do envio do Filho de Deus
a este mundo. Ele diz: “[...] vindo, porém, a plenitude do tempo,
Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4 ARA, grifo
nosso). A expressão em destaque dá a entender que foi necessário um momento
certo para a manifestação desta graça[2].
Um conceituado escritor afirma que plerõma, termo grego
traduzido por ‘plenitude’, “[...] é reputado, por alguns comentadores, como
vocábulo que se aplica tanto à Igreja[3] como
a Cristo; [...] com o pensamento que o plano pré-ordenado por Deus está
atualmente prestes a ser consumado” (DOUGLAS, Et All, 2006, p. 1294, 1295). Outro
escritor destaca da seguinte forma: As palavras “a plenitude do tempo”, não
indicam o período de cumprimento de todas as demais eras, conforme se vê em
Efé. 1:10, como se uma era tivesse de completar uma série de eras. Mas antes
está aqui em pauta o momento azado em que todo o período
pré-messiânico se completou, como que trazendo à luz a manifestação primeira do
Messias. A era messiânica, pois, foi o “pleno complemento” da era precedente,
bem como aquela que “completou” a expansão de tempo que Deus havia determinado
que transpirasse, antes da era da graça vir tomar o seu lugar. O sentido dessas
palavras, por conseguinte, é “o momento exato”. Quando chegou o “momento exato”
para ser inaugurada a grande dispensação[4] e
a revelação da graça, Deus enviou seu filho. Foi o tempo determinado pelo Pai
(CHAMPLIN, vol. 4, p. 482).
Tanto Douglas quanto Champlin entendem que
Deus manifesta a sua vontade para dar início à dispensação da graça. O primeiro
retrata como sendo um “plano pré-ordenado prestes a ser consumado”, o outro,
chama de “momento exato”. A explicação é que havia chegado o período certo para
tamanha revelação outrora vaticinada. No cumprimento dessa promessa referente
ao envio, vem à terra aquele que mudaria o curso deste mundo e se revelaria
como o Caminho, e a Verdade, e a Vida - Jesus! (Jo 14.6).
Portanto, conclui-se que essa
manifestação trouxe para a realidade dos seres humanos o Messias, Salvador da
humanidade, o qual agrega em si os ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei a partir
do início de Seu Ministério, como veremos no próximo capítulo.
Artigo extraído de: RODRIGUES, André. O Tríplice Ofício de
Cristo: Profeta, Sacerdote e Rei. 2011, Editora Nossa Livraria - PE
[1] Existem duas
expressões bastante parecidas que são: “Plenitude do Tempo” e “Plenitude dos
Tempos”. A primeira na colocação de Andrade diz respeito ao “Período
de domínio gentílico sobre Israel e, mais particularmente, sobre Jerusalém. Foi
exatamente no auge desta era que Jesus Cristo nasceu, desenvolveu o seu
ministério, foi crucificado e ressurgiu dentre os mortos (Gl 4. 1-5). Este
período começou em 586 a.C., quando os babilônios destruíram Jerusalém, e há de
ser encerrado com a implantação do Milênio por Cristo Jesus. Segundo profetizou
Nosso Senhor, a cidade de Jerusalém há de ser pisada até que se completem o
tempo dos gentios (Lc 21.24)” (2007, p. 299). Já a segunda expressão, no
plural, destacada em (Ef. 1.10), “o apóstolo faz alusão à implantação do Reino
de Deus, quando todas as coisas hão de ser congregadas em Cristo. Paulo alude
tanto ao Milênio quanto ao Estado Eterno. No primeiro caso, Paulo usa o
vocábulo crono: o tempo na dimensão humana; no segundo, kairos: o
tempo na dimensão divina. O primeiro está ligado à história; o segundo, à
eternidade” (ANDRADE, 2007, p. 299, 300).
[2] [Do hb. Hessed;
do gr. charis; do lat. gratia] Favor imerecido concedido por
Deus à raça humana (ANDRADE, 2007, p. 203).
[3] O contexto de
ligação de plerõma, ou seja, ‘plenitude’, inserido na citação,
referindo-se à Igreja, encontra-se em Mt 5:17; Mc 1:15, de acordo com o autor
da mesma citação.
[4] Concessão; o
encargo de uma administração – É o período de tempo durante o qual os homens
são provados a respeito da obediência a certa revelação da vontade de Deus
(BOYER, 2006, p. 215).
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