quinta-feira, 7 de setembro de 2017

A CONSOLIDAÇÃO DA DOUTRINA DOS OFÍCIOS - Por André Rodrigues



A Doutrina do Tríplice Ofício de Cristo é peculiar. Ela pode ser encontrada nos diversos estágios teológicos: em toda a Escritura, principalmente nos teóricos da Reforma Protestante, bem como nos dias hodiernos.   

Consolidação da doutrina dos ofícios em ambos os Testamentos    


Como foi possível observar, os ofícios estabelecidos por Deus, no pacto passado,
com extensão tipológica para o pacto futuro, foram desenvolvidos para a manutenção da ordem, tanto para a nação de Israel como para a Igreja[1], no plano secundário. Esses ofícios, no Antigo Testamento, eram distintos[2], e apenas em raros casos há ocorrência da “união[3] deles na mesma pessoa sob a teocracia, como é o caso de Moisés, que foi, ao mesmo tempo, sacerdote e profeta, e Davi, que foi profeta e rei”, (HODGE, 2001, p. 825). Quanto a sua consolidação na pessoa de Cristo, o autor ainda declara:

No Velho Testamento, os vários ofícios eram distintos. [...] O Messias, durante a teocracia e no uso de linguagem tal como então se entendia, foi predito como profeta, sacerdote e rei. Moisés falando de Cristo, disse: “O Senhor, teu Deus, te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim”. Foi sobejamente ensinado que um verdadeiro libertador iria exercer todos os deveres de um profeta como revelador da vontade de Deus. Iria ser um grande mestre de justiça; luz para alumiar os gentios, bem como glória de seu povo Israel. E não menos clara e amiúde se declarava que ele seria sacerdote. “Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque”; e deveria ser um sacerdote em seu trono (Sl 110.4; Zc 6.13). Deveria levar os pecados do povo e fazer intercessão pelos transgressores. Seu ofício régio é apresentado de maneira tão proeminente nas profecias messiânicas que os judeus o esperavam só na qualidade de rei. Ele reinaria sobre todas as nações. Seu reino não teria fim. Seria Senhor dos senhores e Rei dos reis (IBIDEM).

É consideravelmente possível afirmarmos uma estreita conexão entre o Messias,
aquele que é o Ungido, e o fato de que todos os profetas (1Rs 19.16, Is 61.11), sacerdotes (Êx 30.30; 40.13) e reis (1Sm 10.1; 15.1; 1Rs 19.15,16) somente iniciavam seu ministério após serem ungidos (RYRIE, 2004, p. 291). Dessa forma, clareia-se a ideia de que, no Antigo Testamento, esses ofícios eram literalmente aplicados e, em escala superior, refletiam, em tipo, o que seria perfeitamente desempenhado por Jesus. 
No Novo Testamento, essa consolidação deu-se, é claro, em Jesus. Ele é o Cristo, o Ungido. É fácil entendermos, pela compreensão do significado das palavras Mesiha (aramaico), Masiah (hebraico), Christós (grego) e Chistus (Latim, derivado do grego)[4] (COENEN; BROWN, 2000, p. 1079), que Ele recebeu uma unção diferente, a qual, por sua vez, agrega Nele o tríplice ofício: como Profeta, revelar-nos Deus e nos transmitir Sua palavra; como Sacerdote, oferecer-se a Deus como sacrifício em nosso favor; e como Rei, governar tanto a Igreja como o próprio universo (GRUDEM, 1999, p. 523, grifo nosso).
Ratificando essa citação, outro autor destaca:
No Novo Testamento, o Redentor, ao assumir o ofício de Messias prometido, apresentou-se ao povo como seu profeta, sacerdote e rei; e os que os receberam, receberam-no em todos esses ofícios. Ele aplicou a si mesmo todas as profecias referentes ao Messias. Referiu-se a Moisés, predizendo o Messias como profeta; a Davi, estabelecendo-o como sacerdote; e às profecias de Daniel, concernentes ao Reino que ele veio estabelecer. Os apóstolos o receberam como o mestre enviado por Deus para revelar o plano de salvação e para desenvolver o destino futuro da Igreja. No primeiro capítulo da Epístola aos Hebreus, lemos: “Havendo Deus outrora falado muitas vezes, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo”. Nessa Epístola, o sacerdócio de Cristo é apresentado de maneira elaborada. [...] De igual modo, o Novo Testamento está cheio de instrução concernente às bases, natureza, extensão, e duração de seu reino. Ele é constantemente designado como senhor, como nosso dono e soberano absoluto. Nada, pois, pode ser mais claro do que o fato de que os profetas do Velho Testamento predisseram que o Messias seria profeta, sacerdote e rei, de sorte que o Novo Testamento descreve o Senhor Jesus mantendo todos esses ofícios (HODGE, 2001, p. 826).
Portanto, é provada a consolidação desses ofícios na pessoa de Jesus. No Antigo Testamento, através dos tipos referentes a Ele; no Novo, através de Seu ministério e da aplicação do adjetivo Cristo a Sua pessoa. Como foi observado em outro lugar, Ele é o Ungido por excelência, nosso Profeta, Sacerdote e Rei. 

Artigo extraído de: RODRIGUES, André. O Tríplice Ofício de Cristo: Profeta, Sacerdote e Rei. 2011, Editora Nossa Livraria - PE

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[1] Neste sentido, a concentração desses ofícios distintos em Jesus.     

[2] Hodge (2001, p. 825) explica: “O profeta, como tal, não era sacerdote; e o rei não era nem sacerdote nem rei”. 

[3] No tocante a união destes ofícios numa só pessoa, Soares (2008, p. 172, 173) afirma que a família dos Macabeus e os papas da Idade Média atreveram-se a acumular os ofícios de rei e sacerdote. Aristóbulo I, filho de Hircano, descendente de Matatias, sacerdote da linhagem de Jeoiaribe (I Cr 24.7), foi o primeiro a usar o título “Rei dos Judeus”, segundo Josefo. Porém, seu reinado não durou muito, pois foi substituído por seu irmão Alexandre Janeu. Depois deles, alguns papas na Idade Média esforçaram-se para ter o domínio do poder espiritual e temporário, entre eles Gregório VII (1073-1085) e Inocêncio III (1198-1216). Todos reivindicaram indevidamente essa posição, que é exclusiva de Jesus (Ap. 19.11-13). 
[4] Todas essas palavras significam, respectivamente, Messias, Cristo e Ungido, e definem alguém como Ungido por Excelência, Jesus. 

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