sábado, 5 de março de 2016

JESUS, O ETERNO DESCENDENTE DE DAVI - Por André Rodrigues



Depois de tecermos comentários sobre os ofícios de Jesus como Profeta e Perfeito Sumo Sacerdote, falaremos, agora, sobre Seu ofício de Rei, o terceiro do tríplice ofício. Partiremos do pressuposto de sua atuação como Rei nos Evangelhos sinópticos, na implantação deste reino no início do Seu ministério, como também dos aspectos característicos dessa atuação durante Seu estado de humilhação, após a ascensão e, por último, no futuro reinado do Milênio. 
Como foi possível observar, havia diversas promessas que diziam respeito a um Rei, descendente da casa de Davi, que reinaria eternamente. Severa (1999, p. 241) cita que “os profetas do Antigo Testamento falaram de um rei que viria da casa de Davi, para governar Israel e as nações, com justiça, paz e prosperidade (Is 11.1-9)”. Este Rei é Jesus. Uma dessas muitas promessas é relatada pelo profeta Isaías: Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que aumente o seu governo, e venha paz sem fim, sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto (9.6,7, ARA, grifos meu).
Havia, no Novo Testamento, uma expectativa do advento desse Reino. Os judeus conheciam bem as profecias e esperavam ansiosos por um reino terreno político, com a esperança de poderem viver em constante gozo num perfeito reino prometido por Deus, em contraste com a forma que viviam naqueles dias,  subjugados pelos romanos e desgastados por reinos imperiais de outrora. Geisler corrobora, dizendo: O Novo Testamento contém esta mesma expectativa messiânica do Antigo Testamento de um reino terreno político literal que cumpra todas as profecias a seu respeito. Por exemplo, José de Arimatéia estava esperando o auge deste reino (Mc 15.43; Lc 23.51), e Jesus disse que João Batista morreu antes de se tornar parte dele (7.28; cf. 16.16) (2010, vol. 4, p. 880). 
Mesmo com a expectativa da chegada do referido Reino, os judeus, em sua maioria, nos dias de Jesus, não deram crédito as Suas palavras. Ainda hoje esperam o advento do Messias. Não conseguiram perceber que Seu Rei estava diante deles. É-nos dito, entretanto, que logo no início de seu ministério, após a prisão de seu precursor, João Batista, “Jesus seguiu para a região da Galiléia e ali anunciava a boa notícia que vem de Deus. Ele dizia: - Chegou a hora, e o Reino de Deus está perto” (Mc 1.14,15, NTLH). Assim, de acordo com Letham (2007, p. 56), Marcos assinala, na verdade, “a primeira proclamação de seu ministério”. Dessa forma, esse registro retrata a inauguração desse Reino:   [...] o reino de Deus era um tema muito importante para Jesus. Esse foi o coração da instrução pós-ressurreição que ele deu aos seus discípulos (At 1.3). Não que isso fosse algo extraordinariamente novo. Além do mais, quando Jesus começou seu ministério, ele o fez com a simples declaração da proximidade do reino de Deus. Tal mensagem pressupôs um entendimento do reino de Deus e de sua natureza. A coisa mais surpreendente sobre isso foi que o reino estava próximo e isso exigia arrependimento imediato de Israel. Esse tema estava presente, em certo sentido, no entendimento de Israel à época de Jesus. O contexto desse entendimento, muito provavelmente encontrava-se no próprio Antigo Testamento. Lembremo-nos da visão de Daniel sobre a sucessiva derrota de reinos humanos causado por uma pedra cortada sem o auxílio de mãos e que por sua vez tornou-se um reino que permanece para sempre (Dn 2. 31-45). Outra visão de Daniel é sobre o domínio eterno dado ao Filho do Homem (Dn 7.9-14). Ambas as visões referiam-se a circunstâncias futuras em relação aos dias de Daniel. Novamente uma expectativa vibrante desenvolveu-se no Antigo Testamento de que o próprio Yahweh viria para libertar o seu povo. Jesus estava, de fato, dizendo a Israel que esse tempo havia chegado (LETHAM, 2007, p. 56). Após o estabelecimento inicial de seu ministério, Jesus faz a convocação de doze homens, os quais iriam compor o colégio apostólico, cobre-lhes de instruções diversas, mostrando a natureza desse Reino, atrai para Si inúmeros outros discípulos, prega, cura, realiza milagres, alimenta multidões, quebra grilhões de endemoniados etc. Esses exemplos são encontrados em escala abundante nos quatro Evangelhos. Contudo, seu ministério não é  duradouro. Chega o tempo de Sua partida, afinal foi para isto que veio: morrer pela humanidade! Dessa forma: [...] Na presença de Pilatos, testificou que nasceu para ser rei; explicou que seu reino não era deste mundo, isto é, não seria um reino fundado por força humana, nem seria governado de acordo com os ideais humanos (Jo 18.36). Jesus, antes de sua morte, predisse sua vinda com poder e majestade para julgar as nações (Mt 25.31) (PEARLMAN, 2006, p. 172, 173).
De maneira teológica e sistemática, Mueller destaca características do ofício régio de Jesus nas proximidades de sua morte vicária, corroborando a última citação de Pearlman: Também em seu estado de humilhação, Cristo foi verdadeiro rei, que possuía e exercia o poder divino, não apenas segundo a sua natureza divina (de modo essencial), mas também segundo a sua natureza humana (por comunicação), [...] a Escritura atribui governo a Cristo encarnado (Is 9.6); realeza (Jo 18.37); poder divino (Mt 28.18), etc. [...] Todavia, nosso Salvador não exerceu o emprego perfeito e constante do domínio divino comunicado à natureza humana até a sua exaltação à direita de Deus. (Ef 1.20-23; 4.10; Fp 2.9-11) (2004, p. 306, grifo nosso). Com efeito, depois de Sua morte e ressurreição, recebeu do Pai a soberana exaltação e coroação de honra e glória, a restauração daquela glorificação que tinha antes da existência do mundo (Jo 17.5); foi feito Senhor e Cristo (At 2.36), Príncipe e Salvador (At 5.31), Juíz dos vivos e dos mortos (At 10.42); assentou-se à direita de Deus nos céus (Ef 1.10), tudo lhe foi entregue em suas mãos (Jo 3.35) e, por último, tornou-se o detentor de todo o poder no céu e na terra (Mt 28.18), (BERGSTÉN, 1999, p. 63). Segundo Hodge (2001, p. 931), “Cristo possui o que os teólogos costumam chamar de seu reino de poder. Como Teantropo e Mediador, foi entregue em sua mão todo o poder [...]”. Outro ponto a considerar é acentuado por Berkhof  (2004, p. 375) quando diz que, “na qualidade de Segunda Pessoa da Trindade Santa, o Filho eterno, Cristo naturalmente compartilha o domínio de Deus sobre todas as Suas criaturas [...] (Sl 103.19)”. Assim, Cristo, cheio de poder e considerado como o “REI DOS REIS e SENHOR DOS SENHORES” (Ap 19.16), está preparado para implantar, literalmente, o Seu Reino. “Porém, a plenitude desse ministério Jesus mostrará quando voltar ao mundo como Rei, para restaurar tudo que os profetas têm predito (cf. At 3.21)”. De acordo com Grudem (1999, p. 527), será de fato percebida essa autoridade sobre a Igreja e também sobre todo o universo “quando Jesus voltar à terra com poder e grande glória para reinar (Mt 26.64; 2Ts 1.7-10; Ap 19.11-16)”. Na oportunidade, “todo joelho se dobrará diante dele (Fp 2.10)”. Posteriormente, virá a implantação do perfeito reino Milenial: “Quando Cristo retornar, ele punirá o diabo e seus emissários e aprisionará Satanás (Ap 19.17-21; 20.1-6), e então reinará no Monte Sião (Jerusalém)”, (GEISLER, 2010, vol. 4, p. 949, grifo nosso). Andrade reúne informações de como será o Milênio e o perfeito reinado de Cristo: O Milênio terá início após a Grande Tribulação, entende-se claramente que será na terra, de acordo com as profecias, Jerusalém será a capital do Reino (Is 2.2,3; 60.1-3; 66.20; Mq 4.8-13). Cristo reinará, na Jerusalém terrena, haverá dois tipos distintos de residentes: os salvos, ou seja, a Igreja glorificada e os povos naturais. Os salvos transformados não estarão restritos unicamente a Jerusalém terrestre, uma vez que, o seu estado é de corpo glorificado. Os judeus salvos, os gentios absorvidos no julgamento das Nações, todos os sobreviventes da Grande Tribulação, além do povo nascido durante os mil anos, também estarão no milênio. Nestes, mil anos, o mundo realmente saberá o que significa a expressão “Paraíso na Terra”. Será mantido o livre-arbítrio, ou seja, as nações que participarem do milênio terão o direito de escolher se querem adorar ao Senhor ou não, com isso, haverá rebeldes, e assim significa dizer que o pecado não será totalmente aniquilado neste período. Com este direito de escolha, conclui-se que haverá naqueles dias, salvação em massa (Is 33.6; 62.1; Zc 8.13) (2009, pp. 539-543).
Concluímos, portanto, que Cristo, no Milênio, implantará definitivamente Seu Reino, agora só percebido parcialmente. Naqueles dias, será possível serem observados critérios de governo e liderança diferentes dos atuais, porque Cristo, sendo perfeito, reinará perfeitamente. Então se cumprirá, de uma vez por todas, essa gloriosa atuação do Eterno Descendente de Davi.
Depois das considerações acima quanto à manifestação dos Ofícios em Jesus, trataremos da consolidação dessa doutrina, com o objetivo de mostrar que não se trata de algo do passado, apenas presente nos dois Testamentos, mas que se reflete também na história e nos dias atuais.

RODRIGUES, André. O Tríplice Ofício de Cristo: Profeta, Sacerdote e Rei. 2011, Editora Nossa Livraria - PE



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