domingo, 18 de julho de 2010

A RELEVÊNCIA DOS DÍZIMOS E DAS OFERTAS A LUZ DA TEOLOGIA DO N.T. - Por André Rodrigues

Dízimos e ofertas é um assunto de importância sui generi. Diversas são as especulações quando o que está em pauta é a doação de algo. No Pacto passado era prática comum a de ofertas e dízimos. Setecentos anos antes da instituição da lei mosaica propriamente dita, Abrão depois da batalha com os reis, deu dízimo dos despojos ao sacerdote-rei de Salém, Melquisedeque, que por sua vez, era reconhecido como “Sacerdote do Deus-Altíssimo”.

As ofertas alçadas, ou seja, voluntárias, eram depositadas tanto quanto os dízimos, para fins específicos. Halley acentua que havia naquela dispensação pelo menos três tipos característicos de dízimo: “o dízimo levítico, o dízimo para as festas e, de três em três anos os dízimos para os pobres” (2001, p. 132). “A décima parte dos produtos da terra e do aumento dos rebanhos e das manadas devia ser dada a Deus; é isto que é chamado de dízimo (Gn 14.20; 28.22; Lv 27. 30-32; Nm 18.21-28 etc.)” (HALLEY, 2001, p. 131).

Na dispensação neotestamentária a situação não é mais derivada de leis cerimoniais, a contribuição dos dízimos e das ofertas, agora, parte do pressuposto da fé, ou seja, existe uma conscientização na igreja local, no tocante, ao ato de dizimar e ofertar, com o intuito de cooperar com reino de Deus, de modo financeiro, quer dizer, cuidar das necessidades básicas comuns de nossa realidade hodierna. É importante salientar que ainda hoje em determinados lugares, as ofertas e os dízimos refletem uma realidade passada, como no caso de algumas das igrejas da África, por exemplo, que trazem a décima parte de vossa colheita.

Estas contribuições voluntárias dos dízimos e das ofertas na visão do Novo Testamento são respaldadas à luz da Bíblia. Diversos exemplos de comportamento, no tocante, a contribuição nas igrejas, são largamente observados principalmente nas cartas do apóstolo Paulo. Certo teólogo disse que quase todas as epístolas escritas por Paulo, nasceram da “necessidade de”, enquanto ao escrever aos Filipenses, o apóstolo muda o cenário e emprega o “agradecimento a”. Reporto-me ao exemplo destes últimos crentes, por haver naquela epístola agradecimento do apóstolo quanto à contribuição voluntária, tanto para a igreja de Jerusalém, que havia ficado em situação difícil depois de venderem suas propriedades à espera da iminente volta de Jesus, como também, para o sustento do próprio apóstolo, como gratidão a todos os benefícios que este os haviam feito. Disse o apóstolo: “Todavia fizeste bem em tomar parte na minha aflição. E bem sabeis também vós, ó filipenses, que, no princípio do evangelho, quando partir da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a receber, senão vós somente. Porque também, uma e outra vez, me mandaste o necessário a Tessalônica. Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que aumente a vossa conta. Mas bastante tenho recebido e tenho abundância; cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível a Deus”. (Fl 4.14-18 ARC, grifo meu). A frase destacada sem dúvidas tem a sua relevância na teologia do Novo Testamento, quanto às contribuições, que refletem não somente em dar de modo regulamentar de maneira mecânica, mas para os que fazem, entendendo a importância real da mordomia cristã, sabe que se torna em sacrifício que Deus se agrada.

sábado, 10 de julho de 2010

OS LIVROS APÓCRIFOS NO CRISTIANISMO




























Ao ler o Novo Testamento, torna-se bem óbvio que seus escritores e leitores dos primeiros dias estavam familiarizados com, pelo menos, alguns dos livros apócrifos, não apenas aqueles que eles herdaram dos judeus na Septuaginta, mas também com uma coleção mais ampla de escritos. A referência mais clara pode ser encontrada em Judas, versículos 14-16, onde o autor faz uma citação, sem dúvida de memória, de Enoque 1.9, lembrando a profecia de "Enoque, a sétima geração depois de Adão". A exceção dessa citação mais ou menos direta, muitas alusões à literatura apócrifa. As palavras, "Mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos. Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate", registradas em Hebreus 11.35, nos faz lembrar o martírio de Eleazar e dos Sete Irmãos em II Macabeus 6 e 7, e "foram... serrados pelo meio" de Hebreus 11.37 é, sem dúvida, uma alusão ao Martírio de Isaías, enquanto as frases "o resplendor da glória" e "a expressão exata de seu Ser" em Hebreus 1.3 nos lembra forçosamente o Livro de Sabedoria 7.26. Ecos do Livro de Sabedoria provavelmente podem ser ouvidos também nas palavras dos principais sacerdotes em relação a Jesus, em sua agonia, em Mateus 27.43: "Pois venha livrá-lo agora, se de fato lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus" (cf. Sabedoria 2.18); assim também nas cartas de Paulo, tais como Romanos 1.20-32 (Sabedoria 14.22-31), Romanos 9.21 (Sabedoria 15.7), II Coríntios 5.4 (Sabedoria 9.15) e Efésios 6.13-17 (Sabedoria 5.18-20). Além disso, certos sentimentos e frases familiares ao leitor cristão nos Evangelhos têm seu paralelo direto no Testamentos dos Doze Patriarcas, expressões como perdoar o próximo (Mateus 18.21, cf. Testamento de Gade 6.3,7), amar de todo o coração (Mateus 22.37-39, cf. Testamento de Dã 5.3), e retribuir o mal com o bem (Lucas 6.27s, cf. Testamento de José 8.2). Isso demonstra como o conteúdo dos ensinamentos morais de Jesus estava próximo do ideal moral do judaísmo.
A disputa entre Miguel e o diabo, pelo corpo de Moisés em Judas 9, deriva de A Assunção de Moisés, e a doutrina dos espíritos aprisionados em I Pedro 3.19 é baseada em Enoque 14-15. A Epístola de Tiago tem muito em comum com os livros apócrifos; o escritor certamente estava familiarizado com Ben Sira, de cujo pensamento e experiência ele compartilhava (cf. por exemplo, Tiago 1.19 e Ben Sira 5.11). O Novo Testamento faz referências a escritos desconhecidos (cf. I Coríntios 2.9; Efésios 5.14; I Timóteo 3.16) e faz citações de fontes desconhecidas (Mateus 23.34,35; cf. Lucas 11.49-51), enquanto em uma passagem (II Timóteo 3.8) faz alusão a Janes e Jambres, cujos nomes foram usados para o título de um livro apócrifo, do que temos conhecimento a partir de escritos que surgiram posteriormente.
Sem dúvida, os cristãos primitivos consideravam esses livros religiosamente edificantes, não apenas em suas devoções pessoais, mas também no ensino dos catecúmenos. A questão da canonicidade não era sequer cogitada a essa altura. Esse problema ainda seria suscitado e resolvido pela Igreja em expansão.


 EXTRAÍDO DO LIVRO: Entre o Antigo e o Novo Testamentos / O Período Interbíblico
 D.S.Russell 2" Edição no Brasil
 Maio de 2007 - Editora e Divulgadora Cultural Ltda.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O QUE SIGNIFICA A PALAVRA CRISTO - Por André Rodrigues

Em língua portuguesa o estudo das palavras define-se como etimologia, que averigua dentre outras coisas a história e as mudanças dos significados de acordo com a época, enfim. Etimologicamente, a palavra Cristo, tem significado particular e isto é possível porque não há constante variação nos idiomas hebraico e grego, de onde esta se deriva. É, basicamente impossível haver discordância entre os expoentes de léxicos. Entretanto, pode haver mudanças nos vocábulos e, mesmo assim, o significado permanece o mesmo, se mantendo unânime no sentido e na aplicação.

Na definição de Champlin, a palavra Cristo é a:

[...] Transliteração do adjetivo verbal grego, Christós, que significa ungido. Essa palavra hebraica, por sua vez traduz o termo hebraico mashiach, que tem o mesmo sentido. Essa palavra hebraica foi absorvida pelo grego sob a forma modificada de messias, conforme se vê em João 14:1 e 4:25. É daí que vem a palavra portuguesa Messias. [...] O termo Messias através de sua tradição grega, e, daí, para o português, tornou-se parte integrante do nome de Jesus, pois ele é Jesus, o Cristo, ou então, o Senhor Jesus Cristo, ou o Filho, Jesus Cristo, que é nosso Senhor. (1995, p. 977).

Nota-se, que o estudioso acima teve a preocupação de mostrar a raiz desta palavra dando ênfase no texto que cita. Inicialmente, trazendo a informação do grego e posteriormente faz menção ao seu uso. Contudo, a idéia de Cristo, ou seja, a idéia de Messias, é maior contextualizada no aramaico e hebraico, como expõe Coenen e Brown:

“Cristo” é derivado através do Lat. Christus, do Gr. Christos, que, na LXX e no NT é o equivalente gr. do Aram. mesiha. Essa palavra, por sua vez, corresponde ao Heb. masiah, e denota uma pessoa que foi cerimonialmente ungida para um cargo [...]. A transliteração gr. de mesiah é Messias, que [...] ocorre apenas duas vezes no NT gr., somente em Jo 1:41,4:25. Em ambas as ocasiões, refere-se a Jesus de Nazaré. A LXX não emprega a palavra estrangeira mas, assim como no NT (excetuando-se as passagens supra mencionadas), emprega com consistência a palavra gr. correspondente. Não foram, portanto, os cristãos os primeiros a cunharem esta palavra. Ao empregá-la no NT, os autores e suas formas literárias estavam adotando, sem dúvida alguma, uma palavra e um conceito que já estavam disponíveis e em uso corrente no período pré-cristão. Esta situação é evidenciada pelos escritos veterotestamentários apócrifos e pseudepígrafos , entre outros. (2000, p. 1079).

As definições acima deixam evidentes que o emprego desta palavra é particular àquele que é Ungido, termo comumente encontrado nos escritos canônicos veterotestamentários. Desta forma, explica Vine na segunda parte de sua obra que define o significado de algumas palavras gregas:
Chistos (“ungido”, traduz, na Septuaginta, a palavra “Messias”, termo aplicado aos sacerdotes que eram ungidos com óleo santo, particularmente o sumo sacerdote (por exemplo, Lv 4.3,5,16). Os profetas são chamados hoi christoi theou, “os ungidos de Deus” (Sl 105.15). Um rei de Israel foi descrito em certa ocasião como christos tou kuriou, “o ungido do Senhor” (1 Sm 2.10,35; 2 Sm1.14; Sl 2.2; 18.50; Hc 3.13); o termo é usado até para se referir a Ciro (Is 45.1).
O título ho christos, “o Cristo”, não é usado acerca de Cristo na versão Septuaginta dos livros inspirados do Antigo Testamento [...] (2004, p. 522).

Contudo, na aplicação direcionada para o Novo Testamento, a palavra Cristo refere-se a Jesus. Ele é o Ungido por excelência. Cristo é o “Título oficial de Jesus. Conferido-lhe pelo mesmo Deus (At 1.16). [...] Evoca-lhe ainda o tríplice ofício: profeta, sacerdote e rei”. (ANDRADE, 2007, p. 122). Assim também descreve Boyer, numa breve citação: “Cristo, do gr., Ungido, e do heb., Messias: O Cristo quer dizer o Ungido”. (2006, p. 184).
Vine nos informa detalhes do comportamento do termo no contexto neotestamentário e segundo ele a palavra não é usada estritamente como título, porquanto diz:

[...] No Novo Testamento, a palavra é usada muitas vezes com o artigo, referindo-se ao Senhor Jesus, como apelativo em vez de título (Lc 2.11; 23.2; Jo 1.41). Três vezes o título foi expressamente aceito pelo próprio Senhor (Mt 16.17; Mc 14.61,62; Jo 4.26).
É acrescentado como apelativo ao nome próprio “Jesus” (por exemplo, Jo 17.3, a única vez que o Senhor assim se referiu a Si mesmo; At 9.34; 1 Co 3.11; 1 Jo 5.6). É distintamente um nome próprio em muitas passagens, quer com o artigo (por exemplo, Mt 1.17; 11.2; Rm 7.4; 9.5; 15.19; 1 Co 1.6), quer sem o artigo (Mc 9.41; Rm 6.4; 8.9,17; 1 Co 1.12; Gl 2.16). O título Christos é as vezes usado sem o artigo, e significa o Único que pelo Espírito Santo e poder habita nos crentes e molda o caráter deles de conformidade com a Sua semelhança [...] (2004, p. 522, grifo meu).

Desta forma, concluímos que a palavra Cristo, ficou bem delineada. Expressão do aramaico Mesiha, do heb. Masiah, do gr. Christós, do lat. Chistus, e traduzida na nossa língua como Messias. (COENEN; BROWN, 2000, p. 1079).

ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. 16º edição, revista e ampliada. 2007. CPAD – RJ.
COENEN, Lothar. BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. 2º edição. 2000. Vida Nova – SP.
CHAMPLIN, Russell Norman. BENTES, João Marques. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol. 4 M – O. 3º edição. 1995. Editora e Distribuidora Candeia – SP.
edição, 2004. CPAD – RJ.
VINE, W. E.; UNGER, Merril F.; JR. Willian White. Dicionário Vine. 4º
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