Nessa
expectativa final, é importante dizermos que a doutrina do Tríplice Ofício
de Cristo está presente entre os teólogos hodiernos[1].
Entretanto, ela é transmitida de maneira superficial[2],
com sua importância menosprezada. No início, parecem ser unânimes no
desenvolvimento introdutório do assunto, com poucas exceções. Berkhof e Hodge
são semelhantes; Strong e Grudem parecem correlatos; Soares e Mueller partem do
mesmo pressuposto: o destaque do múnus
tríplex.
Quanto à doutrina, Strong diz:
As Escrituras representam os ofícios
de Cristo em número de três: profético, sacerdotal e real. Apesar de que estes
termos derivam de relações humanas concretas, expressam idéias perfeitamente
distintas. O profeta, o sacerdote e o rei do V.T., diferenciavam-se, mas
designavam prefigurações daquele que devia combinar todas as variadas
atividades em si mesmo, e forneceria a realidade ideal, da qual eram símbolos
imperfeitos. (2003, p. 370).
Soares denomina essa doutrina de “O Munus Triplex”. Assevera que se trata da
doutrina
dos três ofícios de Cristo: Profeta, Sacerdote e Rei (2008, p. 97, grifo do
autor).
Ainda
outros, referem-se a ela da mesma maneira.
Grudem diz-nos:
Os três cargos mais importantes que
poderiam existir para o povo de Israel no Antigo Testamento eram: o profeta (como Natã, 2Sm 7.2), o sacerdote (como Abiatar, ISm 30.7) e o
rei (como Davi, 2Sm 5.3). esses três
ofícios eram distintos. Os profetas falavam as palavras de Deus ao povo; o
sacerdote oferecia sacrifícios, orações e louvores a Deus em favor do povo; e o
rei governava o povo como representante de Deus. Esses três ofícios
prefiguravam a própria obra de Cristo de várias maneiras (1999, p. 523, grifos
do autor).
Pertence
a Mueller a declaração abaixo:
A encarnação do Filho de Deus
realizou-se para que se pudesse cumprir a obra da redenção determinada por Deus
desde a antiguidade (Jo 17.4; 3.16; Mt 18.11; Lc 19.10; I Tm 1.15). A Confissão de Ausburgo[3]
declara (Art. III): “O Verbo, isto é, o Filho de Deus se fez ser humano,
nascido da bemaventurada virgem Maria [...] para ser a oblação não só pela
culpa original, mas, ao mesmo tempo por todos os demais pecados e assim nos
reconciliar com o Pai”. Logo, tudo o que Cristo fez, no seu estado de
humilhação como homem-Deus[4]
(Lc 1.30,31; Mt 1,21,25; Lc 2.21), e o que ainda faz como tal, em seu estado de
exaltação, pertence ao seu divino ofício ou obra. [...] Daí falarmos de um
tríplice ofício de Cristo: a) o profético (munus
propheticum), b) o sacerdotal (munus
sacerdotales) e c) o real (múnus
regium) O Messias foi, já no Antigo Testamento, descrito como divino
Profeta, Sacerdote e Rei. Apesar de que os três ofícios jamais estiveram
divididos ou separados em Cristo, perseveraremos nessa classificação que
acabamos de fazer (múnus tríplex)
para fins de maior clareza na apresentação da obra de Cristo (MUELLER, 2004, p.
295, 296, grifos do autor).
Não se faz
necessário expormos um a um de forma pormenorizada, pois isso seria
por demais repetitivo. O importante é mostrar que a doutrina
do Tríplice Ofício de Cristo está também presente na teologia de nossos
dias.
Sem a
exposição dessa doutrina acima, seria difícil compreendermos os ditames
estabelecidos por Deus, visto que ela tem plena conexão com
o conhecimento que possuímos da Palavra de Deus (profeta), da obra salvívica de Jesus (sacerdote) e de nosso futuro regido com perfeição eterna (rei).
A pesquisa
científica é algo deslumbrante. Mostra-nos detalhes minuciosos que, às vezes, por falta de concentração de nossa parte, passam
despercebidos aos nossos olhos. Neste
trabalho, procuramos mostrar que a Doutrina do Tríplice Ofício de Cristo é
particular e bem viva, com aspectos comuns a todas as outras doutrinas
relacionadas à Cristologia. Houve, inicialmente, a necessidade de
desenvolvermos argumentações quanto à definição e abrangência do termo
“Cristo”: seu significado etimológico e sua aplicação nos idiomas que seguem os
escritos canônicos. A partir disso, encadeamos uma passagem pela tipologia,
adentrando nas questões referentes à unção no Antigo Testamento: Como era a
concentração das pessoas naqueles dias de expectativas messiânicas? Como estava
o Concerto com Deus? Enfim, um resumo das informações iniciais necessárias para
a discussão mais abrangente do tema.
Após esta análise primária, começamos a desenvolver o tema
dos três Ofícios em Cristo. Mas, primeiro, fizemos um levantamento prévio, em
cada seção, discorrendo sobre interessantes questões, para tornar possível
nosso estudo. Na primeira seção, por exemplo, ao tratarmos de profetas,
inserimos uma aplicação direta do termo, mostramos quem eram, as configurações
existentes, sua constituição no contexto bíblico. Só depois disso, trouxemos
questões referentes ao Senhor Jesus como Profeta. De igual modo, na seção
acerca dos sacerdotes, discorremos acerca das características daquela
instituição; como se comportavam; falamos um pouco sobre o personagem
misterioso Melquisedeque; e, por fim, apresentamos Cristo como cumprimento daquele
tipo. Por último, procuramos esclarecer as particularidades das nações
relacionadas ao ambiente veterotestamentário; a conturbada criação da monarquia
na nação judaica; comentamos também sobre Davi, um dos maiores homens do
Concerto passado, de cuja descendência veio o Rei Jesus.
Na última
parte de nossa pesquisa, tivemos a preocupação de apontar evidências
da relevância do assunto em questão. Para isso, nomeamos
essa parte de “doutrina consolidada” e a organizamos em três rápidas divisões,
nas quais mostramos sua consolidação em ambos os Testamentos, na história e em
nossos dias.
Nossa
intenção foi chamar a atenção para a real importância do tema em
apreciação. Teóricos de Teologia Sistemática deveriam, como
falamos desde o início, se empenhar por uma maior abordagem deste assunto nos
seus escritos, pois ele nos traz ricos e profundos conhecimentos
teológicos.
Com toda a
certeza, os momentos empenhados no trabalho de pesquisa, nos traz
alegria inefável, haja a vista, as descobertas que se
realizam com tal experiência. Aqui, descobrimos, não só que Tríplice Ofício, é
como tratamos no capítulo três, uma doutrina consolidada, como também, que se
dispõe a resolver a questão mensurável da exposição de como nosso Senhor Jesus,
desempenhou no seu ministério terreno tais ofícios. E nos foi possível na
pesquisa sistematizá-los.
Um problema
a ser resolvido também é que para muitos, que poderíamos até citá-
los: judeus, árabes, mulçumanos e orientais de maneira
geral, Jesus não passa de mais um grande personagem, registrados na história
geral, junto a Abraão, Moisés, Maomé, Confúcio, Sidarta Gautama dentre outros.
Entretanto, temos conhecido que Ele veio trazer a revelação especial de Deus
para a humanidade, atuando nestes ofícios para que entendêssemos seu real
sentido de passagem por aqui. Em primeiro lugar como Profeta, prometido e cumprido, anunciou as boas novas de salvação,
que é o Evangelho da Verdade; Segundo, como Sacerdote,
tornou-se sacrifício em favor da humanidade, mostrando assim, seu imenso amor
pelos pecadores destituídos; e por último, no aspecto de Rei, intervêm incessantemente para com os santos que estão
inseridos no contexto na qual veio estabelecer, que é a Igreja. Nunca, nenhum
destes nomes supracitados, e os milhares que como os três últimos, se comportam
como “caminhos de salvação”, tiveram
ou terá atuações semelhantes à de Jesus, porque todos estes, quando revelados
como tal, são farsa, ante o Verdadeiro Filho de Deus, revelado nas Sagradas
Escrituras.
Esta
discussão, na esfera apologética, poderia até se estender na defesa de que tais
tradições gozam de
sagrados livros e estórias mirabolantes, contudo, vale salientar, que seria
inútil, comparadas a inerrância e infalibilidade das Escrituras vetero e
neotestamentárias. Com isso, o testemunho bíblico, está acima de qualquer outra
coisa que venha se colocar em igualdades no quesito de autoridade. Jesus atuou
e é o único e verdadeiro Profeta, Sacerdote e Rei.
Artigo extraído de: RODRIGUES, André. O Tríplice Ofício de Cristo: Profeta, Sacerdote e Rei. 2011, Editora Nossa Livraria - PE
Disponível para venda em formato E-book no Amazon:
[1] Esequias Soares; Ciro
Sanches Zibordi; Myer Pearlman; Eurico Bergstén; Oscar Cullman; e os reformados
Wayne Grudem; Louis Berkhof; Charles Hodge; Robert Letham; Augusto Hopkins
Strong; dentre outros.
[2] Raro, um ou outro destes
supracitados alonga-se em determinado ofício. Strong, por exemplo, se detém com
brevidade acerca do ofício sacerdotal em detrimento dos outros (2003, p. 370ss).
[3] Andrade (2007, p. 109),
afirma ser a declaração básica da fé luterana. Redigida por Felipe Melanchthon,
foi apresentada à Dieta de Augusburg em 1530. Melanchton (1497-1560) foi um dos
mais diretos colaboradores de Martinho Lutero (ANDRADE, 2007, p. 398).
[4] Do gr. tard. Theántropos (AURÉLIO).