É maravilhoso tratar de
Cristologia, porque ela possibilita um encontro bem particular com o personagem
central do Cristianismo - Jesus Cristo. Nesta primeira seção, será retratado
todo o contexto acerca de definições do termo Cristo, sua relação com outros
termos, como se realizava a unção, como era o cenário do Antigo Testamento em
relação ao Messias, suas manifestações, com destaque à tipologia, que se
constitui em parte importante para a interpretação das Escrituras. Por último,
a vinda Dele a este mundo no momento propício estabelecido por Deus, conhecido
como a “Plenitude do Tempo”.
1.1. Definição etimológica
Em língua portuguesa, o
estudo da origem das palavras define-se como etimologia, que de acordo com
Aurélio, averigua, entre outras coisas, a história e as mudanças dos significados
de uma palavra de acordo com a época. Etimologicamente, a palavra Cristo tem
significado particular. Isso é possível porque não há constantes variações nos
idiomas hebraico e grego, dos quais o termo se deriva. É basicamente impossível
haver discordância entre os expoentes de léxicos. Entretanto, pode haver
mudanças nos vocábulos, mantendo-se unânimes no sentido e na aplicação.
Na definição de Champlin, a
palavra Cristo é a:
[...]
Transliteração do adjetivo verbal grego, Christós,
que significa ungido. Essa palavra hebraica, por sua vez traduz o termo
hebraico mashiach, que tem o mesmo
sentido. Essa palavra hebraica foi absorvida pelo grego sob a forma modificada
de messias, conforme se vê em João
14:1[1] e 4:25. É daí que vem a
palavra portuguesa Messias. [...] O termo Messias através de sua tradição
grega, e, daí, para o português, tornou-se parte integrante do nome de Jesus,
pois ele é Jesus, o Cristo, ou então, o Senhor Jesus Cristo, ou o Filho, Jesus Cristo, que é nosso Senhor
(1995, vol. 1, p. 977).
Nota-se que o estudioso acima teve a preocupação de mostrar a raiz
desta palavra inicialmente trazendo a informação do grego e, posteriormente,
fazendo menção ao seu uso. Contudo, a idéia de Cristo, ou seja, a idéia de Messias,
é melhor contextualizada no aramaico e hebraico, como expõem Coenen e Brown:
“Cristo” é derivado através do Lat. Christus, do Gr. Christos, que, na LXX[2] e no NT é o equivalente
gr. do Aram. mesiha. Essa palavra,
por sua vez, corresponde ao Heb. masiah,
e denota uma pessoa que foi cerimonialmente ungida para um cargo [...]. A transliteração
gr. de mesiah é Messias, que [...]
ocorre apenas duas vezes no NT gr., somente em Jo 1:41,4:25. Em ambas as
ocasiões, refere-se a Jesus de Nazaré. A LXX não emprega a palavra estrangeira
mas, assim como no NT (excetuando-se as passagens supra mencionadas), emprega
com consistência a palavra gr. correspondente. Não foram, portanto, os cristãos
os primeiros a cunharem esta palavra. Ao empregá-la no NT, os autores e suas
formas literárias estavam adotando, sem dúvida alguma, uma palavra e um
conceito que já estavam disponíveis e em uso corrente no período pré-cristão.
Esta situação é evidenciada pelos escritos veterotestamentários apócrifos e
pseudepígrafos[3],
entre outros (2000, p. 1079).
As definições acima deixam
evidentes que o emprego dessa palavra é particular àquele que é Ungido, termo
comumente encontrado nos escritos canônicos veterotestamentários. Desta forma,
explica Vine na segunda parte de sua obra que define o significado de algumas
palavras gregas:
Chistos (cristoV), “ungido”, traduz, na Septuaginta, a palavra
“Messias”, termo aplicado aos sacerdotes
que eram ungidos com óleo santo, particularmente o sumo sacerdote (por exemplo,
Lv 4.3,5,16). Os profetas são
chamados hoi christoi theou, “os
ungidos de Deus” (Sl 105.15). Um rei de
Israel foi descrito em certa ocasião como christos
tou kuriou, “o ungido do Senhor” (1 Sm 2.10,35; 2 Sm1.14; Sl 2.2; 18.50; Hc
3.13); o termo é usado até para se referir a Ciro (Is 45.1).
O título ho christos, “o
Cristo”, não é usado acerca de Cristo na versão Septuaginta dos livros
inspirados do Antigo Testamento [...] (2004, p. 522, grifo meu).
Contudo, na aplicação do
Novo Testamento, a palavra Cristo refere-se a Jesus. Ele é o Ungido por
excelência. Cristo é o “Título oficial de Jesus, o qual lhe foi conferido pelo
próprio Deus (At 1.16). [...] Evoca-lhe ainda o tríplice ofício: profeta,
sacerdote e rei” (ANDRADE, 2007, p. 122). Assim também descreve Boyer, numa
breve citação: “Cristo, do gr., Ungido, e do heb., Messias: O Cristo quer
dizer o Ungido” (2006, p. 184, grifos do autor).
Vine nos informa detalhes
da utilização do termo no contexto neotestamentário. Segundo ele, a palavra não
é usada estritamente como título:
[...]
No Novo Testamento, a palavra é usada muitas vezes com o artigo, referindo-se
ao Senhor Jesus, como apelativo em vez de título (Lc 2.11; 23.2; Jo 1.41). Três
vezes o título foi expressamente aceito pelo próprio Senhor (Mt 16.17; Mc
14.61,62; Jo 4.26).
É
acrescentado como apelativo ao nome próprio “Jesus” (por exemplo, Jo 17.3, a
única vez que o Senhor assim se referiu a Si mesmo; At 9.34; 1 Co 3.11; 1 Jo
5.6). É distintamente um nome próprio em muitas passagens, quer com o artigo
(por exemplo, Mt 1.17; 11.2; Rm 7.4; 9.5; 15.19; 1 Co 1.6), quer sem o artigo
(Mc 9.41; Rm 6.4; 8.9,17; 1 Co 1.12; Gl 2.16). O título Christos é as vezes usado sem o artigo, e significa o Único que pelo Espírito Santo e poder
habita nos crentes e molda o caráter deles de conformidade com a Sua semelhança
[...] (2004, p. 522, grifo meu).
Dessa forma, concluímos que a palavra Cristo (do aramaico Mesiah, do hebraico Masiah, do grego Christós,
do latim Christus e em português Messias) ficou bem delineada (COENEN;
BROWN, 2000, p. 1079).
1
É necessário
evidenciar que o editor da obra usada na referência citou, de modo equivocado,
João 14.1, para explicar que a “palavra hebraica foi absorvida pelo grego sob a
forma modificada de messias”, quando
deveria ter utilizado a passagem de João 1.41 que, de fato, corrobora com a
explicação precedente.
[2]
Durante o reinado de
Ptolomeu II Filadelfo (um rei egípicio), os judeus receberam privilégios
políticos e religiosos totais. Também foi durante este período que o Egito
passou por um tremendo programa cultural e educacional [...] neste programa
inclui-se a fundação do museu de Alexandria e a tradução das grandes obras para
o grego. Entre as obras que começaram a ser traduzidas para o grego, nessa
época, estava o Antigo Testamento hebraico. [...] Os líderes do judaísmo em
Alexandria produziram uma versão modelar do Antigo Testamento em língua grega
conhecida pelo nome de Septuaginta (LXX),
palavra grega que significa setenta. Embora esse termo se aplique estritamente
ao Pentateuco, que foi o único trecho
da Bíblia hebraica que se traduziu totalmente durante o tempo de Ptolomeu
Filadelfo, essa palavra viria a denotar a tradução para o grego de todo o
Antigo Testamento (GEISLER; NIX, 2006, p. 195,196).
[3] Durante os séculos II e III,
numerosos livros espúrios e heréticos surgiram e receberam o nome de pseudepígrafos, ou escritos falsos.
Euzébio os chamou de “totalmente absurdos e ímpios” (GEISLER; NIX, 2006, p.
110).
Artigo extraído de: RODRIGUES, André. O Tríplice Ofício de Cristo: Profeta, Sacerdote e Rei. 2011, Editora Nossa Livraria - PE