terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

EVIDÊNCIAS EXTERNAS DAS EPÍSTOLAS PASTORAIS - Por André Rodrigues


Se a autenticidade fosse decidida somente em bases externas, não haveria nenhuma dúvida acerca da autoria paulina. Há traços destas cartas em Clemente de Roma e Inácio, mas nenhuma citação direta. Há várias palavras e locuções comuns às Pastorais e aos escritos de Clemente e Inácio. Os críticos que atribuem estas cartas a um paulinista do início do segundo século afirmam que o compilador tomou emprestado de Clemente! Policarpo mostra conhecimento mais aguçado das Pastorais e parece citar diretamente delas. Há alusões em Justino Mártir e Heracles, e Irineu indicou diretamente que estas foram cartas de Paulo. Pela época do final do segundo século, as Pastorais eram largamente conhecidas e aceitas como sendo de Paulo. Os traços da circulação das Pastorais na igreja antes da época de Marcião são mais claros que os que podem ser encontrados para Romanos e II Coríntios. Estas três cartas estão incluídas na lista das cartas paulinas, conforme apresentadas no Fragmento Muratoriano. Os que se opõem à autoria paulina das Pastorais em bases externas fazem isto por duas razões: 1) Elas não aparecem no cânon de Marcião; 2) elas estão ausentes do mais antigo manuscrito grego existente das cartas paulinas, o p46. Alega-se que as dez cartas paulinas contidas na lista de Marcião indicam que ele não soube da existência destas outras três. Diz-se que estas não estiveram em circulação o suficiente cedo para Marcião incluí-las em seu cânon; que elas foram escritas durante o segundo século, no grande debate contra a heresia de Marcião. Contudo, Tertuliano, em sua polêmica contra Marcião, afirmou que foi por esta razão que Marcião rejeitou três dos Evangelhos, mutilou o terceiro Evangelho, para satisfazer aos seus critérios, mutilou algumas das cartas de Paulo (principalmente Romanos) e rejeitou as cartas que conhecemos como as Pastorais. Esta seleção foi feita em bases doutrinárias, e há materiais, nestas cartas (i.e., I Tm. 1:8; 6:20; II Tm. 3:16; etc), que estão em desacordo com os conceitos básicos de Marcião. Deve ser lembrado também que os cristãos ortodoxos do segundo e terceiro séculos aceitaram estas Pastorais como genuínas. Por que deveria ser dado mais peso a uma lista de um conhecido herege do que àqueles que estão na corrente principal do cristianismo? A ausência das Pastorais (e Filemom), no p46, é também citada como prova para negar-se a autoria paulina. Contudo, se assim fosse, muito do Novo Testamento seria rejeitado também. Os papiros de Chester Beatty contem fragmentos de um códice dos Evangelhos p46, quase tudo de um códice contendo as cartas de Paulo p46 e fragmentos de outro códice do Apocalipse P47. Concluir-se que somente os livros representados nestes papiros são autênticos seria por em risco todos os que não aparecem. Igualmente, é observado que faltam, no códice existente, denominado P46, a primeira e a última páginas. Estimou-se que pelo menos sete das últimas páginas estão faltando. Pode-se ver que o copista estava começando a aglomerar suas cartas nas últimas páginas existentes, e, assim, dando a impressão de que estava tentando colocar todo o material paulino restante dentro do códice. Normalmente se tomaria nove páginas para as Pastorais e Filemom, mas com a aglomeração de cartas isto poderia ser feito em sete páginas. Deve ser também lembrado que estes papiros foram produzidos em Alexandria, e, os escritores patrísticos de Alexandria, todos reconhecem, sem dúvida, a autenticidade destas quatro cartas ausentes de Paulo. Clemente de Alexandria e seus discípulos aceitaram estas como autênticas muito antes de o P46 ter sido escrito. Portanto, rejeitar-se a autenticidade em bases externas é uma conjetura subjetiva, que deve ser abandonada por qualquer observador honesto.



BIBLIOGRAFIA


Introdução ao estudo do Novo Testamento. Hale, Broadus David. Tradução de
Cláudio Vital de Souza. Rio de Janeiro, Junta de Educação
Religiosa e Publicações, JUERP-RJ 1983.

O Novo Comentário da Bíblia. Editado e organizado pelo Prof. F. Davidson, MA, DD.
Colaboradores Rev. A. M. Stibbs, MA, DD Rev. E. F. Kevan, MTh. Editado em português pelo Rev. Dr. Russell P. Shedd, MA, BD, PhD. Edições Vida Nova-SP

Bíblia de Estudo Pentecostal. Antigo e Novo Testamento, Traduzida em português por João Ferreira de Almeida, com referências e algumas variantes. Edição Revista e Corrigida, Ed.1995, Edições CPAD-RJ 2002.

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