domingo, 19 de março de 2017

ENSAIO EXEGÉTICO EM JEREMIAS 22.29 - Por André Rodrigues




ÍNDICE

Introdução
Exegese no livro de Jeremias
Considerações Preliminares
Ambiente Histórico
A Mensagem/Ensino de Jeremias
Visão Panorâmica/Autoria
O Caráter do Profeta
Exegese de Jeremias cap.22.29
• Breve Comentário cap.22
• Continuação Comentário
Nosso Comentário/Breve Aplicação
Bibliografia


INTRODUÇÃO

Semelhantemente ao trabalho realizado por um engenheiro de porte elevado em busca de uma obra diferenciada, por um atleta que se esforça em busca da vitória, por um poeta que detém sua inspiração e corre para anotá-la, assim é o exegeta. A cada circunstância, a cada momento, a cada descoberta, a exegese torna-se ainda mais atraente, isto porque, o amante do conhecimento bíblico além de estar fazendo um bem em seu ofício, alimenta-se desta ferramenta deliciosa que é a Palavra de Deus. É sem dúvida alguma um árduo trabalho, entretanto, satisfatório. Diante desta tão grande tarefa, tentaremos conduzir esta humilde obra no sentido de entender as situações que permeavam os dias do profeta Jeremias, com seus contextos gerais, e, tentar também extrair pelo menos, um versículo para a exegese, propriamente dita.

EXEGESE NO LIVRO DE JEREMIAS

Esboço

I. Chamada e Atribuições de Jeremias (1.1-19)
II. Palavra Profética de Jeremias a Judá (2.1—33.26)
A. Profecias de Juízo (2.1—29.32)
1. A Apostasia Deliberada de Judá e Sua Assolação Iminente (2.1—6.30)
2. A Loucura e Hipocrisia Religiosa de Judá (7.1—10.25)
3. A Infidelidade de Judá ao Concerto (11.1—13.27)
4. Predições de Julgamentos, Intercessão, Solidão e Pecados de Judá (14.1—17.27)
5. Duas Parábolas Proféticas e uma Lamentação (18.1—20.18)
6. Condenação dos Reis Ímpios, dos Falsos Profetas e da Decadente Judá (21.1—24.10)
7. O Cativeiro Babilônico Vindouro (25.1—29.32)
B. Profecias Acerca da Restauração (30.1—33.26)
1. Dimensões da Restauração Divina do Povo de Deus (30.1—31.26)
2. Promessa de um Novo Concerto e uma Ilustração da Fé (31.27—32.44)
3. O Justo Renovo de Davi (33.1-26)
III. O Papel de Jeremias Como Atalaia Profético (34.1—45.5)
A. Declaração a Zedequias do Cativeiro Vindouro (34.1-22)
B. A Lição dos Recabitas (35.1-19)
C. A Queima dos Escritos de Jeremias e Sua Dupla Prisão (36.1—38.28)
D. O Cumprimento da Profecia de Jeremias sobre a Queda de Jerusalém (39.1-18)
E. Ministério de Jeremias Após a Queda de Jerusalém (40.1—45.5)
IV. A Palavra Profética de Jeremias às Nações (46.1—51.64)
A. Egito (46.1-28)
B. Filístia (47.1-7)
C. Moabe (48.1-47)
D. Amom (49.1-6)
E. Edom (49.7-22)
F. Damasco (49.23-27)
G. Arábia (49.28-33)
H. Elão (49.34-39)
I. Babilônia (50.1—51.64)
V. Apêndice Histórico da Queda de Jerusalém (52.1-34)

Autor: Jeremias
Tema: O Juízo Divino e Inevitável de Judá
Data: Cerca de 585—580 a.C.

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

O ministério profético de Jeremias foi dirigido ao Reino do Sul, Judá, durante os últimos quarenta anos de sua história (626—586 a.C.). Ele viveu para ser testemunha das invasões babilônicas de Judá, que resultaram na destruição de Jerusalém e do templo. Como o chamado de Jeremias propunha-se a que ele profetizasse à nação durante os últimos anos de seu declínio e queda, é compreensível que o livro do profeta esteja cheio de prenúncios sombrios. Jeremias, filho de sacerdote, nasceu e cresceu na aldeia sacerdotal de Anatote (mais de 6 km ao nordeste de Jerusalém) durante o reinado do ímpio rei Manassés. Jeremias começou seu ministério profético durante o décimo-terceiro ano do reinado do bom rei Josias, e apoiou seu movimento de reforma. Não demorou para perceber, no entanto, que as mudanças não estavam resultando numa verdadeira transformação de sentimentos do povo. Jeremias advertiu que, a não ser que houvesse verdadeiro arrependimento em escala nacional, a condenação e a destruição viriam de repente. 
Em 612 a.C., a Assíria foi conquistada por uma coalizão babilônica. Cerca de quatro anos depois da morte do rei Josias, o Egito foi derrotado por Babilônia na batalha de Carquemis (605 a.C.; ver 46.2). Naquele mesmo ano o exército babilônico de Nabucodonosor invadiu a Palestina, capturou Jerusalém e deportou alguns dos jovens mais seletos de Jerusalém para Babilônia, entre eles Daniel e seus três amigos. Uma segunda campanha contra Jerusalém ocorreu em 597 a.C., ocasião em que foram levados dez mil cativos à Babilônia, entre os quais Ezequiel. Durante todo esse tempo, as advertências proféticas de Jeremias a respeito do juízo divino iminente passaram despercebidas pela nação. A última invasão babilônica tomou Jerusalém, o templo e a totalidade do reino de Judá em 586 a.C.
Este livro profético revela que Jeremias, frequentemente chamado de “o profeta das lágrimas”, era um homem com uma mensagem severa, mas de coração sensível e quebrantado (e.g., 8.21—9.1). Seu espírito sensível tornou mais intenso o seu sofrimento, à medida que a palavra de Deus ia sendo repudiada por seus familiares e amigos, pelos sacerdotes e reis, e pela totalidade do povo de Judá. Embora fosse solitário e rejeitado durante toda a sua vida, Jeremias não deixou de ser um dos mais ousados e corajosos profetas. Apesar da grande oposição, cumpriu fielmente sua chamada profética para advertir seus concidadãos de que o juízo divino estava às portas. Resumindo a vida de Jeremias, certo escritor disse: “Nunca foi imposto sobre um homem mortal fardo mais esmagador. Em toda a história da raça judaica, nunca houve semelhante exemplo de intensa sinceridade, sofrimento sem alívio, proclamação destemida da mensagem de Deus e intercessão incansável de um profeta em favor do seu povo como se observa no ministério de Jeremias. Mas a tragédia de sua vida foi esta: pregava a ouvidos surdos e só recebia ódio em troca do seu amor aos compatriotas” (Farley). O autor do livro é indicado com clareza: Jeremias (1.1). Depois de profetizar durante vinte anos a Judá, Jeremias foi ordenado por Deus a deixar a sua mensagem por escrito. Assim o fez, ao ditar suas profecias a seu fiel secretário, Baruque (36.1-4). Visto que Jeremias estava proibido de comparecer diante do rei, enviou então Baruque para ler as profecias no templo. Depois disso, Jeudi as leu diante do rei Joaquim. O monarca demonstrou desprezo a Jeremias e à palavra do Senhor ao cortar e queimar o rolo (36.22,23). Jeremias voltou a ditar suas profecias a Baruque, e dessa vez incluiu até mais do que estava no primeiro rolo. 

AMBIENTE HISTÓRICO 

Quando Deus chamou Jeremias ao ministério profético em 626 A.C., a Assíria, senhora do mundo, sujeitara Judá ao seu domínio, cobrando-lhe tributo. Todavia, a própria Assíria gradualmente enfraqueceu, após a morte de Assurbanipal em 633 A. C. Certas províncias do império perderam-se em 614 A. C., e outras no cerco final de dois anos. Assurubalut foi o último monarca reinante, conservando-se em Harran durante, pelo menos, dois anos após a destruição de Nínive em 612 A. C. 
Potencialmente, o trono da Assíria estava aberto a qualquer cabo de guerra do tempo. Neco, do Egito, conduziu as suas forças até ao norte da Palestina, defrontando e matando Josias, rei de Judá, em Megido em 609 A. C., subjugando a Síria e pondo-se novamente em marcha até ao Eufrates. Foi, porém, enfrentado por Nabucodonosor da Babilônia, que desbaratou os seus exércitos na histórica batalha de Carquemis e o obrigou a recoar para as suas próprias fronteiras, pondo, assim, termo temporário à ambição egípcia de dominar o Oriente. Foi deste modo que Judá, até ali sujeito à Assíria, passou automaticamente para o controle da Babilônia. 
Depois da morte trágica de Josias, o seu povo ungiu Jeoacaz, seu filho, rei em seu lugar. Neco, porém, depô-lo a favor de Jeoaquim, seu irmão, pensando que ele serviria melhor os interesses egípcios. Que esta convicção tinha bons fundamentos prova-o claramente o tratamento a que Jeoaquim sujeitou o profeta Jeremias. Depois de Carquemis, Nabucodonosor interessou-se menos por Judá, possivelmente por o descontentamento em Babilônia exigir o seu regresso imediato após ter sido desferido um golpe decisivo contra o Egito. Entretanto, Jeoaquim, confiante nas promessas egípcias de auxí1io massiço, fez uma tentativa de sacudir o jugo de Babilônia. Em resultado disso, em 596 A. C., Nabucodonosor, consolidado o seu poder na pátria, atacou Jerusalém, prendeu Jeoaquim, filho do rebelde e agora seu sucessor, e levou-o com algum do seu povo para o cativeiro. Ao mesmo tempo, pôs Zedequias no trono. 
O Egito não ousava arriscar uma guerra com Babilônia; em vez disso, procurava enfraquecer pela intriga os laços impostos por Nabucodonosor à Síria e Palestina. A Neco sucedeu no trono egípcio Psamatique II, e presumivelmente foi ele quem procurou persuadir estes países a tomarem parte numa aliança com o Egito contra Babilônia. Zedequias foi um dos monarcas abordados, e parece haver fortes indícios de ter existido um partido pró-egito na corte. Ananias, o profeta, salientava-se bastante nesta conjuntura, mas Jeremias opôs-se firmemente à proposta. 
Jeremias opunha-se vigorosamente a estes funcionários da corte. Como porta-voz de Jeová, denunciava-os como falsos profetas, afirmando que as suas atividades pró-Egito eram contrárias à Sua vontade e teriam um resultado trágico. Sem dúvida se consideravam verdadeiros patriotas, e é evidente que o seu ódio feroz a Jeremias se fundamentava no fato de, na opinião deles, o profeta ser um traidor confesso. Chamando-lhes falsos profetas, Jeremias não implica necessariamente que fossem homens cruéis, mas antes que a sua intuição ou critério não eram inspirados por Iavé. A sua acusação contra os seus adversários é que não fora Iavé quem os mandara, mas que eles se destacam por iniciativa própria, pelo que as suas predições não se realizarão. Era, pois, aí que residia a falsidade. Falavam em nome de Iavé quando, afinal, Ele não lhes tinha ordenado que o fizessem. De tudo isto se depreende que a sinceridade não basta; só a inspiração divina é que faz de alguém um profeta. 
É impossível dizer se Nabucodonosor tinha recebido um aviso direto do descontentamento que grassava, ou apenas boatos, mas o certo é que Zedequias foi intimado a avistar-se com ele e a descrever as condições na sua pátria. O seu regresso implica que deu garantias de fidelidade. É pena que, ao que parece, ele não tivesse a coragem e a força moral para resistir à influência de conspiradores pró-egipcistas como Ananias e os seus confederados. Jeremias instava constantemente com o rei para que permanecesse fiel ao seu compromisso, mas quando Hofra se tornou faraó em 589 A C., sucedendo a Psamatique II, a influência egípcia na corte acentuou-se ainda mais e, em resultado de tramas urdidas em segredo, Zedequias foi finalmente induzido a faltar à sua palavra para com Nabucodonosor. O Egito foi lento no seu socorro, e o monarca babilônio tornou a pôr cerco a Jerusalém em 587 A. C. Por fim, apareceu o exército egípcio e os babilônios levantaram o cerco temporariamente. Foi nessa altura que Jeremias foi preso como desertor que procurava fugir para os caldeus (ver Jr 37.11-15). 
A repetição do assédio parece ter provocado uma crise. Jeremias tinha a certeza de que a sua intuição provinha de Deus, de que Ele lhe revelara os Seus propósitos de transformar Babilônia no instrumento da Sua vontade. A confiança no Egito, portanto, só poderia abrir caminho à tragédia e ao exílio. Além disso, os inimigos do profeta serviam-se do nome de Iavé para apóiar a sua política pró-egipcista. Por conseguinte, afirmavam que a atitude e as palavras de Jeremias enfraqueciam a vontade nacional de combater. Esta luta revela-se de forma crucial na pessoa de Zedequias, que se erguia entre as duas facções, sendo atraído ora para um dos partidos, ora para o outro. Costuma-se dizer que Zedequias era um fraco, incapaz de tomar uma decisão e enfrentar as conseqüências. Percebe-se que Jeremias não o conseguiu influenciar de forma a fazê-lo manter-se firme no seu juramento de fidelidade para com Nabucodonosor. A batalha foi ganha pelos falsos profetas e Zedequias arriscou a sua sorte, mas pagou amargamente a sua decisão e delongas. O Egito revelou-se uma cana quebrada; o segundo cerco foi coroado de êxito, os babilônios comportavam-se de forma desapiedada e, com grande desgosto seu, Jeremias assistiu à amarga realização da sua profecia. 

A MENSAGEM E ENSINO DE JEREMIAS 

Politicamente, como vimos, o profeta perdeu, mas espiritualmente obteve retumbante vitória. Com Amós e Oséias, confiava em como, apesar de a idolatria e a infidelidade a Iavé acarretaram necessariamente o castigo, Israel e Judá não seriam destituídos definitivamente da graça de Deus. Com esses profetas, comungava também na fé que o exílio como disciplina seria, não totalmente trágico, mas uma experiência corretiva. O estado como estado estava condenado, mas a fé no Senhor e a fé do Senhor no Seu povo escolhido permaneceriam e sobreviveriam àquele choque crucial. Viu também que o antigo concerto centralizado no templo e no seu cerimonial era ineficaz. Assim, acabou por descortinar que o Senhor escreveria um novo concerto no coração do "remanescente", através do qual a religião vital se manteria dinâmica e seria um veículo de bênção para além das fronteiras da nação. 
Quando o livro da Lei encontrado por Hilquias nas ruínas do templo provocou a reforma do reinado de Josias em 621 A. C., parece evidente que, de princípio, Jeremias vibrou no mesmo entusiasmo que o monarca, emprestando a este a sua influência e auxílio. Parece igualmente evidente, porém, que, mais tarde, a sua confiança nesse avivamento começou a enfraquecer, considerando-o o profeta demasiado fácil e superficial para satisfazer os requisitos do Senhor. A grande necessidade era de uma mudança de coração, só possível num povo que depositasse a sua fé tão-somente no Senhor. Ora, a geração de Jeremias recusava-se a conceder essa centralidade de fé. 
Muitos comentadores têm afirmado que Jeremias, com outros profetas, se opunha ao ritual de sacrifícios, considerando-o algo que não fora ordenado pelo Senhor e que Lhe repugnava. Todavia, a atitude de Jeremias será melhor interpretada se nós descortinarmos a lição de que, sempre que um sacrifício não constitui um verdadeiro índice da adoração e arrependimento do indivíduo, então esse sacrifício não terá valor, sendo, portanto, contrário ao desejo e vontade do Senhor. Quando muito, um sacrifício só poderia ser um meio para atingir o fim espiritual de um regresso contrito ao Senhor, jamais podendo constituir um fim suficiente em si. 

VISÃO PANORÂMICA

O livro é essencialmente uma coletânea de profecias de Jeremias, dirigidas principalmente a Judá (2—29), mas também a nove nações estrangeiras (46—51); estas profecias focalizam principalmente o juízo, embora haja algumas que dizem respeito à restauração (ver especialmente os caps. 30—33). Essas profecias não estão dispostas numa ordem rigidamente cronológica ou temática, embora o livro de Jeremias tenha a estrutura global indicada no esboço. Parte do livro está escrita em linguagem poética, ao passo que outras têm a forma de prosa ou narrativa. Suas mensagens proféticas estão entrelaçadas com os seguintes aspectos históricos: (1) a vida e ministério do profeta (e.g., caps. 1; 34—38; 40—45); (2) a história de Judá, principalmente durante o período dos reis: Josias (caps. 1—6), Joaquim (7—20) e Zedequias (21—25; 34), inclusive a queda de Jerusalém (cap. 39), e (3) eventos internacionais que envolviam Babilônia e outras nações (25—29; 46—52). Assim como Ezequiel, Jeremias pratica várias ações simbólicas a fim de ilustrar de modo claro a sua mensagem profética: e.g., o cinto podre (13.1-14), a seca (14.1-9), a proibição divina de não se casar ou ter filhos (16.1-9), o oleiro e o barro (18.1-11), o vaso do oleiro, que se fragmentou (19.1-13), os dois cestos de figos (24.1-10), o jugo no seu pescoço (27.1-11), a compra de um terreno na sua cidade natal (32.6-15) e as grandes pedras colocadas no pavimento de tijolos de Faraó (43.8-13). A compreensão clara que Jeremias tinha da sua chamada profética (1.17), juntamente com as frequentes reafirmações de Deus (e.g., 3.12; 7.2, 27,28; 11.2, 6; 13.12,13; 17.19,20), capacitaram-no a proclamar com ousadia e fé a palavra profética a Judá, apesar de esta nação sempre reagir com hostilidade, rejeição e perseguição (e.g., 15.20,21). Após a destruição de Jerusalém, Jeremias foi levado contra sua vontade ao Egito, onde continuou profetizando até a sua morte (caps. 43; 44).

AUTORIA 

Trata-se de um problema muito complexo que não pode ser eficazmente abordado numa breve introdução como esta. O próprio livro diz que Baruque, o escriba, escreveu as profecias que Jeremias pronunciou (ver Jr 36.32), e declara que "ainda se acrescentaram a elas muitas palavras semelhantes". Duma maneira geral, Baruque parece ter sido fiel amanuense de Jeremias e, note-se, acompanhou-o até ao Egito (Jr 43.6). As próprias profecias não vem em ordem cronológica, o que pode causar confusão numa mentalidade ocidental, habituada a encarar tais problemas de uma maneira lógica. O problema resulta ainda mais complicado por haver grandes diferenças entre o texto hebraico e o dos Setenta deste livro, fenômeno que se verifica mais nele do que em qualquer outro. Estas diferenças não dizem respeito apenas às palavras mas afetam a ordem de apresentação do conteúdo. Todavia as versões atuais trazem Jeremias como sendo o escritor do livro que lava seu nome.

O CARÁTER DO PROFETA 

Jeremias era, de fato, um homem de Deus, sensível a toda a influência espiritual, suscetível de profunda emoção, dotado de visão clara e critério cristalino. Não podia ser comprado nem cavilosamente convencido. Seguia o caminho traçado pelo seu espírito, este sempre apoiado no sentimento de adoração que vivia dentro dele. Foi um homem de Deus do princípio ao fim e, portanto, um patriota fiel até a tragédia. Não era cego para o pecado e loucura do seu povo. Descortinou com profunda amargura o nexo férreo entre o pecado e o castigo, e previu o exílio como uma punição inevitável e irrevogável, a não ser que se verificasse uma conversão. Foi para a provocar que despendeu sem reservas todo o seu esforço. Essencialmente, foi um mediador impelido pelo patriotismo e pela fé em Deus. Daí a veemência das suas emoções e mensagens, ora contra o seu povo, ora intercedendo junto do Senhor. Daí também o seu isolamento, a sua agonia de espírito, os seus cruciais conflitos íntimos. A sua paixão iluminava-lhe os passos, o que facilitou a sua tarefa, embora tornando-a desagradável. Viu a condenação, mas não a tragédia final. Tanto Israel como Judá tinham um futuro em Deus, o Qual seria a sua justiça. Haveria um novo concerto. Em Deus leu promessas, não futilidade, pelo que "ficou firme como vendo o invisível". Neste vulto descarnado, clamante, vemos o que Deus ousa pedir ao homem, e o que um homem assim pode dar. A descoberta do Jeremias autêntico pode bem constituir o renascimento de quem o descobre. 

EXEGESE DE JEREMIAS 22.29

(Jr.22.29 – Ó terra, terra, terra, ouve a palavra do Senhor!)
Jr.22.29 -אֶרֶץ אֶרֶץ אָרֶץ | שִׁמְעִי דְּבַר יְהוָה:

אֶרֶץ - (aretz) sf. Terra, se seguido do (h; rei + pata),daria אֶרֶץh; com o sentido de A Terra, já no contexto deste versículo a melhor expressão seria, Ó Terra, como encontramos nas atuais traduções.

אֶרֶץ - (eretz) sf. O mesmo substantivo feminino também com significado Terra, seqüenciando o versículo, talvez com o intuito de ênfase, e é apresentado na sequência ainda outra vez. (אֶרֶץ אָרֶץ/terra,terra). 

שִׁמְעִי - (shimi) f.sg. Derivado de [mv; “lit. ele ouviu”, que é um verbo imperativo Qal, da classe dos verbos considerados fracos. שִׁמְעִי neste contexto indica imperativo (ouve), no sentido de atentar, praticar, obedecer.

דְּבַר - (devar) Esta palavra deriva do sf. דְּבַר (davar),que tem o significado de : Palavra, assunto, matéria; No contexto indica Palavra no sentido de ser aquela derivada do Senhor.

הוָהy] – (Iehová) Jeová, Senhor. Nome próprio de Deus. A Bíblia de Jerusalém (Nova edição revista e ampliada, Ed. Paulus), trás a palavra Iahweh, (hwhy) Javeh, de onde deriva Jeová.

Jr. 22.29 Fazendo a junção das palavras já de modo organizado podemos dizer literalmente:

“Terra! Terra! Terra! obedece aos mandamentos de Jeová”.

Vejamos a seguir como dizem as nossas principais versões:

AEC- Ó terra, terra, terra, ouve a palavra do Senhor!
ACF- Ó terra, terra, terra! Ouve a palavra do SENHOR.
ARA- Ó terra, terra, terra! Ouve a palavra do Senhor!
ARC- Ó terra, terra, terra! Ouve a palavra do Senhor!
BV- Ó terra, terra, terra; ouve a palavra do Senhor.
NTLH- Ó terra, terra, terra! Escute o que o Senhor disse: NERA- Terra!Terra!Terra! Escuta a palavra de Iahweh.
KJV- O earth, earth, earth, hear the word of the Lord.

BREVE COMENTÁRIO CAP. 22

Seguindo a orientação de Donald C. Stamps, comentarista da BEP ( Bíblia de Estudo Pentecostal) a seção que vai de (21.1—24.10), é chamada de: Condenação dos Reis Ímpios, dos Falsos Profetas e da Decadente Judá.

E de acordo com a organização de F. Davidson de (O Novo Comentário da Bíblia), a porção é intitulada: Reis e Profetas de Judá: A visão do fim – (Jr 22.1-25.38) e Esta seção segundo o autor, contém várias profecias respeitantes aos reis contemporâneos de Judá; sendo impossível saber se foram ou não proferidas por Jeremias na ordem em que se encontram. 

1. INTRODUÇÃO (Jr 22.1-9). Tanto o rei como o povo deverão exercer julgamento e misericórdia, especialmente para os mais necessitados, de outro modo a casa de Davi será assolada. Iavé compromete-Se pelo juramento mais solene a punir a desobediência com a desolação: Por Mim mesmo tenho jurado (5); A casa de Davi, simbolizada pela floresta do Líbano, será destruída pelo fogo. Uma vez mais, a causa de semelhante catástrofe é a idolatria impenitente. Os teus cedros escolhidos (7); entenda-se; os dirigentes da nação. 

Jr-22.10 

2. SALUM (Jr 22.10-12) Josias, cuja morte em Megido (608 A. C.) constituiu uma catástrofe para o movimento de reforma, não deverá ser chorado. Não choreis o morto (10), mas antes Salum, isto é, Jeoacaz, que morreu exilado no Egito depois de haver reinado durante apenas três meses (2Rs 23.36-24.7). Foi este o primeiro monarca do reino do sul a morrer no exílio. O sentido do vers. 10 é que é melhor morrer no campo de batalha do que no cativeiro. 

Jr-22.13 

3. JEOAQUIM (Jr 22.13-23). O pai deste rei tinha sido um reformador mas procedera mal aos olhos de Deus. Josias fora justo, e o filho era injusto. Josias fora um pai para o seu povo, mas seu filho espezinhou perfidamente os seus direitos básicos; um era um homem austero, o outro amante da ostentação; o primeiro morreu como um herói, e o segundo foi enterrado como um jumento, sem cerimônias fúnebres (2Rs 24.6). Os vers. 20-23 podem dizer respeito a qualquer rei desconhecido. Namorados (20), palavra que significa "aliados". Líbano... Basã... Abarim (20) eram montanhas que davam para Israel e Judá, começando no norte e estendendo-se pela fronteira de leste. 

Jr-22.24 

4. JEOAQUIM (Jr 22.24-30). Nesta profecia acerca de Jeoaquim ou Jeconias parecem combinar-se dois oráculos de Jeremias, o primeiro (vers. 24-27) acerca do cativeiro futuro, e o segundo (vers. 28-30) acerca do cativeiro conforme já experimentado. Todo este trecho constitui, porém, uma lamentação pelo estado desolado de Jerusalém devido à política míope dos seus reis. Jeoaquim e sua mãe são lançados fora para morrerem no exílio, profecia esta que se cumpriu conforme descrito em 2Rs 24.8 e seguintes. Em 597 A. C., Nabucodonosor marchou contra Jerusalém, e Jeoaquim, sua mãe e toda a casa real saíram ao seu encontro, sendo levados para Babilônia. O ex-rei foi posto em liberdade após trinta e sete anos de cativeiro. 

NOSSO COMENTÁRIO

De acordo com o que entendemos, em se tratando, agora não mais de todo o capítulo, mas precisamente no comentário do versículo em apreço, podemos concluir de maneira bem clara que Deus estava imensamente furioso com os acontecimentos e, ao que parece, bradou, através do profeta, com a expressão: “Ó terra! Terra! Terra! Ouve a palavra do Senhor.” O restante do capítulo em seu contexto geral para frente ou para trás, não faz alusão, acredito, a expressão do vers. 29, e, entendo a expressão mais como um brado, um desabafo, de fato. É possível encontrar-mos em passagens paralelas algumas frases expressas de um mesmo significado e.g. Dt. 32.1 que diz: “Inclinai os ouvidos, ó céus, e falarei; e ouça a terra as palavras de minha boca.” E Is. 1.2a diz: “Ouvi, ó céus, e presta ouvidos, tu, ó terra, porque fala o senhor...” e ainda 34.1 do mesmo que diz: “Chegai-vos, nações, para ouvir; e vós, povos, escutai; ouça a terra e a sua plenitude, o mundo e tudo quanto produz.” (e neste contexto fala exatamente de indignação da parte de Deus para como a terra, ou seja, a humanidade md;a). Já Miquéias, o profeta diz o seguinte em Mq.1.2a: “Ouvi, todos os povos, presta atenção, ó terra...” Estas expressões revelam desabafo, brado, descontentamento. Algo que devesse chamar a atenção de imediato. Seria como se Deus estivesse dizendo: Ouçam-me para que possam se dar bem!

BREVE APLICAÇÃO

Como nos dias dos profetas, onde as rebeliões eram constantes, agora nos dias hodiernos a situação não é diferente. Há aqueles que infelizmente não estão nem aí para as correções que são lançadas pelos profetas da última hora, constituídos por Deus para esta geração tão perversa. Com o crescimento de igrejas intituladas “protestantes”, porém, sem nenhum caráter para tal, a diversidade de “doutrinas”, se é que possam ser chamadas assim, e a facilidade com que as “instruções” são destinadas, os participantes destes lugares encontram desculpas para todo tipo de desobediência, não levando a sério o compromisso de ser um verdadeiro representante de Deus, bem como, um autêntico seguidor de Jesus. Passando por cima dos ditames estabelecidos pela própria Palavra, atuando a seu bel prazer, sem escrúpulos, desordenados, soberbos, blasfemos, irreconciliáveis, em fim, para estes a expressão se aplica muito bem. Por outro lado, não no tocante, a àqueles que estão “no Caminho”, a população de nossos dias atuais está perdida no tempo, dando prioridades a inúmeras atividades e preocupados com muitas coisas que não corroboram com o Reino de Deus, assim a aplicação da expressão: “Ó terra! Terra! Terra! Ouve a palavra do Senhor,” também serve como alerta para aqueles que nem a esperança comporta em sua realidade. 



BIBLIOGRAFIA

• O Novo Comentário da Bíblia. Editado e organizado pelo Prof. F. Davidson, MA, DD.Colaboradores Rev. A. M. Stibbs, MA, DD Rev. E. F. Kevan, MTh. Editado em português pelo Rev. Dr. Russell P. Shedd, MA, BD, PhD. Edições Vida Nova-SP

• Bíblia de Estudo Pentecostal. Antigo e Novo Testamento, Traduzida em português por João Ferreira de Almeida, com referências e algumas variantes. Edição Revista e Corrigida, Ed.1995, Edições CPAD-RJ 2002.

sábado, 11 de março de 2017

A VIDA DE JESUS CRISTO - VISÃO GERAL


Jesus Cristo é o Messias, Salvador e fundador da igreja cristã. Para os cristãos, Ele é o Senhor de suas vidas. Embora tenha vivido na terra somente 33 anos, tem exercido grande impacto nas pessoas – mesmo naqueles que não creem que Ele é o Filho de Deus.
Jesus Cristo é descrito em detalhe na Bíblia – sua vida, obra e ensinamentos – nos Evangelhos, cada um focando diferentes ângulos. Mateus o apresenta como o esperado Rei do povo judeu. Marcos o mostra como servo de todos. Lucas tende a destacar seu caráter compassivo e bondoso para com os pobres. João descreve um relacionamento amoroso com Jesus. No entanto todos concordam que Jesus é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis.

A VIDA DE JESUS

A história contada nos Evangelhos abrange estágios que vão da encarnação de Cristo, ou sua entrada no mundo, até sua morte na cruz. A apresentação total da vida de Cristo está centrada na cruz e na sua ressurreição triunfal.

A PRÉ-EXISTÊNCIA DE JESUS

João começa o seu Evangelho com uma referência à Palavra (João 1:1), e com isso dá uma visão gloriosa de Jesus, que existia mesmo antes da criação do mundo (1:2). Jesus tomou parte no ato da criação (1:3). Entretanto, o nascimento de Jesus foi ao mesmo tempo um ato de humilhação e de iluminação. A luz brilhou, mas o mundo preferiu permanecer nas trevas (1:4-5, 10).

O NASCIMENTO VIRGINAL DE JESUS

Mateus e Lucas contam que Jesus Cristo foi concebido pelo Espírito Santo e nascido de Maria, que era virgem. Para ser Deus e homem, Jesus não poderia ter sido concebido naturalmente. Profetizado por Isaías e Acaz (Isaías 7:10-14), seu nascimento miraculoso não foi um fato sem importância – é o cerne da história de Jesus. O nascimento virginal é prova da Encarnação de Jesus e de que Cristo era realmente Deus.Jesus passou sua infância em Nazaré e aos 12 anos foi achado no templo conversando com os doutores da lei.

A PREGAÇÃO DE JOÃO BATISTA

João Batista andava pelo deserto conclamando o povo para o arrependimento e o batismo (Mateus 3:1-6). Falava da aproximação do reino (Mateus 3:2). Com esse mesmo tema Jesus iniciou seu ministério (4:17), o que mostra que a obra de João Batista integrava a preparação do ministério público de Jesus. O mesmo se pode dizer sobre o rito do batismo, embora João reconhecesse que Jesus batizaria com o Espírito Santo e com fogo (3:11). João foi protagonista do primeiro ato público de Jesus – seu desejo de ser batizado (3:13-15; Lucas 3:21).

O BATISMO DE JESUS

Jesus veio ao mundo com uma missão e embora não fosse pecador, decidiu se submeter ao batismo para mostrar que estava preparado para levar a carga de pecados da humanidade. O batismo é um símbolo da morte do homem, sepultamento de seus pecados e ressurreição de uma nova criatura em Cristo. É uma visão externa da mudança interna de uma pessoa. A parte mais importante do batismo de Jesus foi a voz que desceu do céu, declarando prazer no Filho amado (Mateus 3:17). Esse pronunciamento de Deus foi o verdadeiro início do ministério de Jesus; o Pai lhe dava total aprovação para sua obra. Outro fato importante foi a manifestação do Espírito Santo sob a forma simbólica de uma pomba (3:16).

A TENTAÇÃO DE JESUS

O batismo de Jesus mostrou a natureza de sua missão. A tentação mostrou a natureza do ambiente em que exerceria seu ministério (Mateus 4:1; Lucas 4:1-2). A confrontação com forças espirituais adversas ocorreram em várias situações e a todas Jesus rebateu com as Escrituras.

O MINISTÉRIO DE JESUS

Desenvolvido num período curto de 3 anos, o ministério de Jesus foi intenso, marcado por uma convivência rica com os discípulos que escolheu (Mateus 4:18-22; Marcos 1:16-20; Lucas 5:1-11) e que compartilharam de momentos muito especiais em que foram testemunhas de seus milagres (João 2:1-10), curas (Mateus 8:1-9:34), sermões (Mateus 5:1-7:29), encontros inusitados com pecadores (João 2:13-16; John 4:1-42; João 3) e líderes religiosos (Mateus 21:23-22:45), encontros e visitas a amigos (João 11; Mateus 26:6), de sua perseguição (Mateus 12:1-14; Lucas 13:10-17; João 5:9-18), sofrimento (Mateus 27: 27-44) e morte (Mateus 27: 45-50). 

OS DIAS FINAIS EM JERUSALÉM

Incomodados com a crescente popularidade de Jesus, os líderes religiosos procuravam achá-lo em falta. Jesus começou a preparar seus discípulos, instruindo-os sobre eventos futuros, especialmente o fim do mundo. Reafirmou-lhes a certeza de sua volta e mencionou vários sinais que a precederiam (Mateus 24-25; Marcos 13; Lucas 21). Desafiou-os a estarem vigilantes (Mateus 25:13) e diligentes (25:14-30). Com isso preparava o caminho para os eventos da prisão, julgamento, sofrimento e crucificação que se seguiram.
Na noite anterior à sua prisão, porém, tomou com eles a Ceia do Senhor e lhes explicou o significado da sua morte (Mateus 26:26-30; Marcos 14:22-25; Lucas 22:19-20; 1 Coríntios 11:23-26). Através do pão e do vinho, que simbolizavam seu corpo partido e seu sangue derramado pelos pecadores, instituiu um memorial que selava uma nova aliança.

TRAIÇÃO E PRISÃO

Naquela mesa estava também o traidor, Judas, que o entregaria aos soldados e autoridades (Mateus 26:21-25; Marcos 14:18-21; Lucas 22:21-23; João 13:21-30).
Depois de cear, Jesus se retirou para o Jardim do Getsêmane (Mateus 26:36-46; Marcos 14:32-42; Lucas 22:40-46) onde orou intensamente e em agonia, mas ao mesmo tempo submetendo-se à vontade do Pai. Por isso, não ofereceu resistência quando o prenderam.

JULGAMENTO E CRUCIFICAÇÃO

Levado à presença das autoridades, Jesus foi interrogado (Mateus 27:1-2; Marcos 15:1; Lucas 23:1; João 18:28; Lucas 23:7-12) e julgado inocente por Pilatos. Mas seus inimigos escarneciam dele e incitavam a multidão pedindo sua morte. Pilatos entregou-o para ser crucificado. Foi pregado numa cruz, sofreu zombarias, açoites e humilhações, mas ainda assim expressou compaixão pelo criminoso arrependido crucificado ao seu lado (Lucas 23:39-43). Também comoveu-se por sua mãe (João 19:25-27), orou ao Pai pelo perdão daqueles que o crucificaram (Lucas 23:34) e com um grande grito, expirou (Marcos 15:37). Naquele momento houve escuridão e um terremoto, como se a natureza reconhecesse o significado daquele evento. O véu do templo de Jerusalém se partiu ao meio, não mais servindo como barreira ao lugar Santo dos Santos. A morte de Jesus abriu o caminho para todas pessoas chegarem livremente à presença de Deus e adorá-lo. Ele pagou por nossos pecados e nos trouxe de volta para o Pai.

SEPULTAMENTO, RESSURREIÇÃO E ASCENSÃO

O corpo de Jesus foi colocado numa tumba emprestada (Mateus 27:57-60; João 19:39) que, depois de 3 dias foi encontrada vazia (João 20:2-10). Cumprira-se a Escritura: Jesus ressuscitara. Seu aparecimento aos discípulos causou dúvida (João 20:24-29) e espanto.
Jesus ressuscitou glorificado em forma humana, porém não foi reconhecido de imediato. (João 20:15-16). Seus aparecimentos foram ocasiões de alegria e ensinamentos (Lucas 24:44 e Atos 1:3). A ressurreição transformou a tragédia em vitória. Sua ascensão aos céus aconteceu 40 dias depois da ressurreição. Jesus foi juntar-se ao Pai em glória (Lucas 24:51; João 20:17; Atos 1:9-11).

Fonte Ilúmina.

terça-feira, 7 de março de 2017

ALERTAS À IGREJA HODIERNA EM I CORÍNTIOS 3 - Por André Rodrigues


Surge em caráter de urgência, entre os anos 55/56 d.C., a necessidade de enviar uma carta aos jovens cristãos em Corinto. Esta urgência se deu logo após receber informações “[...] pelos da família de Cloé” (cf. ICo 1.11) que havia naqueles dias procedimentos comportamentais contrários na igreja outrora fundada e administrada – pessoalmente – por Paulo. Naquele período, ao menos um ano e seis meses, o apóstolo enquanto esteve na cidade, por ocasião de sua segunda viagem missionária (ver At 18.1-18), admoestava-os juntamente com seus auxiliares, tendo Priscila e Áquila como os principais.  Sabe-se ainda que toda a congregação em Corinto se desvirtuava acentuadamente dos ensinos outorgados pelo apóstolo quando esteve presente. Para tanto, Paulo, após conhecimento dos fatos propõem-se a escrever trazendo-lhes advertências para as suas iníquas atitudes. A carta enviada por ele àquela igreja, sem exagero poder-se-ia dizer que se trata da mais confrontadora das epístolas dada a gravidade da situação em que se encontrava.

Corinto era uma das mais importantes cidades no tempo do apóstolo. De acordo com Stamps “era, em muitos aspectos, a metrópole grega de maior destaque nos tempos de Paulo”[1]. No entanto, as prerrogativas positivas de Corinto, como cidade, não refletiam na sociedade e bem menos na igreja, pelo contrário, ele ressalta também e com maestria resumida que “Corinto era intelectualmente arrogante, materialmente próspera e moralmente corrupta. O pecado, em todas as suas formas, grassava na cidade de má fama, pela sua licenciosidade”[2]. A moralidade e a ética em Corinto eram escassas; a jovem igreja entranhada no ambiente de total depravação seguia os mesmos passos, agindo ao seu bel-prazer como se não houvesse rédeas que lhes sustentassem.  

Na epístola são encontradas diversas nuances concernentes a estrutura de formação para uma igreja genuinamente cristã. A carta nos traz, assim como para os coríntios, verdades inexoráveis e procedimentos que regulariam a forma de culto, de conduta, da ética, do casamento, do celibato, da liberdade cristã, do amor, dos dons espirituais, da ressurreição dentre outras coisas. Um verdadeiro compêndio de regras e esclarecimentos com respeito a normas eclesiásticas e, consequentemente a fé cristã.

Muitos assuntos contidos nesta epístola – para nosso ensino – poderiam ser trazidos ao debate, entretanto, como base, usaremos aqui conselhos elaborados por Paulo – sob a inspiração do Espírito Santo – no tratamento dado à igreja, especialmente no capítulo três, referindo-se a questões voltadas para a contenção da desordem na igreja – como Ministério – tomando a premissa da não pouca diferença daqueles dias e as mesmas circunstâncias em semelhança que os nossos.

Assim, o que poderíamos chamar de primeiro alerta inserido no texto quanto aos crentes daquela igreja – e por extensão, a nós – foi a tristeza de não poder “falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo” (vv. 1). Por certo, grande foi a preocupação e acima de qualquer sentimento, a decepção do apóstolo ao tomar conhecimento dos fatos que ocorreram e ocorriam com frequência na congregação, simplesmente pelo fato de não terem tidos desenvolvimento espiritual. Na verdade, toda a problemática instalada naquela igreja deixa transparecer à falta de amadurecimento da maioria daqueles crentes. Ensinamentos quando não observados tendem a gerar um enorme desconforto institucional e nesta perspectiva, o apóstolo os exorta fortemente, pois havia lhes comunicado os primeiros ditames da fé em Cristo e – ao que parece – haviam negligenciado ferrenhamente, pouco tempo depois após sua saída. Aqueles novos conversos haviam instituído diferentes grupos e se alto intitulavam ser deste ou daquele – igualmente, como nos nossos dias – quando estas coisas sob nenhuma hipótese poderiam ser assim. Exatamente neste aspecto, o apóstolo destaca a proeminência que deve ser dada exclusivamente a Deus, sendo – Este – o único responsável pelo crescimento, como nos mostra o texto: “Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Pelo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (vv. 6,7). Fica evidente o desconforto de Paulo numa situação visivelmente incomum. Aquilo que para a igreja de Corinto parecia – por costume – procedimentos normais, era na verdade uma deturpação da conduta cristã, havendo – entre eles – inclusive, contendas, invejas e dissensões (vv. 3). Como convém aos santos, os tais comportamentos supracitados, nem ao menos deveriam ser cogitados entre nós. A realidade conquanto é totalmente às avessas como na referida igreja e serve-nos de alerta. Porventura, não são assim os dias em que vivemos?

Em segundo lugar, o apóstolo ressalta Cristo como fundamento. Ele e somente Ele é digno de toda a atenção, pelo que somos – em contribuição para o Reino – apenas, “cooperadores de Deus” (vv. 9). Não possuindo nada para nos envaidecer. O apóstolo Paulo enfatiza ainda que “[...] ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (vv. 11) e através deste alerta destaca – por revelação – a multiface das manifestações das obras de cada cristão que àquele Dia fará alusão, se são ou não convenientes e dignas ao recebimento de galardão (vv. 12-15). Como nos dias de Corinto, hoje, Cristo como único fundamento, remete a uma distante realidade em muitos lugares – tidos – originalmente como cristãos. As invencionices em nossos dias são tantas que o que deveria ser prioridade – adoração e anunciação das benesses advindas do Cristo – na prática nem o detém como sendo principal objetivo de culto e assim seguem seus incansáveis desvarios.  

Por fim, o apóstolo destaca a importância concernente a identificação de que somos templo de Deus e habitação do Espírito (vv. 16, 17) e que não se trata de vã filosofia quando o assunto é Cristo Jesus e sua organização eclesiástica. Aqui, no ínterim do contexto cristão, o que não for próprio de ensino que nos leve para mais próximo de Deus e que nos permita ser autênticos seguidores de Cristo Jesus deve ser rejeitado e terminantemente aniquilado, “[...] porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia. E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos” (vv. 19, 20). Não deve em nosso meio haver espaço para tolas discussões. Todos nós, somos um em Cristo. Todos somos membros de um só corpo que possui Cristo como cabeça. Questões que não nos forneçam crescimento na fé devem ficar de fora. Obviamente, alguns poucos assuntos têm sua importância, no entanto, o nosso principal objetivo – como igreja – é render graças para com o nosso Deus; anunciar a iminente volta de Jesus em resgates dos seus; e procurar uma vivência de obediência irrestrita à sua palavra. Tenhamos – como nos aconselha o apóstolo – a consciência da não valorização humana exacerbada e sectária, pelo que o texto revela: “[...] ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja o presente, seja o futuro, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus” (vv. 21, 23). Assim, ao entender as objeções expostas pelo escritor neste capítulo, devamos está mais firmes, mais constantes, amadurecidos e, no aguardo consciente da bem aventurada esperança de um dia podermos estar com o Senhor nos céus de glória.




[1] (STAMPS, Donald C., 2002, p. 1733).
[2] ÍBIDEM

segunda-feira, 6 de março de 2017

A CONTROVERSA INSTITUIÇÃO DO OFÍCIO RÉGIO EM ISRAEL - Por André Rodrigues



Como registramos acima, todas as antigas civilizações possuíam representantes legais instituídos na sua esfera política. Israel, não! Essa complexa situação pode ser explicada largamente com textos das Escrituras, que afirmam ser Deus o verdadeiro representante régio da nação judaica. No canto de Moisés, por exemplo, após a vitória sobre os egípcios submersos pelo mar[1], diz-se: “O SENHOR reinará eterna e perpetualmente” (Êx 15.18, ARC). Em outro lugar diz-se que se o povo obedecesse a Deus, dando ouvidos a Sua voz e guardando os Seus mandamentos, seriam Seu “reino de sacerdotes e nação santa” (Êx 19.6, ARA, grifo nosso). Para que haja um reino, é necessário haver um Rei. A nação de Israel era regida por Deus, caracterizando, assim, um governo teocrático[2], ou seja, um domínio exercido pelo próprio Deus. “O trecho de Isaías 33.22 afirma enfaticamente o princípio envolvido: “Porque o Senhor é o nosso juiz, o Senhor é o nosso legislador, o Senhor é o nosso rei: Ele nos salvará” (CHAMPLIN, 1995, vol. V, p. 618). Ademais, num sentido organizacional, havia representantes nas primitivas tribos judaicas. Douglas explica que: Na história de Israel, as primitivas tribos nômades eram governadas pelo patriarca do clã. Durante o êxodo do Egito, o governo foi exercido por Moisés, sucedido posteriormente por Josué, naquilo que era praticamente uma teocracia, na qual o líder não-hereditário era eleito pela chamada divina e reconhecido pelo povo, ainda que não sem certo protesto (Êx 4.29s.; Nm 16.1s.). Quando Israel se estabeleceu na Palestina,[3] inicialmente, as tribos eram governadas principalmente pelos anciãos das vilas (Jz 11.5), os quais podiam convocar algum homem de sua escolha para comandar a milícia contra o inimigo (Et All, 2006, p. 1146).

Ratificando a citação acima, Champlin (1995, vol. V, p. 618) expõe que “na antiga nação de Israel, a autoridade era exercida, essencialmente através de chefes de aldeias [...], quando necessário, esses chefes podiam convocar um exército de emergência (Jz 11.9)”.  Essa complexa configuração governamental, regida por chefes de aldeias, não era muito conveniente: “Depois da morte de Josué, a nação hebraica não tinha um governo central forte” (HALLEY, 2001, p. 162). Tal situação conturbada apenas foi reestruturada, mais tarde, com a literal instituição do ofício régio em Israel.

Quanto à falta de estrutura existente nesse sistema de governo, Halley explica:[...] Tratava-se de uma confederação de doze tribos independentes, destituídas de qualquer elemento de unificação, a não ser o próprio Deus. A forma de governo nos dias dos juízes[4] (libertadores) era aquela que se chama “teocracia”, ou seja, considerava-se que o próprio Deus era o governante direto da nação. Entretanto, o povo não levava muito a sério o seu Deus – os israelitas recaíam continuamente na idolatria. Vivendo numa condição de anarquia mais grave ou menos grave, afligidos ocasionalmente por guerras civis entre si mesmos e cercados por inimigos que faziam repetidas tentativas de exterminá-los, os hebreus tiveram um desenvolvimento nacional muito lento. Os israelitas não se tornaram uma grande nação a não ser quando foram organizados em um reino nos dias de Samuel e de Davi (2001, p. 162).  

 “Após o desaparecimento dos fortes líderes, como Moisés e Josué, os chefes de aldeias nunca foram suficientemente importantes para impedir o caos” (CHAMPLIN, 1995, vol. V, p. 619). Nesse contexto, ocorre exatamente a triste expressão máxima: “Naqueles dias, não havia rei em Israel, porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos” (Jz 21.25, ARC, grifo nosso). Entretanto, um pouco mais à frente, embora nesse mesmo contexto, encontramos dois personagens que conseguiram desenvolver uma liderança diferenciada, mesmo com todos os problemas decorrentes daqueles dias: Eli e Samuel. Acerca deles, Champlin nos informa: Esses dois homens proveram uma forte liderança. Eli era o sacerdote principal[5] em Siló (I Sam. 1:3; 4:13). Samuel tinha uma liderança não-hereditária. Ele governava de diversos lugares em Israel, em seus circuitos pela nação (I Sam. 7:15ss) (1995, vol. V, p. 619). 

Contudo, depois de certa calmaria na nação liderada interinamente por Samuel, surge, entre os judeus, um saliente pedido: a instituição de um rei, como havia em todas as outras nações. Sem dúvida, isso arruinou o coração de Samuel, que entendeu a premente petição como a rejeição da teocracia até então fixada. O texto sagrado nos informa: E sucedeu que, tendo Samuel envelhecido, constituiu a seus filhos por juízes sobre Israel. E era o nome do seu filho primogênito Joel, e o nome do seu segundo, Abias; e foram juízes em Berseba. Porém seus filhos não andaram pelos caminhos dele; antes, se inclinavam à avareza, e tomaram presentes e perverteram o juízo. Então, os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos pois, agora, um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações (I Sm 8.1-5, ARC). 

Essas palavras soaram mal aos ouvidos de Samuel, que tinha zelo excessivo pela nação e, consequentemente, zelo para com o Deus da nação. No entanto, “o pedido provavelmente foi feito em vista da contínua ameaça dos filisteus, que tornava necessária a existência de um exército permanente”[6](DOUGLAS, Et All, 2006, p. 1146). Acerca da receptividade dessa petição por parte dos anciãos representantes do povo, o autor comenta: O descontentamento de Samuel não ocorreu porque o povo julgou que ele estava velho e que os seus filhos não eram dignos de sucedê-lo, mas porque pediram um rei – fato no qual ele via claramente implicações profundas com envolvimentos morais e espirituais. Os seus receios se confirmaram quando o Senhor lhe disse: o povo não te tem rejeitado a ti; antes, a mim me tem rejeitado, para eu não reinar sobre ele. A nação já tinha uma triste história de rebelião e idolatria, e estava, agora, apenas fazendo a Samuel o que já havia feito ao Senhor. Esperava-se que o profeta concordasse com o pedido, mas ele protestou e claramente informou os líderes do resultado de sua escolha (MULDER, Et All, vol. 2, p. 193, grifo do autor). 

Foi nessas circunstâncias que se estabeleceu o ofício real em Israel, tendo Saul como seu primeiro rei. Ele “pertencia à tribo de Benjamim [...] alto, de boa aparência e humilde, [...] começou seu reinado com uma vitória brilhante sobre os amonitas[7]. Desapareceram, então, quaisquer dúvidas a respeito da nova monarquia” (HALLEY, 2006, p. 181). Mesmo com a instituição de um rei em Israel, “durante o seu reinado, [...] Samuel, enquanto viveu, preservou a liderança religiosa” (DOUGLAS, Et All, 2006, p. 1146). E Saul se consolidou como o representante da nação. O rei Saul obteve poderes consideráveis, em pouco tempo. Ele tinha a última palavra na administração da justiça e da política interna (II Sam. 15:2; I Rs 3:16). Exercia o poder de vida e morte sobre os cidadãos (II Sam.14). Chegou a imiscuir-se em assuntos religiosos (I Rs 8 e II Rs 12.14; 18:4; 23.1). Era o comandante-em-chefe do exército. E essa era a principal razão pela qual os israelitas queriam ter um rei; porque temiam os muitos inimigos que viviam ameaçando Israel por todos os lados (I Sam 8.20) (CHAMPLIN, 1995, vol. V, p. 619). 

Porém, a história registra que esse aspecto vitorioso do rei Saul não perdurou por muito tempo. Ele se envaideceu e pôs abaixo seu reinado, dando lugar a outro[8] que conseguiria estabelecer uma dinastia preeminente e um relevante respeito em todos os tempos, e, sem exagero, tornar seu reino eterno, figura tipológica do Reino do Messias. Halley expõe, de modo condensado, pelo menos três principais erros cometidos pelo primeiro rei de Israel: O primeiro erro de Saul (cap. 13). Seus sucessos deixaram-no envaidecido em pouco tempo. A humildade foi substituída pela soberba. Ele ofereceu sacrifícios, que era função exclusiva dos sacerdotes. [...] O segundo erro de Saul (cap. 14). A ordem impensada que impôs ao exército para que se abstivesse de alimentos e a sentença de morte, igualmente impensada, que decretou contra Jônatas mostravam ao povo que grande tolo os israelitas tinham como rei. O terceiro erro de Saul (cap. 15). Dessa vez, Saul desobedeceu deliberadamente a Deus. Por causa disso, teve de ouvir a sentença ameaçadora de Samuel: “Assim como você rejeitou a palavra do Senhor, ele o rejeitou como rei” (2001, p. 181, grifos do autor). 

Imaturamente, Saul deixa escapar a oportunidade concedida por Deus de ser um rei que tornasse diferente a história da nação de Israel. Foi tirado do trono, e Davi reinou em seu lugar. Este é considerado o maior rei da história israelita, lembrado até os dias de hoje. É sobre Davi que trataremos no seguinte tópico.   




[1] Cf. Êx 14.27-31.

[2] Teocracia – Esse vocábulo, que não ocorre na Bíblia, originou-se, ao que parece, com o historiador Josefo, quando escreveu: “O nosso Legislador deu-nos um governo que podemos denominar de teocracia, atribuindo o poder e a autoridade a Deus”. Essa relação de Deus com seu povo se vê em Êx 25.22; Jz 8.23; 1Sm 12.12; 2Cr 13.8; 2Sm 7.1-17; Sl 89.27; Dt 17.14-20 (BOYER, 2006, p. 637). Outro ponto a considerar, citado por Geisler (2010, vol. 4, p. 870) é que quando Deus ratificou o concerto mosaico com seu povo, Ele disse: “ Vós me sereis reino sacerdotal e povo santo”. Isso registra o estabelecimento de uma teocracia; Israel aceitou o papel de ser governada diretamente por Deus. Eles eram o reino de Deus na terra, e Ele era o seu Rei. Em termos técnicos, explica Andrade, a definição deste termo no gr. Theos, Deus + kratia, é: governo. Explica ainda que este governo era centrado nas leis de Deus e exercido por sacerdotes. No Antigo Testamento, esta configuração governamental teve um apogeu na judicatura de Samuel, que tinha atuação de profeta, sacerdote e também chefe de Estado (2007, p. 339).

[3] Boyer (2006, p. 489) diz que a palavra Palestina quer dizer: A terra dos Filisteus. Chamava-se, também, A terra de CanaãA terra de IsraelA terra prometidaA terra santa. Em todo o mundo, a Palestina é considerada a pátria dos israelitas e dos judeus.

[4] Os juízes foram 13 homens que o Senhor suscitou para libertar o povo durante a decadência e desunião que se seguiram à morte de Josué. A ira de Deus se ascendia contra Israel por causa da apostasia e imoralidade (BOYER, 2006, p. 383). É incerta a duração do período dos juízes. Ao somarmos todos os anos de opressão e dos juízes individuais, bem como os dos períodos de descanso, chegaríamos ao total de 410 anos (HALLEY, 2006, p. 162).

[5] Eli (uma contração de “Deus é grande”) era um sumo sacerdote. Entre os outros sacerdotes estavam os seus dois filhos, Hofni e Finéias, notáveis por sua corrupção e incredulidade (2.12-17, 23.25; 3.13). Como era hereditário, o sacerdócio passava do pai para os filhos sem consideração pelo caráter ou falta do mesmo (MULDER, Et All, vol. 2, p. 180, grifos do autor).
[6] Cf. I Sm 8.20.

[7] Cf. I Sm 11.

[8] Davi, do heb., Amado. O segundo e o mais ilustre dos reis de Israel, conhecido como “o homem segundo o coração de Deus” (BOYER, 2006, p. 192). Davi era de baixa estatura, de tez clara, de belo aspecto, de grande força física e de muitos atrativos pessoais, homem de guerra, prudente no falar, muito corajoso, bom músico e bastante religioso (HALLEY, 2001, p. 181).

sexta-feira, 3 de março de 2017

A RELEVÂNCIA DOS DÍZIMOS E DAS OFERTAS A LUZ DA TEOLOGIA DO N.T. - Por André Rodrigues



Sem dúvida, dízimos e ofertas é um assunto de importância sui generi. Diversas são as especulações quando o que está em pauta é a doação de algo. No Pacto passado era prática comum – o exercício – de ofertas e dízimos. Setecentos anos antes da instituição da lei mosaica propriamente dita, Abrão depois da batalha com os reis, deu dízimo dos despojos ao sacerdote-rei de Salém, Melquisedeque, que por sua vez, era reconhecido como Sacerdote do Deus-Altíssimo (cf. Gn 14.18-20).

As ofertas alçadas – voluntárias – eram depositadas tanto quanto os dízimos, para fins específicos. Halley acentua que havia naquela dispensação pelo menos três tipos característicos de dízimo: “[...] o dízimo levítico, o dízimo para as festas e, de três em três anos os dízimos para os pobres” (2001, p. 132). “A décima parte dos produtos da terra e do aumento dos rebanhos e das manadas devia ser dada a Deus; é isto que é chamado de dízimo (Gn 14.20; 28.22; Lv 27. 30-32; Nm 18.21-28 etc.)” (HALLEY, 2001, p. 131).

Na dispensação neotestamentária a situação não é mais derivada de leis cerimoniais, a contribuição dos dízimos e das ofertas – agora – parte do pressuposto da fé. Uma conscientização na igreja local, no tocante, ao ato de dizimar e ofertar com a finalidade de cooperar com reino de Deus, de modo financeiro – quero com isso dizer – cuidar das necessidades básicas comuns de nossa realidade hodierna. É importante salientar que ainda hoje em determinados lugares, as ofertas e os dízimos configura-se no mesmo modus operandi da realidade passada, como no caso de algumas das igrejas da África, por exemplo, que trazem a décima parte de vossa colheita. Aqui, por questão de condição e não de cerimonialismo veterotestamentário.


Estas contribuições voluntárias dos dízimos e das ofertas na visão do Novo Testamento são respaldadas à luz da Bíblia. Diversos exemplos de comportamento, no tocante, a contribuição nas igrejas, são largamente observados principalmente nas cartas do apóstolo Paulo. Nesta conjuntura é comum a percepção de que quase todas as epístolas escritas por Paulo, nasceram da “necessidade de”, enquanto ao escrever aos Filipenses, o apóstolo muda o cenário e emprega o “agradecimento a”. Reporto-me ao exemplo destes últimos crentes, por haver naquela epístola agradecimento do apóstolo quanto a contribuição voluntária, tanto para a igreja de Jerusalém, que havia ficado em situação difícil depois de venderem suas propriedades à espera da iminente volta de Jesus, como também, para o sustento do próprio apóstolo, como gratidão a todos os benefícios que este os haviam feito. Assim diz o texto: “Todavia fizeste bem em tomar parte na minha aflição. E bem sabeis também vós, ó filipenses, que, no princípio do evangelho, quando partir da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a receber, senão vós somente. Porque também, uma e outra vez, me mandaste o necessário a Tessalônica. Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que aumente a vossa conta. Mas bastante tenho recebido e tenho abundância; cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível a Deus”. (Fl 4.14-18 - ARC). A frase destacada nos mostra que tal ato tem a sua relevância na teologia do Novo Testamento. Ademais, quanto as contribuições – unicamente pela fé – pode-se afirmar que reflete não somente em dar de modo regulamentar – de forma mecânica – mas, para os que fazem entendendo a importância real da mordomia cristã compreende cabalmente que se trata de uma responsabilidade local, eclesiástica, e por fim haverá de ser sacrifício em que Deus se agrada. 

quarta-feira, 1 de março de 2017

PILARES PARA A SALVAÇÃO EM CRISTO JESUS - Por André Rodrigues


No tocante a doutrina da salvação – soteriologia – a percepção escriturística para uma definição minimamente conciliadora, dar-se-á na junção de três pilares: graça, confissão e fé. Em relação a graça – salvadora – João menciona com primazia sendo a mesma unicamente encontrada em Cristo, pelo que diz: "Pois todos nós recebemos da sua plenitude, e graça sobre graça. Porque a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo" (cf. Jo 1.16-17). Na mesma direção ao enviar carta para Tito, o apóstolo Paulo ressalta o advento da manifestação desta mesma graça, senão vejamos: "Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens [...]" (cf. Tt 2.11). Quanto aos dois últimos pilares – dentre outros – o resumo é nítido em Romanos ao revelar o modelo ideal para o esperado fim: "Porque, se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo; pois é com o coração que se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação" (ver Rm 10.9-10). Ao contrário do que se tenta inserir em mente incauta, a salvação em Cristo Jesus é uma realidade tão veemente que seria esculacho psíquico remeter à utopia.