terça-feira, 24 de julho de 2018

A CONSOLIDAÇÃO DA DOUTRINA DOS OFÍCIOS (NOS DIAS HODIERNOS) - Por André Rodrigues


Nessa expectativa final, é importante dizermos que a doutrina do Tríplice Ofício
de Cristo está presente entre os teólogos hodiernos[1]. Entretanto, ela é transmitida de maneira superficial[2], com sua importância menosprezada. No início, parecem ser unânimes no desenvolvimento introdutório do assunto, com poucas exceções. Berkhof e Hodge são semelhantes; Strong e Grudem parecem correlatos; Soares e Mueller partem do mesmo pressuposto: o destaque do múnus tríplex
Quanto à doutrina, Strong diz:
As Escrituras representam os ofícios de Cristo em número de três: profético, sacerdotal e real. Apesar de que estes termos derivam de relações humanas concretas, expressam idéias perfeitamente distintas. O profeta, o sacerdote e o rei do V.T., diferenciavam-se, mas designavam prefigurações daquele que devia combinar todas as variadas atividades em si mesmo, e forneceria a realidade ideal, da qual eram símbolos imperfeitos. (2003, p. 370).

Soares denomina essa doutrina de “O Munus Triplex”. Assevera que se trata da
doutrina dos três ofícios de Cristo: Profeta, Sacerdote e Rei (2008, p. 97, grifo do autor). 
Ainda outros, referem-se a ela da mesma maneira.
Grudem diz-nos:  
Os três cargos mais importantes que poderiam existir para o povo de Israel no Antigo Testamento eram: o profeta (como Natã, 2Sm 7.2), o sacerdote (como Abiatar, ISm 30.7) e o rei (como Davi, 2Sm 5.3). esses três ofícios eram distintos. Os profetas falavam as palavras de Deus ao povo; o sacerdote oferecia sacrifícios, orações e louvores a Deus em favor do povo; e o rei governava o povo como representante de Deus. Esses três ofícios prefiguravam a própria obra de Cristo de várias maneiras (1999, p. 523, grifos do autor).
Pertence a Mueller a declaração abaixo:

A encarnação do Filho de Deus realizou-se para que se pudesse cumprir a obra da redenção determinada por Deus desde a antiguidade (Jo 17.4; 3.16; Mt 18.11; Lc 19.10; I Tm 1.15). A Confissão de Ausburgo[3] declara (Art. III): “O Verbo, isto é, o Filho de Deus se fez ser humano, nascido da bemaventurada virgem Maria [...] para ser a oblação não só pela culpa original, mas, ao mesmo tempo por todos os demais pecados e assim nos reconciliar com o Pai”. Logo, tudo o que Cristo fez, no seu estado de humilhação como homem-Deus[4] (Lc 1.30,31; Mt 1,21,25; Lc 2.21), e o que ainda faz como tal, em seu estado de exaltação, pertence ao seu divino ofício ou obra. [...] Daí falarmos de um tríplice ofício de Cristo: a) o profético (munus propheticum), b) o sacerdotal (munus sacerdotales) e c) o real (múnus regium) O Messias foi, já no Antigo Testamento, descrito como divino Profeta, Sacerdote e Rei. Apesar de que os três ofícios jamais estiveram divididos ou separados em Cristo, perseveraremos nessa classificação que acabamos de fazer (múnus tríplex) para fins de maior clareza na apresentação da obra de Cristo (MUELLER, 2004, p. 295, 296, grifos do autor).     
 
Não se faz necessário expormos um a um de forma pormenorizada, pois isso seria
por demais repetitivo. O importante é mostrar que a doutrina do Tríplice Ofício de Cristo está também presente na teologia de nossos dias. 
Sem a exposição dessa doutrina acima, seria difícil compreendermos os ditames
estabelecidos por Deus, visto que ela tem plena conexão com o conhecimento que possuímos da Palavra de Deus (profeta), da obra salvívica de Jesus (sacerdote) e de nosso futuro regido com perfeição eterna (rei).  

CONCLUSÃO

A pesquisa científica é algo deslumbrante. Mostra-nos detalhes minuciosos que, às vezes, por falta de concentração de nossa parte, passam despercebidos aos nossos olhos.  Neste trabalho, procuramos mostrar que a Doutrina do Tríplice Ofício de Cristo é particular e bem viva, com aspectos comuns a todas as outras doutrinas relacionadas à Cristologia. Houve, inicialmente, a necessidade de desenvolvermos argumentações quanto à definição e abrangência do termo “Cristo”: seu significado etimológico e sua aplicação nos idiomas que seguem os escritos canônicos. A partir disso, encadeamos uma passagem pela tipologia, adentrando nas questões referentes à unção no Antigo Testamento: Como era a concentração das pessoas naqueles dias de expectativas messiânicas? Como estava o Concerto com Deus? Enfim, um resumo das informações iniciais necessárias para a discussão mais abrangente do tema.   

Após esta análise primária, começamos a desenvolver o tema dos três Ofícios em Cristo. Mas, primeiro, fizemos um levantamento prévio, em cada seção, discorrendo sobre interessantes questões, para tornar possível nosso estudo. Na primeira seção, por exemplo, ao tratarmos de profetas, inserimos uma aplicação direta do termo, mostramos quem eram, as configurações existentes, sua constituição no contexto bíblico. Só depois disso, trouxemos questões referentes ao Senhor Jesus como Profeta. De igual modo, na seção acerca dos sacerdotes, discorremos acerca das características daquela instituição; como se comportavam; falamos um pouco sobre o personagem misterioso Melquisedeque; e, por fim, apresentamos Cristo como cumprimento daquele tipo. Por último, procuramos esclarecer as particularidades das nações relacionadas ao ambiente veterotestamentário; a conturbada criação da monarquia na nação judaica; comentamos também sobre Davi, um dos maiores homens do Concerto passado, de cuja descendência veio o Rei Jesus.  

Na última parte de nossa pesquisa, tivemos a preocupação de apontar evidências
da relevância do assunto em questão. Para isso, nomeamos essa parte de “doutrina consolidada” e a organizamos em três rápidas divisões, nas quais mostramos sua consolidação em ambos os Testamentos, na história e em nossos dias.  

Nossa intenção foi chamar a atenção para a real importância do tema em
apreciação. Teóricos de Teologia Sistemática deveriam, como falamos desde o início, se empenhar por uma maior abordagem deste assunto nos seus escritos, pois ele nos traz ricos e profundos conhecimentos teológicos.  

Com toda a certeza, os momentos empenhados no trabalho de pesquisa, nos traz
alegria inefável, haja a vista, as descobertas que se realizam com tal experiência. Aqui, descobrimos, não só que Tríplice Ofício, é como tratamos no capítulo três, uma doutrina consolidada, como também, que se dispõe a resolver a questão mensurável da exposição de como nosso Senhor Jesus, desempenhou no seu ministério terreno tais ofícios. E nos foi possível na pesquisa sistematizá-los. 

Um problema a ser resolvido também é que para muitos, que poderíamos até citá-
los: judeus, árabes, mulçumanos e orientais de maneira geral, Jesus não passa de mais um grande personagem, registrados na história geral, junto a Abraão, Moisés, Maomé, Confúcio, Sidarta Gautama dentre outros. Entretanto, temos conhecido que Ele veio trazer a revelação especial de Deus para a humanidade, atuando nestes ofícios para que entendêssemos seu real sentido de passagem por aqui. Em primeiro lugar como Profeta, prometido e cumprido, anunciou as boas novas de salvação, que é o Evangelho da Verdade; Segundo, como Sacerdote, tornou-se sacrifício em favor da humanidade, mostrando assim, seu imenso amor pelos pecadores destituídos; e por último, no aspecto de Rei, intervêm incessantemente para com os santos que estão inseridos no contexto na qual veio estabelecer, que é a Igreja. Nunca, nenhum destes nomes supracitados, e os milhares que como os três últimos, se comportam como “caminhos de salvação”, tiveram ou terá atuações semelhantes à de Jesus, porque todos estes, quando revelados como tal, são farsa, ante o Verdadeiro Filho de Deus, revelado nas Sagradas Escrituras.  

Esta discussão, na esfera apologética, poderia até se estender na defesa de que tais
tradições gozam de sagrados livros e estórias mirabolantes, contudo, vale salientar, que seria inútil, comparadas a inerrância e infalibilidade das Escrituras vetero e neotestamentárias. Com isso, o testemunho bíblico, está acima de qualquer outra coisa que venha se colocar em igualdades no quesito de autoridade. Jesus atuou e é o único e verdadeiro Profeta, Sacerdote e Rei. 


Artigo extraído de: RODRIGUES, André. O Tríplice Ofício de Cristo: Profeta, Sacerdote e Rei. 2011, Editora Nossa Livraria - PE

Disponível para venda em formato E-book no Amazon: 


[1] Esequias Soares; Ciro Sanches Zibordi; Myer Pearlman; Eurico Bergstén; Oscar Cullman; e os reformados Wayne Grudem; Louis Berkhof; Charles Hodge; Robert Letham; Augusto Hopkins Strong; dentre outros. 

[2] Raro, um ou outro destes supracitados alonga-se em determinado ofício. Strong, por exemplo, se detém com brevidade acerca do ofício sacerdotal em detrimento dos outros (2003, p. 370ss).

[3] Andrade (2007, p. 109), afirma ser a declaração básica da fé luterana. Redigida por Felipe Melanchthon, foi apresentada à Dieta de Augusburg em 1530. Melanchton (1497-1560) foi um dos mais diretos colaboradores de Martinho Lutero (ANDRADE, 2007, p. 398). 

[4] Do gr. tard. Theántropos (AURÉLIO).