"Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, que perca a minha destra a sua destreza! Que se cole a minha língua ao palato, se não me lembrar sempre de ti e não mantiver a tua lembrança acima de minha maior alegria!" (Salmo 137)
Uma pequena história:
Um membro do Knesset, o Parlamento de Israel, em visita à África, pediu à telefonista do hotel instruções de como fazer uma chamada a Jerusalém. Após um momento de silêncio, a telefonista respondeu que era impossível fazer tal ligação, pois Jerusalém não era um lugar físico - mas um local espiritual, nos Céus.
Começamos este artigo com esta história, aparentemente frívola, pelo fato de indicar a percepção que as pessoas, de modo geral, têm de Jerusalém. No entender de muitos, um local tão sagrado somente poderia ser um mito - um tipo de Eldorado espiritual, a lendária Cidade de Ouro, em vão procurada, jamais encontrada. E apesar de sabermos que Jerusalém é uma localidade física sobre a Terra - pois que é a Capital Eterna do povo judeu - a diligente telefonista africana da história, bem como todos aqueles que como ela pensam, não deixam de ter certa razão, uma vez que Jerusalém também constitui um lugar espiritual, nos Céus. O Talmud nos conta de uma Jerusalém celestial que paira sobre a Jerusalém terrena. E como tudo o que é espiritual no mundo, a etérea Jerusalém afeta e é afetada por sua contraparte física. Assim falou o Eterno, Abençoado Seja: "Na Jerusalém Celestial não hei de habitar enquanto não habitar na Jerusalém terrena" (Tratado Taanit, 5a). Seguindo o mesmo raciocínio, o misticismo judaico nos ensina que quando os judeus foram expulsos de sua Terra - quando Roma antiga irrompeu com selvageria em Jerusalém, arrasando o Templo Sagrado - D'us acompanhou Seu povo ao Exílio.
Pode-se pensar que a queda de Jerusalém e a subseqüente Diáspora judaica apenas dizem respeito aos judeus - afinal, foram destruídos a sua capital e o seu Templo. Mas, na realidade, o exílio da Shechiná, a Presença Divina, impactou toda a humanidade e continua a fazê-lo. Tudo o que a nós parece errado, neste mundo, é conseqüência do exílio do Todo-Poderoso - de Sua ocultação, de nossa incapacidade de ver a bondade de Sua Providência em tudo o que nos cerca. Com o advento da Era Messiânica, quando todos os judeus retornarem à Jerusalém terrena, o mundo finalmente encontrará a sua ordem. O resultado será a utopia com a qual sempre sonhou e pela qual tanto anseia a humanidade. Há milhares de anos Jerusalém vem deslumbrando homens e mulheres; e a razão para tal, quer o saibam ou não, é o fato de ser a capital espiritual do mundo. Mesmo não tendo o poder político nem a importância financeira de outras grandes metrópoles, Jerusalém mobiliza e toca a alma do homem como lugar algum na face da Terra. Se Israel está no centro do mundo - e qualquer pessoa que acompanhe o noticiário diário certamente assim julga - seria correto afirmar que Jerusalém é o ponto central desse centro. Um antigo ditado talmúdico o confirma ao explicar que "o mundo é como um olho: o branco do olho é o oceano que o circunda; o pigmento é o próprio mundo, a pupila é Jerusalém e a face nela refletida é o Templo Sagrado" (Derech Eretz Zuta).
A Cidade Santa tem importância tão vital que se tornou um conceito e um símbolo que em muito transcendem seus próprios limites geográficos. Jerusalém significa Israel como um todo: contém dentro de si a essência da Terra Santa. Durante os vários séculos em que praticamente todo o nosso povo viveu na Diáspora, um judeu que viesse de qualquer parte da Terra de Israel era chamado de Yerushalmi. De modo semelhante, o Talmud compilado ao longo de anos em várias partes da Terra de Israel e ordenado em Tiberíades e Cesaréia foi intitulado Talmud Yerushalmi, o Talmud de Jerusalém.
Israel sem Jerusalém pode ser comparado a um corpo destituído de alma; é Jerusalém que dá vida e significado à Terra Santa. Os nomes "Jerusalém" e "Israel" são, por assim dizer, intercambiáveis: notadamente, em ocasiões específicas e especialmente no final do Seder de Pessach - a refeição festiva que celebra a libertação dos judeus - proclamamos, com fervor, "No próximo ano, em Jerusalém!", ao invés de "No próximo ano, em Israel". Durante muitas gerações, certas comunidades judaicas incluíam em todos os contratos matrimoniais a frase: "O casamento ocorrerá em Jerusalém. Se, por uma razão qualquer, a Redenção ainda não tiver chegado, as bodas serão celebradas na cidade de...". Tal costume expressava não apenas a esperança de que estivesse iminente o fim do exílio, mas evidenciava claramente que o único lugar adequado para se iniciar uma família judia e criar uma nova geração de judeus era Jerusalém. Qualquer judeu tem - ainda que disto não tenha consciência - um profundo vínculo espiritual com Jerusalém. E isto se tornou mais evidente do que de costume quando Israel se defrontou com guerras - pois, nessas situações, inúmeros judeus que nem sequer se consideravam religiosos atiraram-se, sem hesitar, à morte-certa, e entregaram suas vidas "em uma bandeja de prata", como disse o poeta, para que a Cidade Santa voltasse às mãos de nosso povo. O tema do Hino Nacional de Israel, que, infelizmente foi tão mal interpretado por muitos, decanta o anseio de um povo por poder viver como nação soberana - não mais por temer a perseguição ou o extermínio -, mas para viver soberanamente no Lar Nacional que nos pertence, a Terra de Jerusalém e de Tsión.
E o que é Tsión? Apenas um outro nome atribuído à Cidade Sagrada. O sionismo - deixando, por um momento, de lado a política - significa, literalmente, o retorno do povo judeu à Jerusalém. Afirmar que um sionista aceitaria um Estado Judeu em qualquer outro lugar que não fosse Eretz Tsión, a Terra de Jerusalém, constitui, no mínimo, um grave erro semântico.
Nosso povo sobreviveu a quase dois milênios de exílio graças à Torá e ao fato de levar Jerusalém em seu coração, onde quer que estivesse. Os judeus suportaram a opressão, as piores atrocidades, até o genocídio, pelo fato de nunca terem perdido a fé em que, um dia, eles - ou seus filhos, ao menos - haviam de retornar à nossa Capital Eterna. Nos campos de morte nazistas, mantinha-os vivos o sonho eterno de chegar a Jerusalém; levitavam em torno àquele devaneio que lhes dava a força de suportar os sofrimentos a que eram submetidos. Elie Wiesel, Prêmio Nobel da Paz, escriba e narrador vivo do Holocausto, declarou que sua geração foi a de Jó e Jerusalém. E se entendermos Jó - o personagem bíblico símbolo do sofrimento injustificado - como o representante do Holocausto e de todos os seus horrores, podemos facilmente abarcar a imensidão do simbolismo de Jerusalém. A Cidade Santa representa o oposto do Holocausto; simboliza toda a bondade e o que de Divino há sobre a Terra. E para nós, judeus, representa muito mais do que uma capital política ou mesmo espiritual. Trata-se da Cidade de D'us, que reflete, como um todo, a essência de nosso povo.
E apesar de ser fato comprovado que os judeus sobreviveram, contribuíram e até floresceram em inúmeros outros países, o mundo sempre os fez lembrar, repetidamente, que só tinham um único Lar nacional e religioso. O judaísmo fundamenta-se na Torá, que é infinita e destinada a permear o mundo todo, elevando-o espiritualmente. No entanto, muitas de suas Leis não podem ser cumpridas enquanto a grande maioria dos judeus não tenha retornado a Jerusalém e o Terceiro Templo não tenha sido erguido. Historicamente, enquanto as circunstâncias não permitiam ao povo judeu exercer sua soberania sobre Eretz Israel, a instituição do Código de Leis Judaicas, a Halachá, não podia ser completamente implementada. Quando um judeu reza, não importa o lugar, deve orar voltado em direção à Jerusalém. Seguindo a mesma idéia, a Arca Sagrada que guarda os rolos da Torá, em todas as sinagogas, é colocada na direção da Cidade Sagrada. Segundo a Cabalá, a razão para tal é que nossas preces viajam a Jerusalém, especificamente ao local onde se erguia o Templo, e de lá ascendem aos Céus. No misticismo judaico, Jerusalém simboliza a própria Presença Divina; é o ponto onde Infinito e finito se tocam; onde o "filamento de prata" da influência Divina toca toda a obra da Criação.
Para o povo judeu, outrora e hoje, Jerusalém constitui uma história de amor. O grande poeta espanhol, Yehuda HaLevy, a intitulava "a plenitude da beleza", afirmando que todas as perfeições concebíveis nela se comungavam. A prece do Rabi Shlomo Alkavetz, Lechá Dodi ("Vem, amada minha"), ponto central na liturgia de Erev Shabat, expressa nosso anelo nostálgico por Jerusalém. Essa canção de amor compara a Cidade Santa a uma noiva, ornada com finos adornos, à espera do regresso de seu amado - que não é outro, senão o Povo Judeu. Quando um de nós chega a Jerusalém, deve sentir-se chegando em casa, a seu legítimo lar, à Pátria que há muito nos aguarda. Uma alma sensível não tem como não se sentir arrebatada pela força espiritual da Cidade Santa. Muitos foram os que desmaiaram ao pisar o solo onde outrora se erguia, triunfal, o Templo Sagrado. E, ainda que seja verdade que D'us está em todas as partes, pois é Onipresente e também Onisciente, Sua Presença nos envolve quando estamos em Jerusalém como Alguém que não sai de nosso lado. Aquele que, estando nessa cidade, comete uma contravenção, não é apenas um criminoso, mas um pecador. Devemos ser especialmente cuidadosos ao estar na Cidade Santa por ser esta a Morada Divina. Devemos, portanto, tratá-la com o amor e o respeito que sua santidade acarreta. Nascer na cidade, lá viver ou simplesmente visitá-la constitui verdadeira bênção; muitos de nossos Mestres e Sábios, entre os quais Moshé Rabeinu e o Baal Shem Tov, não mereceram tamanha graça e privilégio. Daí a afirmação talmúdica: "Aqueles que nascem em Jerusalém terão uma recompensa especial, mas aqueles que a amam serão igualmente recompensados".
Destruição e renascimento
Quanto mais apreciamos o valor e o significado de Jerusalém, maior é nosso lamento em Tishá Be'Av, o dia mais triste do calendário judaico. Nessa data - o 9º dia do mês hebraico de Menachem Av - foram destruídos o primeiro e o segundo Templos Sagrados. Tishá Be'Av marca e simboliza a queda de Jerusalém e o exílio do povo judeu. Excetuando-se Yom Kipur, é o único dia no ano judaico em que a lei manda jejuar durante mais de 24 horas. Aplicam-se nesse dia as demais proibições do Dia do Perdão: ademais de jejuar, não se usam sapatos de couro, é proibido banhar-se ou untar-se com óleos e cremes, bem como está vedado o contato sexual. O nono dia de Av tem tamanha importância que o Talmud afirma que não jejuar em Tishá Be'Av é quase tão grave quanto não jejuar em Yom Kipur.
Tishá Be'Av e as três semanas que antecedem a data constituem uma época de luto para todo o povo judeu. A queda de Jerusalém foi um duro golpe para a existência de cada um de nós e toda a humanidade deveria sentir a nossa dor, pois não reinará harmonia no mundo enquanto a Cidade Santa não retornar à sua perfeição original. O dano causado a Jerusalém traz malefícios ao mundo inteiro, pois o Templo servia também para expiar os pecados de toda a humanidade - e não apenas de nosso povo. Um dos maiores sábios talmúdicos, o Rabi Yehoshua Ben Levi, afirmava que se os antigos romanos tivessem entendido a abrangência dos benefícios que auferiam do Templo, teriam-no protegido com grande zelo, ao invés de o arrasar. Em outra parte do Talmud, os Sábios declaram: "Desde o dia em que foi destruído o Templo, não houve um dia sequer sem que uma maldição caísse sobre o mundo; e a cada dia, pior é a maldição" (Tratado Sotá, 49a). Até mesmo o Todo-Poderoso, Bendito Seja, se ressente da perda de Jerusalém. O Talmud a isso se refere com linguagem metafórica: "A partir do dia em que se destruiu o Templo, cessou o riso perante D'us" (Avodá Zará, 3b).
No entanto, não é apenas durante as "três semanas de luto" que culminam em Tishá Be'Av que o povo judeu pranteia a perda de Jerusalém. A dor pela destruição de nossa Cidade e nosso Templo Sagrado marca praticamente todas as ocasiões da vida judaica, até mesmo as de maior júbilo. Segundo a Lei Judaica, toda casa recém-construída deve permanecer inacabada, ainda que seja um cantinho à toa sem tinta, pois judeu algum pode viver em um lar perfeito enquanto a Morada Divina permanece em ruínas. Nos casamentos judaicos, a cerimônia religiosa termina quando o noivo quebra, com o pé, um copo de vidro. O gesto serve para fazer lembrar aos presentes que não há felicidade completa enquanto Jerusalém não vir restaurado o seu antigo esplendor.
Desde a fundação da cidade, pelo Rei David, como capital de seu reino, Jerusalém foi o lugar mais próximo do coração de qualquer judeu. Desde que estes foram expulsos de Israel, a Terra Santa foi conquistada inúmeras vezes, sem nunca, entretanto, ter sido um país independente - e nação alguma, a não ser a Nação Judaica, fez dela a sua Capital. A Cidade Sagrada testemunhou a ascensão e queda dos impérios que a dominaram, um após o outro, enquanto pacientemente aguardava o retorno de seus filhos, seus únicos e legítimos titulares. Já o Templo Sagrado, este foi destruído em duas ocasiões: primeiro, no ano de 586 a.E.C. e, posteriormente, no ano de 70 desta era; mas seu Muro Ocidental, o Kotel sagrado, sempre permaneceu de pé, como que pressagiando o dia em que há de se tornar parte do Terceiro Templo. O Zohar, obra básica da Cabalá, ensina que a Presença Divina nunca abandonou o Muro do Templo; e foi esta a razão pela qual os romanos não conseguiram destruí-lo.
Até o dia de hoje, judeus e não judeus acorrem ao Muro, em bando, por terem fé em que, na Morada Divina - ou em qualquer parte da mesma - uma prece dificilmente ficará sem ser atendida.
Desde que foram forçados ao exílio, os judeus nunca deixaram de ansiar por Jerusalém. Dizem os Salmos que quando nós, judeus, retornarmos a Tsión, "seremos como sonhadores". Nossos sábios descreveram o fim do exílio como "o despertar de um pesadelo". E, de fato, foi apenas após o Holocausto - que foi muito mais terrível do que qualquer pesadelo jamais poderia teria sido - que milhões de judeus começaram seu retorno ao Lar. Como se sabe, um grande milagre Divino, perpetrado pelas mãos de todos os heróis judeus que deram a vida pelo nosso povo, ocorreu no ano de 1948; alguns anos mais tarde, em 1967, ocorreria outro milagre, talvez ainda mais significativo. Elie Wiesel, testemunha ocular do mesmo, descreve-o da seguinte forma:
"O combate ainda perdurava em várias frentes... mas isso não impediu que as pessoas, num êxtase místico, acorressem em direção à Cidade Velha, que estivera inacessível a todos os judeus durante o domínio jordaniano... sobreviventes de todo tipo de inferno, rostos de todo tipo de destino - vi-os correndo, ofegantes, voando quase... correndo para tocar o Muro. E lá chegando, incrédulos e estupefatos, como crianças que temem o despertar por não querer o fim do sonho, detêm-se, de súbito. Eis que se ouve um choro convulsivo, preces sendo entoadas, enquanto outros dançam, dando vazão à emoção. O país inteiro dançou. A história judaica dançou. Explodindo de júbilo e gratidão pelo privilégio de testemunhar aquele momento, pensei: "É isto, Jerusalém, o lugar que atrai e irmana todos os judeus, a verdadeira cidade da saudade e promessa eternas".
Jerusalém, tantas vezes conquistada; dividida em 1948; finalmente reunificada em 1967. E unificada permanecerá para sempre, pois se há algo que congregue todos os judeus, este algo é o seu amor por Jerusalém. Nos debates sobre a Cidade Santa, não se faz necessário citar nossos líderes religiosos, nem tampouco os partidos israelenses de centro ou de direita. Basta ouvir as vozes dos mais pacifistas, em suas opiniões políticas, e liberais, em sua observância da religião, pois as mesmas revelam o consenso de que Israel não pode existir sem a Cidade Santa. O ex-Primeiro Ministro Shimon Peres declarou, certa vez, que "não há lugar nem lógica em capitais divididas. Tal divisão seria um convite ao terrível fantasma do conflito renovado. E Jerusalém foi destruída mais vezes do que reconstruída. E agora, por fim, foi reunificada e reconstruída". Eric Yoffie, rabino e presidente do movimento reformista judaico norte-americano, disse, em um artigo, que "os laços que vinculam o povo judeu a Jerusalém constituem a pedra de toque da civilização judaica. Na ausência de Jerusalém, desaparecem a fé judaica e o futuro do judaísmo".
E não são apenas os judeus os que entendem o milagre - e as implicações espirituais - do retorno do povo judeu à Terra de Israel. Em todo o mundo, milhões de cristãos apóiam ardentemente Israel, por entenderem que esse país é a chave para a redenção da humanidade toda. O Arcebispo de Viena, Cardeal Christoph Schönborn, declarou recentemente: "Uma única vez na história humana D'us escolheu um país como legado e o ofertou a Seu povo escolhido". O Cardeal declarou, também, que no que dizia respeito ao recém-falecido João Paulo II e ao Vaticano, a obrigação que recaía sobre os judeus de viverem na Terra de Israel continuava válida até os dias de hoje. Um tal apoio ao direito do povo judeu sobre a Terra Santa e sobre a Cidade Santa é expresso de maneira ainda mais contundente pelos evangélicos - especialmente no Brasil e nos Estados Unidos. O fundador da Coalizão Cristã, Dr. Pat Robertson, um dos líderes religiosos mais influentes dos Estados Unidos, assim se manifestou: "Foi apenas após 1967 e a Guerra dos Seis Dias que o Estado de Israel voltou a se apossar de Jerusalém Oriental. Para os evangélicos, tal momento teve grande significado. E, em nossa opinião, abrir mão dessa parte da cidade de Jerusalém seria uma profanação inimaginável - em outras palavras, seria a ruptura de uma profecia solene que sói ocorrer em nossos dias".
É verdade que a Cidade Santa ainda não viu restaurada a sua antiga glória. O renascimento de Jerusalém e o retorno do povo judeu não podem e não estarão completos enquanto não forem acompanhados por uma mudança no mundo todo. Apenas uma redenção que leve o mundo a um nível existencial mais elevado e mais santificado poderá ser considerada reparação plena pela Destruição e pelo sofrimento de dois mil anos de exílio. Com o advento da Era Messiânica, ensinam nossos sábios, Jerusalém expandir-se-á e cobrirá toda a Terra; em outras palavras, sua santidade se espalhará pelo mundo inteiro.
O nome Jerusalém tem inúmeros significados, entre os quais "Cidade da Paz". A paz, no entanto, ainda não reina em Jerusalém. Continuamos a guardar o dia de Tisha Be'Av, apesar do milagre de 1967, porque esperamos que se cumpram as muitas Promessas Divinas: que o Templo Sagrado seja restaurado, que todos os judeus sejam levados para seu verdadeiro Lar e que advenham a paz, a prosperidade e o fim de todo o sofrimento - não apenas na Cidade da Paz, mas no mundo todo.
Ao comentar sobre um versículo da Torá que descreve os exílios de Jerusalém - "Às margens dos rios da Babilônia, nos sentávamos e chorávamos, lembrando de Tsión" (Salmo 137:1) - o profeta Jeremias teria retrucado: 'Se vocês tivessem chorado de arrependimento, em Jerusalém, apenas durante uma hora, não estaríamos, hoje, pranteando a sua destruição". Não foi durante uma hora, mas durante dois mil anos que os judeus choraram por Jerusalém. No entanto, até mesmo em nossos momentos mais difíceis, lembramo-nos da promessa de nossos Sábios e Profetas, de que todo aquele que pranteia por Jerusalém irá, um dia, rejubilar-se com sua glória. Segundo uma tradição, a redenção Messiânica ocorrerá exatamente em Tisha Be'Av, transformando o dia mais nefasto na história do judaísmo no dia mais festivo de nosso calendário. O Talmud, quando descreve os eventos do dia terrível em que o Segundo Templo foi destruído, narra a seguinte história mística. Quando os exércitos romanos, liderados pelo malévolo general Tito, preparavam-se para arrasar o Templo, quatro anjos desceram dos Céus e o incendiaram, como que a demonstrar que o inimigo não tinha poderes para destruir a Morada Divina. Alguns jovens Cohanim, sacerdotes, escaparam do santuário em chamas e, subindo aos telhados, dirigiram-se ao Mestre do Universo. "Não fomos capazes de salvaguardar a Sua Morada", disseram, "assim sendo, às Suas mãos devolvemos as chaves do Templo". Lançaram as chaves em direção ao Firmamento, quando surge uma mão em fogo que as resgata e guarda para Si.
Se a Redenção Messiânica não ocorrer até o próximo Tisha Be'Av, neste dia de luto, como em anos anteriores, sentaremos no chão, em jejum absoluto, e recitaremos as Lamentações de Jeremias. E rezaremos pela chegada do dia - e que este dia chegue muito em breve - no qual D'us fará voltarem as chaves do Templo Sagrado - de Sua Morada - às nossas mãos.
Traduzido por Lilia Wachsmann
Bibliografia:
Steinsaltz, Rabbi Adin (Even Israel),The Strife of the Spirit , ed. Jason Aronson Peres, Shimon, City Without Walls ,artigo publicado na revista Olam Magazine - www.olam.org
Steinsaltz, Rabbi Adin, G-d's Return , artigo publicado na revista Olam Magazine - www.olam.org
Wiesel, Elie, Keys of Heaven, artigo publicado na revista Olam Magazine - www.olam.org
Robertson, Pat, A Prayer for Jerusalem, artigo publicado na revista Olam Magazine - www.olam.org
Yoffie, Eric, Tale of two cities , artigo publicado na revista Olam Magazine - www.olam.org
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